sexta-feira, 23 de outubro de 2009

EUA: Pilhando a economia

::

http://lacomunidad.elpais.com/blogfiles/tuttifrutti/papel-ricos2.jpg


Da deslocalização de empregos ao salvamento de banqueiros

Os ricos saquearam a economia

por Paul Craig Roberts [*], no Counterpunch


A agência Bloomberg acusou os assessores mais próximos do secretário do Tesouro Timothy Geithner de terem recebido milhões de dólares por ano, trabalhando para o Goldman Sachs, para o Citygroup e para outras empresas da Wall Street. A Bloomberg acrescenta ainda que nenhum destes assessores tinha sido aprovado pelo Senado. Porém, são eles que supervisionam a transferência de centenas de bilhões de dólares de fundos dos contribuintes para os seus antigos patrões.

Esta dádiva de bilhões de dólares dos contribuintes deu aos bancos uma abundância de capital a baixo custo que fez disparar os seus lucros, enquanto os contribuintes que forneceram o capital ficaram desempregados e sem casa.

O JP Morgan Chase anunciou que no terceiro trimestre deste ano lucrou 3,6 bilhões de dólares.

O Goldman Sachs ganhou tanto dinheiro durante este ano de crise económica que já pensa em dar polpudos bonus. O jornal londrino Evening Standard informou que os “5 500 funcionários em Londres podem esperar uma média recorde de pagamentos de cerca de 500 mil libras cada (800 mil dólares). Os principais administradores receberão bonus no valor de vários milhões de libras cada, sendo 10 milhões de libras o valor mais alto (16 milhões de dólares)".

Na eventualidade de os banksters (banqueiros+gangsters) não conseguirem pensar numa forma de aproveitar esta abundância, o Financial Times disponibiliza uma nova revista intitulada – “Como gastá-la”.

Os comerciantes de Nova York rezam para que lhes chegue algum desse dinheiro, agora que enfrentam uma queda de 15,3% na ocupação dos hotéis da Quinta Avenida. O perito em estatística John Williams (shadowstats.com) afirma que a venda varejista ajustada à inflação caiu para o nível de há dez anos: “Os últimos 10 anos de crescimento real do comércio varejista foram praticamente anulados nesta depressão que ainda vigora”.

Entretanto, o número de ocupantes dos abrigos da cidade de Nova York atingiu um recorde de 39 mil, sendo que 16 mil são crianças.

A administração da cidade de Nova York ficou tão afetada que paga 90 dólares por noite no aluguel de apartamentos novos para os sem-abrigo. Em desespero, as autoridades oferecem bilhetes de avião só de ida aos sem-abrigo que queiram abandonar a cidade enquanto cobram taxas dos residentes destes abrigos que têm emprego. Uma mãe solteira que ganhe 800 dólares por mês paga 336 dólares.

O desemprego prolongado tornou-se um sério problema em todo o país, fazendo duplicar a taxa de desemprego oficial de 10 para 20%. Atualmente, o salário-desemprego prolongado está acabando para centenas de milhares de norte-americanos. A elevada taxa de desemprego fez de 2009 um ano excepcional para o ingresso no exército.

Um número recorde de norte-americanos, mais de um em nove, sobrevive graças ao programa governamental de ajuda alimentar “Food Stamps”. A inadimplência relacionada a hipotecas aumenta à medida que os preços do mercado imobiliário caem. Na opinião de Jay Brinkmann, da Mortgage Bankers Association, a perda de emprego alastrou o problema dos empréstimos bancários de alto risco aos empréstimos de taxa fixa. Na feira popular do condado de Wise na Virgínia, duas mil pessoas fizeram fila para obter cuidados de saúde gratuitos.

Enquanto os Estados Unidos aceleram planos para novas bombas-detonadores de abrigos subterrâneos e o presidente Obama se prepara para mandar mais 45 mil soldados ao Afeganistão, 44 789 americanos morrem todo ano por falta de atendimento médico. Soldados da guarda nacional preferem enfrentar o talibã do que a economia nacional.

Não é de admirar. Face aos piores níveis de desemprego desde a Grande Depressão, as companhias norte-americanas continuam a exportar empregos e a substituir os seus funcionários nos EUA por imigrantes mal pagos que têm vistos para trabalhar.

A exportação de empregos, o salvamento de banksters ricos e os déficits devidos à guerra estão destruindo o valor do dólar. O dólar norte-americano tem perde valor rapidamente desde a última primavera. A moeda da superpotência hegemonica perdeu 14% em relação ao pula da Botsuana, 22% em relação ao real e 11% em relação ao rublo. Assim que o dólar perder o seu estatuto de divisa de reserva, os EUA serão incapazes de liquidar as suas importações ou financiar os déficits do seu orçamento governamental.

A deslocalização da produção fez com que os norte-americanos se tornassem excessivamente dependentes das importações e a perda de poder de compra do dólar irá comprometer ainda mais os rendimentos dos EUA. Uma vez que o Federal Reserve se vê forçado a monetizar a questão das dívidas do Tesouro, a inflação interna irá irromper. À exceção dos banksters e dos diretores gerais das companhias deslocalizadas para o estrangeiro, não existe uma fonte de procura do consumidor que estimule a economia dos EUA.

O sistema político é insensível para com o povo norte-americano. O sistema é exclusivo de alguns grupos de interesse poderosos que controlam as contribuições para campanhas [eleitorais]. Os grupos de interesse têm exercido o seu poder no sentido de monopolizar a economia para benefício próprio. O povo norte-americano está condenado.

[*] Ex-secretário assistente do Tesouro na administração Reagan, co-autor de The Tyranny of Good Intentions.

Traduzido por Ernesto Correia para o português de Portugal e adaptado pelo Viomundo.


Fonte: Vi o Mundo / Counterpunch (em inglês)/ Resistir.Info

::

Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: