sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Estadão: a arte de ser conduzido

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por Luis Nassif


O governador José Serra tem seu passado de grande homem público, economista influente, intelectual sólido. E de ampla indecisão, ainda mais em temas que exijam definições políticas.

A indecisão deixou o campo aberto para os novos ideólogos da oposição: a Mídia, isso, o Kamel, Otavinho, o Civita com toda aquela sofisticação política e analítica já conhecida. E o Estadão correndo atrás.

Aí eles descobrem a grande sacada: a menção de Lula a Judas e ao papel da imprensa. Manipula-se a declaração de Lula, para servir de bandeira oposicionista. Eureka! Genial! Descoberta a pedra filosofal a orientar daqui para frente a oposição. A ordem unida ecoa por todos os cantos. Ouve-se CNBB aqui, deputados ali, Fenaj acolá, repercutamos, repercutamos.

E o Serra – que pode ter muitos defeitos, mas morre de medo do ridículo – é obrigado a ir atrás.

Daí o Estadão – que vive correndo atrás do eixo Veja-Globo-Folha invertendo a frase símbolo de São Paulo (não conduzo, sou conduzido)-, chega resfolegante para a repercussão, cerca Serra daqui, cerca dali e arranca uma declaração bombástica:

‘A entrevista mostra bem o que é o Lula. De ponta a ponta, na forma e no conteúdo’, disse o governador de SP

Bela frase, que não quer dizer absolutamente nada.

Aí o repórter insiste sobre o tema Judas:

Questionado se concordava que uma aliança entre Jesus e Judas seria necessária para 2010, Serra respondeu: “Não sei. Quem fala com Cristo pode perguntar a ele”.

Ou seja, para uma pergunta tola, uma resposta que não quer dizer nada.

Não falou nada, nada disse. Mas o Estadão solta a manchete exultante:

Serra ironiza presidente Lula sobre aliança entre Jesus e Judas

Por Jotavê:

De um ponto de vista discursivo, a situação está insustentável. O Josias claramente baixou a guarda, apesar de ter mantido o tom moralizante (ou talvez exatamente em função dos limites que esse tom impõe a quem o adota). O editorial da Folha tenta equilibrar-se em distinções bizantinas – insinua que FHC era “pragmático”, ao passo que Lula é “conivente”. Como dizia minha tia: “hã hã…” O editorial do Estadão critica Lula por não ter dado nenhum passo no sentido de fazer a reforma política, esquecendo-se que a tal reforma depende exatamente dos votos no Congresso que obrigam o governo Lula (como obrigaram o de Fernando Henrique) a entregar parte do Estado brasileiro à pilhagem do PMDB. Os mais virulentos foram se refugiar na teologia, em busca de uma tábua de salvação. Por trás da retórica espalhafatosa, fica nítida a falta de opções argumentativas minimamente viáveis. Para amanhã, Dora Kramer promete um castelo de areia de própria lavra. Se ela, por qualquer motivo, não puder escrever seu arrazoado, o leitor não perderá coisa alguma. A previsibilidade é total. Roberto da Matta concorda e não concorda, mas, por via das dúvidas, não diz, nem desdiz. Para não dizerem que não disse o que deveria ser dito, aproveita para xingar Lula de ignorante.

Que ninguém se iluda com a verborragia dominante. Game over. A fonte secou.

Fonte: Luis Nassif Online

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