sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A América Latina em 2010

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A região ganhou com os pacotes de ajuste dos países ricos e as iniciativas locais. Mas o principal propulsor do nosso maior otimismo é o Brasil.


por Nouriel Roubini*


O RGE Monitor mantém a posição adotada na previsão de julho: a América Latina vai se recuperar em 2010, mas sua expansão provavelmente ficará abaixo do potencial. Diante das agressivas reações políticas estrangeiras e domésticas nos países latino-americanos, a região está se estabilizando no segundo semestre de 2009, depois de ter-se contraído severamente no primeiro. Apesar de as condições financeiras e econômicas regionais e globais provavelmente melhorarem em 2010, o RGE Monitor espera que o ritmo da recuperação da demanda local e externa seja comedido.

Os preços das matérias-primas ficarão à espera em terreno médio entre os picos recordes e as baixas recentes, principalmente por causa da recuperação abaixo do potencial dos Estados Unidos e das economias avançadas, assim como da China. Embora a liquidez global permaneça elevada nos próximos trimestres, favorecendo os ativos latino-americanos, a ansiedade do mercado sobre a eficácia das estratégias de saída em todo o mundo representa um risco significativo. Erros de cálculo nas estratégias de saída e resultados econômicos decepcionantes são os principais riscos para a dinâmica do mercado latino-americano em 2010.

A América Latina está se estabilizando, beneficiando-se de maciços pacotes globais de estímulo, enquanto os esforços contracíclicos internos acalmaram a confiança local e reduziram as pressões negativas nos mercados de trabalho. Os fundamentos fortes contiveram a queda livre da demanda interna, enquanto a reposição dos estoques globais, que havia diminuído, recuperou-se novamente no terceiro trimestre de 2009.

A retomada da demanda doméstica e externa, contudo, provavelmente será limitada, mantendo a recuperação da América Latina abaixo do potencial em 2010. Ante esse pano de fundo, o RGE Monitor revisou para cima sua previsão regional do PIB para uma contração de 2,6% ano a ano, ante 3% ano a ano em 2009, e hoje projetamos um crescimento de 3,3% em 2010, no lugar de nossa projeção anterior, de 3%. O principal propulsor de nossa mudança de previsão é uma perspectiva econômica melhor no Brasil. Mas também se deve notar que a previsão de crescimento regional na América Latina em 2010 continua bem abaixo da tendência 2003-2008, de cerca de 4,5% ao ano em média. As pressões inflacionárias provavelmente serão contidas em 2010, e a tendência de inflação em queda deverá continuar nos meses finais de 2009.

Os bancos centrais provavelmente alcançarão suas metas de inflação, mas começarão a se afastar de uma posição monetária de ajuste para uma neutra em 2010, para temperar as expectativas de inflação em médio prazo quando a recuperação tiver tomado impulso.

Os déficits de conta corrente da região provavelmente vão se ampliar em 2010, após encolher em 2009, mas fortes fluxos de capital deverão cobrir a lacuna. Enquanto as importações caíram num ritmo mais rápido que as exportações até agora neste ano, o RGE prevê uma inversão dessa dinâmica em 2010, principalmente porque esperamos que a demanda interna volte a ter um ritmo mais forte do que a demanda externa.

Enquanto isso, as condições financeiras globais significativamente melhores e o apetite pelo risco, a elevada liquidez global e a recuperação relativamente palatável da América Latina significarão que os fluxos de capital para a região provavelmente vão melhorar, assim contendo os riscos para o balanço de pagamentos. Os riscos associados ao crescimento regional e global pior que o previsto, os maiores rendimentos benchmark globais e o fracasso em implementar reformas poderão conter os influxos de capital.

Equilibrar as contas fiscais provavelmente continuará sendo um grande desafio para a América Latina. Como o RGE prevê uma recuperação regional e global gradual, as receitas fiscais vão melhorar lentamente, mas o ciclo político, as crescentes pressões sociais e a rigidez fiscal estrutural vão impor restrições à oportunidade de se aplicar cortes de gastos significativos.

O RGE mantém a visão de que as moedas latino-americanas serão sustentadas por um dólar fraco e preços sólidos das matérias-primas, assim como um maior crescimento potencial e maiores diferenciais de taxas de juro. No entanto, intervenções verbais ou medidas administrativas para conter os fluxos financeiros, juntamente com os riscos associados aos números econômicos às vezes decepcionantes e ações políticas para restaurar o estoque de reservas internacionais poderão surgir como fatores de desequilíbrio. As pressões de Linkvalorização das moedas latino-americanas deverão ceder.

*Com a colaboração de Bertrand Delgado, analista sênior do site de informações econômicas RGE Monitor

Fonte: Carta Capital

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