Por Alicia Fraerman
A falta de transparência nas informações sobre o alcance e as conseqüências do incêndio que no último domingo, 25, afetou a central nuclear espanhola Vandellós II compromete as atividades das empresas e dos organismos públicos do setor, já que aumenta o temor de que ocorram acidentes de maior envergadura
Uma pesquisa feita pelo jornal catalão La Vanguardia, para avaliar a opinião dos cidadãos a respeito, mostrou 88% de respostas negativas à pergunta se existe transparência na informação, enquanto 7% disseram que sim e 5% afirmaram não saber se havia ou não.
O que mais preocupa os entrevistados não é apenas saber de que o conhecimento das falhas teria permitido ações preventivas, mas a ocorrência de fatos mais graves, como não chamar os bombeiros e, depois, impedir que estes entrassem na central onde no ocorreu o incêndio. Os bombeiros somente conseguiram entrar após discutirem por mais de meia hora com os guardas de segurança e após ficaram um bom tempo com seus seis veículos parados fazendo soar as sirenes na porta da unidade, localizada na província de Tarragona, na Comunidade Autônoma da Catalunha, no mar Mediterrâneo.
As autoridades de socorristas receberam o alerta mais de uma hora depois após o fogo ter começado, quando o Conselho de Segurança Nuclear (CSN) decretou um plano de emergência nuclear que levou o governo da Catalunha a mobilizar os bombeiros. Uma vez dentro da central, puderam comprovar “importantes danos na sala de turbinas e na galeria subterrânea que há sob ela”, conforme contou um dos operários da empresa, que pediu para não ser identificado, segundo o jornal El Mundo, de Madri.
Carlos Bravo, responsável pela campanha de Energia Nuclear da organização ambientalista Greenpeace, afirmou que trabalhadores da central haviam informado por várias vezes sobre vibrações no alternador, um sistema básico da usina que ao apresentar esse movimento pode provocar um incêndio e, inclusive, causar vazamentos radioativos, “fato que também informaram ao seus superiores”. Bravo admitiu que no acidente de domingo não foram registradas radiações, mas alertou que em 1989 já houve um incêndio semelhante que esteve a ponto de se converter em radioativo e que “o governo tem de fechar de uma vez todas as centrais nucleares, como se comprometeu a fazer o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero em sua campanha eleitoral”.
Sobre o ocorrido, o subdiretor-geral de instalações nucleares do CSN, Javier Zarzuela, assegurou que a central afetada não emite radiações e que, diante da informação de que o alternador apresentava vibrações a entidade determinou na oportunidade que os equipamentos fossem revisados pelos técnicos, que o fizeram e comprovaram que as mesmas não chegavam aos limites que obrigassem a uma intervenção mais rígida. Em todo caso, determinou-se que a empresa agisse para corrigir o defeito, o que não fez e agora a CSN ordenou que uma equipe se dirija imediatamente à central para investigar o ocorrido, “o que levará dias”, concluiu Zarzuela.
No incêndio de 1989, na central Vandellós I, que estava próxima da segunda, ficou destruído o edifico de turbinas da usina e parte das instalações de segurança. Diante da gravidade dos danos, o CNS orientou na época o governo para que ordenasse o fechamento definitivo. Por isso nos últimos anos foi desmantelada em 80%, com o reator isolado com concreto e que será desmontado quando sua radioatividade baixar, o que levará décadas. A Espanha foi um dos primeiros países do mundo a contar com central nuclear. A primeira foi instalada em 1968, uma década depois de construída a primeira do mundo, e há dois anos deixou de funcionar e foi desmantelada.
Agora, há seis centrais em funcionamento no país, com um total de oito reatores que produzem entre 25% e 30% da energia elétrica consumida pela Espanha, segundo o CSN. A mais antiga delas está em funcionamento desde 1971. Nessas centrais foram registradas 93 incidentes em 2007, os quais foram classificados com sendo de nível zero dentro da Escala Internacional de Fatos Nucleares (INES), ou seja, sem radiações, exceto uma que chegou ao nível dois. O máximo, o mais perigoso, é o nível sete. O CSN, além de enviar uma equipe técnica para investigar o ocorrido domingo em Vandellós II, decidiu convocar uma reunião do Comitê de Ligação, onde estão representadas todas as companhias proprietárias de centrais ou de outros elementos vinculados à energia nuclear com o objetivo de analisar os incidentes ocorridos nos últimos tempos nas usinas e os planos de atuação que elas possuem.
As organizações não-governamentais, encabeçadas pelo Greenpeace e pela Ecologistas em Ação, reiteraram sua demanda ao governo do socialista Zapatero pedindo que cumpra sua promessa eleitoral de fechar todas as centrais nucleares e substituí-las por energias mais limpas, mais seguras e menos caras. Mais otimista se mostrou o prefeito de Vandellós e Hospitales, de Tarragona, Joseph Castellnou, que não deu tanta importância ao problema, destacando que o incêndio aconteceu longe do núcleo do reator e que foi controlado por meios próprios da empresa “em cerca de 10 minutos”. (IPS/Envolverde)
::
Nenhum comentário:
Postar um comentário