quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A hagiografia de Serra

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A hagiografia de Serra

por Evaldo Novelini, no
Alfarrábios


Faz três meses, mas todo mundo ainda se lembra.

Ao traçar um perfil da ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), chamado de "investigação", a revista piauí descobriu que a virtual candidata do PT à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não era mestre em teoria econômica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), conforme constava no sítio eletrônico do governo.

Escândalo. Jornais, revistas e portais passaram a repercutir a informação, reforçando a pecha de "mentirosa" desde sempre associada a Dilma.

Eis que chega outubro e, com ele, mais uma edição da piauí. O retratado da vez, agora na forma de "reportagem", é o governador paulista José Serra (PSDB), o preferido de nove e meio entre dez patrões da mídia tupiniquim para substituir Lula no Palácio do Planalto a partir de 2011.

O que se vê nas dez páginas da matéria é uma espécie de ode ao tucano.

Uma hagiografia. Temas incômodos ao governador, como sua relação conflitante com o antecessor Geraldo Alckmin (PSDB), simplesmente foram suprimidos do texto final - a pedido do próprio Serra, como confessa candidamente a autora da reportagem.

A dissimulação no agir, recentemente denunciada pelo vereador paulistano Gabriel Chalita (PSB), e o uso do aparato do poder, como a Polícia Federal, para perseguir inimigos, só aparecem no texto na forma de defesa das virtudes do homem que parece predestinado a comandar o Brasil, em declarações de um amigo próximo.

"Tem duas coisas que tiram o Serra do sério: falar que foi ele que inventou a candidatura da Marina Silva para desestabilizar a da Dilma, e que foi ele o responsável pela investigação no escritório de Roseana Sarney, em 2002, quando a PF achou aquela montanha de dinheiro", defende, em aparte, o oncologista fluminense Jacob Kligerman.

Os pontos negativos de Serra, segundo a leitura de "Serra na hora da decisão"? Estressado e implicante. Além de ter uma aversão a alho e de limpar as mãos com álcool em gel compulsivamente.

O mais interessante, no entanto, é que a repórter de piauí descobriu que, assim como Dilma afirmava ser mestra sem concluir o curso, Serra também não é economista como faz crer.

Ao menos não titulado por uma universidade. A confirmação do que o jornalista Paulo Henrique Amorim vem sustentanto faz tempo em seu Conversa Afiada foi feita pelo professor da Unicamp João Manuel Cardoso de Mello: "O Serra não terminou a graduação, e daí?"

Daí que a revista e os observadores da cena política com espaço nos jornalões poderiam repetir o discurso empregado na época em que Dilma foi desmascarada.

Mas não. Parecem ter vestido a carapuça diante do sermão aplicado por Mello, que classificou a discussão de "baboseira", "coisa pequena", "detalhezinho", "mesquinharia" e "discussãozinha de classe média".

Mesmo assim, o perfil de Serra também começa a repercutir na chamada grande imprensa.

Fernando de Barros e Silva, colunista estrelado da Folha de S. Paulo, publica hoje em seu espaço na página dois do maior jornal do Brasil um dos primeiros comentários sobre o texto da piauí.

O singelo título, "Serra de mãos limpas", já dá uma ideia de como a revista colaborou para enriquecer o debate acerca das eleições presidenciais que se avizinham.

Ah, sim, piauí lembra que Serra "se dá muito bem com os patrões da grande imprensa":

- A identidade política dos grandes jornais e revistas é muito maior com ele do que com Lula, Dilma Rousseff e Marina Silva. (...) Tudo isso se reflete no noticiário.

Bem analisado, o trecho não deixa de ser uma confissão dos limites do jornalismo atual.

Fonte: Alfarrábios


http://humbertocapellari.files.wordpress.com/2009/09/serra_fuzil_belga_brasil_322_465.jpg
"Vou ser presidente. No jeitinho ou na marra!"

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