sábado, 23 de agosto de 2008

DESABAFO DE UM CONSERVADOR

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por Paul Craig Roberts, no Counterpunch

Pervez Musharraf, o fantoche instalado pelos Estados Unidos para governar o Paquistão no interesse da hegemonia dos Estados Unidos, renunciou no dia 18 de agosto para evitar impeachment. Karl Rove e as máquinas de votação eletrônica da Diebold não foram capazes de controlar a última eleição no Paquistão, que deu aos paquistaneses um voz mais importante no governo que a dos Estados Unidos.

Era óbvio para quem tivesse bom senso -- o que exclui todo o Regime Bush e quase toda a comunidade de relações exteriores -- que as invasões ilegais e gratuitas do Afeganistão e do Iraque e que o bombardeio de civis libaneses por Israel em 2006, com endosso dos Estados Unidos, resultariam na derrubada do fantoche paquistanês.

O imbecil Regime Bush garantiu a derrubada de Musharraf ao pressionar o fantoche a conduzir operações militares contra tribos das regiões fronteiriças do Paquistão, cujas lealdades estão com outros muçulmanos e não com a hegemonia dos Estados Unidos. Quando as operações militares de Musharraf não produziram os resultados desejados, os idiotas americanos começaram a conduzir suas próprias operações militares com mísseis e bombas no Paquistão. Isso acabou com Musharraf.

Quando o Regime Bush começou suas guerras no Oriente Médio eu previ, corretamente, que Musharraf seria uma das vítimas. Os fantoches americanos no Egito e Paquistão podem ser os próximos.

Durante o governo Nixon, Warren Nutter, que presidiu minha dissertação de PhD, era secretário-assistente de Defesa para segurança internacional. Um dia perguntei a ele em seu escritório no Pentágono como é que o governo dos Estados Unidos conseguia convencer governos estrangeiros a fazer o que os Estados Unidos queriam. "Dinheiro", ele respondeu.

"Você quer dizer ajuda externa?", eu perguntei.

"Não", ele repondeu, "nós simplesmente compramos líderes com dinheiro".

Não era uma política que ele havia implementado. Ele herdou e, apesar de se sentir desconfortável, nada podia fazer a respeito. Nutter acreditava em persuasão e que, se você não pudesse persuadir alguém, não tinha uma política.

Nutter não quis dizer que só comprava gente do terceiro mundo. Ele se referia a líderes da Grã Bretanha, França, Alemanha, Itália e aliados de todos os lugares que eram comprados e pagos.

Eles eram aliados por terem sido comprados. Pensem em Tony Blair. O próprio chefe de inteligência dele disse a Blair que os Estados Unidos estavam fabricando provas para justificar o ataque já planejado contra o Iraque. Tudo bem com o Blair e agora dá para entender o motivo, com o pagamento multimilionário que ele recebeu ao deixar o cargo.

O bandido educado nos Estados Unidos, criminoso de guerra Saakashvili, que é presidente da Geórgia, foi instalado com dinheiro público dos Estados Unidos através do National Endownment for Democracy (1), uma operação neocon cujo objetivo era cercar a Rússia com bases militares dos Estados Unidos para que os Estados Unidos pudessem exercer hegemonia sobre a Rússia.

Todos os acordos feitos pelo presidente Reagan com Mikhail Gorbachev foram rompidos pelos sucessores de Reagan. Reagan foi o último governo dos Estados Unidos que não teve a política externa feita pelos neoconservadores aliados de Israel. Durante os anos Reagan os neocons fizeram várias tentativas de assumir a política externa, mas cada uma delas terminou em desastre e eventualmente eles foram expulsos do governo.

Mesmo o Comitê do Perigo Presente, anti-soviético, considerava os neocons lunáticos perigosos. Eu lembro de uma reunião em que um membro tentou trazer os neocons para o comitê. Representantes do velho establishment, como o ex-secretário do Tesouro Douglas Dillon, rejeitaram ameaçando virar a mesa.

O Comitê do Perigo Presente considerava os neocons gente louca que ia enfiar os Estados Unidos em uma guerra nuclear com a União Soviética. Os neocons odiavam o presidente Reagan, já que ele terminou a guerra fria com diplomacia, quando eles queriam uma vitória militar sobre a União Soviética.

Tendo perdido a oportunidade, agora os neocons querem uma vitória sobre a Rússia.

Hoje, Reagan já era. O establishment republicano já era. Não há mais centros de poder conservadores, somente centros de poder neoconservadores aliados próximos de Israel, que usam bilhões de dólares de dinheiro do contribuinte americano que acabam no cofre de Israel para influenciar as eleições e a política externa dos Estados Unidos.

O candidato republicano à presidência quer guerra. Não há mais, no Partido Republicano, ninguém para barrar a tendência dos neocons à guerra. Quais são os grupos republicanos que se opõem à guerra? Alguém pode dizer um?

Os democratas não são muito melhores, mas eles têm alguns grupos que não são enamorados da idéia de guerra para garantir a hegemonia dos Estados Unidos. Os Evangélicos da Ruptura, que desejam fervorosamente o Armageddon, não são democratas; nem os Brownshirts, desesperados para jogar sua frustração batendo em alguém em algum lugar, qualquer lugar.

Recebo correios eletrônicos destes Brownshirts (2) e posso testemunhar que a ignorância odiosa deles é extraordinária. São todos republicanos e ainda assim pensam que são conservadores. Eles não têm idéia de quem eu sou, mas já que critico o Regime Bush e a política externa beligerante dos Estados Unidos eles dizem que sou um "liberal comuna avermelhado".

A única sentença que essa legião de bobos sabe escrever é: "Se você odeia os Estados Unidos, porque não muda para Cuba!".

Essa é a situação de alguém como eu, indicado por Reagan no Partido Republicano. A de um "liberal comuna avermelhado" que deveria se mudar para Cuba.

Os republicanos vão nos levar a mais guerras. De fato, eles vivem para a guerra. McCain está pregando guerra por 100 anos. Para esses guerreiros é como torcer para o time da casa. Vencer de qualquer jeito. Eles tiram prazer da guerra. Se os Estados Unidos tiverem que mentir para atacar outros países, o que há de errado com isso? "Se a gente não os matar lá, eles virão nos matar aqui".

A falta de senso é total.

A mídia americana não trata dos assuntos reais, trata de demonizar a Rússia e o Irã, trata da escolha dos candidatos a vice como se isso importasse, se o Obama tirou férias e deixou o McCain deitar e rolar.

A falta de sentido da mídia reflete a falta de sentido do governo, do qual ela é porta-voz.

A mídia americana não serve à democracia ou aos interesses americanos. Serve aos que exercem o poder.

Quando a União Soviética faliu os Estados Unidos e Israel tentaram controlar a Rússia e os outros países que constituíam o império. Foram bem sucedidos até que o Putin deu um basta.

Reconhecendo que os Estados Unidos não pretendiam honrar nenhum acordo feito com Gorbachev, Putin encomendou um orçamento militar para dar um upgrade nas defesas nucleares da Rússia. Conseqüentemente, o exército russo e a Força Aérea não têm as armas eletrônicas dos militares dos Estados Unidos.

Quando o exército russo entrou na Geórgia para resgatar os russos na Ossétia do Sul da destruição inflingida pelo fantoche americano Saakashvili, os russos deixaram claro que se tropas americanos usassem armas inteligentes contra eles teriam que enfrentar armas nucleares táticas russas.

Os americanos foram os primeiros a anunciar ataques nucleares preventivos como um doutrina de guerra permitida. Agora os russos anunciaram o uso de armas nucleares táticas em resposta às armas inteligentes dos Estados Unidos.

É óbvio que a política externa dos Estados Unidos, com seu objetivo de cercar a Rússia de bases militares, vai nos levar diretamente a uma guerra nuclear. Todos os americanos devem se dar conta disso. A política externa hegemônica dos Estados Unidos é uma ameaça direta à vida no planeta.

A Rússia não fez ameaças aos Estados Unidos. O governo russo pós-soviético tem tentado cooperar com os Estados Unidos e a Europa. A Rússia deixou claro repetidamente que está preparada para obedecer a leis e tratados internacionais. Foram os americanos que jogaram tratados e leis internacionais na lata de lixo, não os russos.

Para manter os bilhões de dólares em lucro para os integrantes do complexo industrial-militar dos Estados Unidos, o Regime Bush trouxe de volta a Guerra Fria. Com o declínio do padrão de vida dos americanos e a falta de perspectiva dos estudantes universitários "nossos" líderes em Washington querem se comprometer com 100 anos de guerra.

Se você quer se pobre, oprimido e eventualmente "vaporizado" em uma guerra nuclear, vote nos republicanos.

Paul Craig Roberts foi secretário-assistente de Tesouro no governo Reagan. Foi editor-assistente da página editorial do Wall Street Journal e editor-contribuinte do National Review. É co-autor do livro "The Tyranny of Good Intentions". O email: PaulCraigRoberts@yahoo.com

(1) NED - Fundação financiada com dinheiro público para "promover a democracia" no mundo, ou seja, trocar governos contra por governos a favor dos Estados Unidos. Na América Latina atua na Venezuela e na Bolívia.

(2) Brownshirts - Fascistas em geral

Fonte: Vi o Mundo

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