sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Carta aberta a Obama: 'O Afeganistão será seu Vietnã?'

::

Carta aberta a Obama: 'O Afeganistão será seu Vietnã?'


"Presidente Obama, está mais do que na hora de uma ação decisiva que acabe com estas ocupações. Quanto mais você vai pedir que o povo americano suporte no Afeganistão, em dor, sofrimento e sacrifícios?" A mensagem ao chefe da Casa Branca é de Camillo Mac Bica, professor PhD de filosofia na School of Visual Arts, em Nova York, veterano da Guerra do Vietnã e militante antibelicista. Confira a íntegra.


http://www.thepeoplesvoice.org/TPV3/media/blogs/blog/16/PAK_Kunduz_us_nato_victim.jpeg

Vítima da guerra no Afeganistão


"Caro Presidente Obama,

Você nos disse que a Guerra do Afeganistão é a boa guerra, necessária para garantir que o país não se tornar de novo um campo de treino e base de ataque da Al Qaeda contra os Estados Unidos. Isto é também o que ouvimos dos criminosos de guerra da administração Bush e de outros que apóiam a continuidade, e até a escalada, da campanha Afpak (sigla inglesa para designar o Afeganistão e o Paquistão).

O significativo palavreado dos senadores


Num recente artigo no The Wall Street Journal, os senadores (Lindsey) Graham, (Joe) Lieberman e (John) McCain, em resposta à crescente oposição à a ocupação do Afeganistão, escrevem que "chegamos a um momento seminal na luta contra o extremismo islâmico violento, e devemos engajar nela a força decisiva que o general (Stanley A.) McChrystal nos pede, sob pena do risco de fracasso".

O palavreado usado é significativo. Indica que os senadores não veem a escalada necessariamente como um meio de alcançar o sucesso, mas de evitar o fracasso – ainda que temporário e a qualquer custo em vidas humanas.

Algumas perguntas simples


Presidente Obama, antes de decidir se a enviar 40 mil soldados adicionais para o perigo, eu respeitosamente solicito-lhe que responda ao senso comum e a algumas perguntas simples.

Com o Afeganistão mergulhado no caos e confiança no governo de Cabul em seu nível mais baixo – na sequência de uma eleição fraudulenta que, nas palavras de Peter Galbraith, "deu ao Talibã sua maior vitória estratégica em oito anos de combate aos EUA e seus parceiros afegãos" –, o que você espera que a adição de 40 mil soldados trará?

Caso a situação no terreno se deteriorar ainda mais ou não melhorar – o que parece provável, na ausência de um governo legítimo, eficiente e honesto, que mereça a confiança do povo afegão, que seja uma alternativa viável para a "estabilidade" oferecida pelos talibãs –, quantas escaladas ainda vão ser necessárias nos próximos meses?

400 mil soldados, 10 a 15 anos


Os senadores Graham, Lieberman e McCain defendem o engajamento de tantos soldados quanto o general McChrystal determine como requeridos para cumprir a missão, a "força militar decisiva necessária para prevalecer".

O general Dan McNeill, ex-comandante da Força de Assistência da Otan no Afeganistão, admite que, segundo a doutrina estabelecida dos EUA em relação à guerra de contra-insurgência, a "força decisiva" de que os senadores falam deve exceder 400 mil soldados para ter uma chance de sucesso no Afeganistão.

Quando iniciamos um nono ano mergulhados em uma guerra prolongada, de natureza indeterminada, sem fim previsível para o compromissodos EUA, por quanto tempo você pedirá a nossos jovens, homens e mulheres que continuem a lutar e morrer no Afeganistão?

Quanto ao compromisso dos senadores de Graham, Lieberman e McCain, de ficar do seu lado "durante os difíceis meses pela frente" é admirável. De acordo com o chefe do Estado Maior do Exército, general George Casey, nosso engajamento no Afeganistão vai exigir, não meses, mas 10 a 15 anos para fazer diferença, se é que o fará. Dada a morte mais de 5 mil soldados americanose 1 milhão de civis iraquianos, afegãos e paquistaneses, quantas vidas mais, senhor presidente, você está disposto a sacrificar? Quantas famílias mais você vai destruir?

O custo da 'Guerra ao Terrorismo'


A 'Guerra ao Terrorismo' já é o segundo conflito mais caro da história americana, atrás apenas da 2ª Guerra Mundial. Embora a maioria dos americanos tenha sido levada à complacência, apatia indiferença, sem se sentir pessoalmente afetada pelas ocupações, a realidade é que a 'Guerra ao Terrorismo' está custando ao contribuinte americano mais de US$ 3 trilhões. Quanto mais você está preparado para esbanjar em busca de objetivos indeterminados, em um conflito que, além de economicamente suicida, não está tornando o país seguro?

Presidente Obama, está mais do que na hora de uma ação decisiva que acabe com estas ocupações. Quanto mais você vai pedir que o povo americano suporte no Afeganistão, em dor, sofrimento e sacrifícios? Quando terá a coragem de admitir que o esforço, embora talvez nobre, é impossível ou além do que estamos dispostos ou somos capazes de suportar/ pagar em vidas e dinheiro?

Se você continuar neste caminho para o desastre, temo que você compartilhará o destino de outro presidente liberal do Partido Democrata que, depois de atolar num pântano, com muito investimento em dinheiro, vidas e reputação, teve que abandonar seus sonhos de uma 'Grande Sociedade'. A Guerra do Vietnã definiu e enlameou o governo do presidente Lyndon Baines Johnson.

Eu tenho uma pergunta final, Obama: será o Afeganistão o seu Vietnã?"


O professor Camillo Mac Bica, autor da carta


Fonte: Ttuthout (http://www.truthout.org); intertítulos do Vermelho

::

Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: