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Por Alberto Dines | |
Um "criativo" da velha McCann Erikson carioca inventou, no início dos anos 1940, um slogan para o Repórter Esso, logo incorporado ao repertório de metáforas cotidianas: "testemunha ocular da História". Ao longo de quase sete décadas ninguém percebeu a redundância: toda testemunha é ocular (as de oitiva, geralmente suspeitas). Apesar do pleonasmo, a expressão colou. Mais do que isso: não apenas o Repórter Esso, mas todos os jornalistas foram convertidos em testemunhas oculares da História. Nos dias 18 e 10 de agosto, em São Paulo, testemunhamos um momento crucial na história do jornalismo pátrio quando, por vontade própria, o seu segmento mais poderoso resolveu praticar um haraquiri coletivo – deixou de ser serviço público para converter-se em indústria. E, como indústria, admitir sua inevitável e recorrente obsolescência. A metamorfose se deu no 7º Congresso Brasileiro de Jornais, quando o patronato, convocado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), tirou a imprensa da nobre condição de Quarto Poder, revogou uma simbologia há mais de dois séculos entranhada no âmago das democracias representativas e apresentou-se como Indústria Jornalística. Conteúdo e função Livre-arbítrio é isso. Eliminando eventuais sentidos pejorativos (relativos a astúcia e ardil), a palavra indústria aplica-se ao conjunto de pessoas, processos e maquinário envolvido no fabrico de determinado produto. Tudo bem: indústrias geralmente associam-se à noção de progresso, produzem lucros, lucros movimentam a economia, distribuem riquezas, promovem o bem-estar material. O Quarto (ou Quinto ou Sexto) Poder é outra coisa, situa-se na esfera pública, é a matriz da cidadania, do civismo e da participação política. O Quarto Poder era o poder que fazia do indivíduo uma força coletiva. Convém lembrar que a internet americana, apesar da sua pujança, não conseguiu nem jamais conseguirá tirar um presidente da Casa Branca como aconteceu com Richard Nixon. A prova está em George W. Bush, que ganhou a primeira eleição no tapetão e no segundo mandato está levando a maior superpotência para o brejo. Quando a imprensa era instituição, jornais também deveriam ser lucrativos, mas nos intervalos entre balancetes e balanços havia um compromisso com o interesse público. A metamorfose ocorreu nestas bandas dentro do período dedicado à comemoração dos 200 anos da imprensa brasileira (13 de maio – 10 de setembro), como se a nova indústria quisesse livrar-se formalmente da condição anterior. O primeiro periódico a circular livremente no Brasil dizia na primeira sentença do seu primeiro texto que "o primeiro dever do homem em sociedade é ser útil aos membros dela" (Correio Braziliense, nº 1, pág.3, 1º de junho de 1808). Exatos 200 anos depois, não contente em obliterar a data para apagá-la da memória nacional, a nova indústria jornalística muda a sua própria natureza. Sua preocupação passa a ser meramente tecnológica. Gerou uma formidável ferramenta – a internet – e agora se submete a ela, mesmo reconhecendo suas limitações. A web era um meio, agora converteu-se num fim, algumas coisas perderam-se no meio do caminho – conteúdo e função – mas ninguém está interessado nelas. Matérias escondidas A pauta do 7º Congresso Brasileiro de Jornais foi rigorosamente não-jornalística e intensamente internetística, digital. Basta ver as matérias publicadas nos dias seguintes pelos três jornalões responsáveis pelo convescote. 1º dia, edições de 19/8 ** O Estado de S.Paulo (pág. B-14): "Congresso traça cenário positivo para a indústria de jornais; empresários e executivos dizem que, mesmo passando por mudanças radicais [isto é, internet], jornais continuarão a crescer" ** Folha de S.Paulo (pág. A-10): "Ministro vê crescimento robusto de jornais; Miguel Jorge diz que `grandes títulos na internet são os mesmos dos impressos no Brasil´" ** O Globo (pág. 24): "Jornais defendem uma nova Lei de Imprensa; associação propõe regulação mínima com mecanismos de direito de resposta e fixação de indenizações" [os concorrentes também levantaram a questão da Lei de Imprensa em matérias secundárias] 2º dia, edições de 20/8 ** Estado de S.Paulo (pág. B-15): "Classe média dá impulso a jornais; presidente de associação de mídia diz que jornais têm cinco anos para se adaptarem à era digital" ** Folha de S.Paulo (pág. A-10): "Leitores associam jornais a confiabilidade, diz pesquisa" ** O Globo (pág. 25): "ANJ: desafio é conquistar fidelidade do novo leitor; segundo presidente de associação, jornais têm de aproveitar expansão da classe média e levar conteúdo para a internet" Estas foram as matérias principais, escolhidas a dedo pelos editores para "vender" os conceitos que marcarão a nova indústria. Textos mais importantes, porém relacionados com o statu-quo ante, não tiveram igual destaque: ** "Especialistas divergem sobre a interação entre jornal e internet" (Folha, 20/8, pág. A-10) ** "O jornal é a âncora do mundo, diz a pesquisadora" (Estadão, 20/8, pág. B-15) ** "Informação de qualidade é uma coisa rara" (idem) ** "Pesquisa aponta credibilidade do jornal; para entrevistados por Ipsos Marplan, impresso é `âncora do mundo´" (O Globo, 20/8, pág. 25) Matérias "leves" No fim de semana seguinte ao Congresso (23 e 24/8), os jornalões apareceram com "pesquisas" realizadas por diversas assessorias de comunicação para mostrar a importância do meio jornal para os multiplicadores de opinião. Este frenesi histérico-badalativo para promover a nova indústria revela, antes de tudo, um total desnorteamento dos seus dirigentes no tocante ao futuro: o que é que se pretende até 2020, ou melhor, qual o sentido da convocação para "Re-Construir o jornal para a Era Digital"? Algo foi destruído? Ou algo precisará ser destruído para que em cima dos escombros seja erigido um novo medium? A grande verdade é que a ANJ está novamente diante de uma crise de identidade, a terceira desde a sua criação. Início dos anos 1980, regime militar exaurido, a nova geração de empresários-jornalistas que tornou possível a criação de uma entidade patronal concluiu que não havia mais lugar para o jornalismo pré-1964. As redações são expurgadas da velha-guarda "romântica", inicia-se um delírio novidadeiro acompanhado pela cruzada para acabar com a obrigatoriedade do diploma e assim abrir as portas dos jornais à "modernidade". Ícone do período foi o USA Today, paradigma do jornalismo sintético, híbrido de jornal com TV (a propósito: que fim levou o USA Today?). Dez anos depois, início dos 1990, Fernando Collor de Mello escorraçado, os estrategistas da ANJ acharam que o vácuo de poder deixado pelos militares precisava ser preenchido por uma imprensa poderosa, infalível, arrogante. Ferramenta escolhida: o denuncismo. Derrubar presidentes era o sonho de qualquer estagiário, sobretudo quando era do PT. A palavra de ordem era aumentar a circulação a qualquer preço. O marketing virou panacéia. Convocaram-se os consultores de Navarra para inventar maneiras de atrair jovens e mulheres que, segundo eles, só conseguiriam pegar num jornal se tivesse muito infográfico (uma imagem vale 10 mil palavras – lembram?), muita matéria "leve", pouco noticiário internacional, muitas páginas de medicina e comportamento. Vítima do progresso Os jornais se converteram em meros envelopes de fascículos, as tiragens dobraram, era preciso comprar novos equipamentos gráficos, ninguém se preocupou com o fato de que os jornais tornavam-se descartáveis, simples veículos para distribuir as séries colecionáveis. Passada outra década, novo surto suicida: diante da expansão da internet, jornais assumem previamente que desta vez não conseguirão enfrentar as novas tecnologias (como acontecera no século passado, com o advento do rádio e da televisão). Não se contentam em usar as formidáveis ferramentas digitais para qualificar o seu conteúdo, querem usá-las para o seu sepultamento. A imprensa está utilizando o seu potencial messiânico e o poder de pavimentar as profecias para anunciar a própria destruição. Desiste de seu papel de provocador de avanços para conformar-se como vítima de um imponderável e precário progresso. Livre-arbítrio é isso.
Leia também A universalização do "informe publicitário" – A.D. Jornais, o passado e o futuro – A.D Fonte: Observatório da Imprensa :: |
Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres
Em 2010, a Marcha Mundial das Mulheres vai organizar sua terceira ação internacional. Ela será concentrada em dois períodos, de 8 a 18 de março e de 7 a 17 de outubro, e contará com mobilizações de diferentes formatos em vários países do mundo. O primeiro período, que marcará o centenário do Dia Internacional das Mulheres, será de marchas. O segundo, de ações simultâneas, com um ponto de encontro em Sud Kivu, na República Democrática do Congo, expressará a solidariedade internacional entre as mulheres, enfatizando seu papel protagonista na solução de conflitos armados e na reconstrução das relações sociais em suas comunidades, em busca da paz.
O tema das mobilizações de 2010 é “Seguiremos em marcha até que todas sejamos livres”, e sua plataforma se baseia em quatro campos de atuação sobre os quais a Marcha Mundial das Mulheres tem se debruçado. Os pontos são: Bem comum e Serviços Públicos, Paz e desmilitarização, Autonomia econômica e Violência contra as mulheres. Cada um desses eixos se desdobra em reivindicações que apontam para a construção de outra realidade para as mulheres em nível mundial.
Estão previstas também atividades artísticas e culturais, caravanas, ações em frente a empresas fabricantes de armamentos e edifícios da ONU, manifestações de apoio às ações da MMM em outros países e campanhas de boicote a produtos de transnacionais associadas à exploração das mulheres e à guerra.
No Brasil
A ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil acontecerá entre os dias 8 e 18 de março e será estruturada no formato de uma marcha, que vai percorrer o trajeto entre as cidades de Campinas e São Paulo. Serão 3 mil mulheres, organizadas em delegações de todos os estados em que a MMM está presente, numa grande atividade de denúncia, reivindicação e formação, que pretende dar visibilidade à luta feminista contra o capitalismo e a favor da solidariedade internacional, além de buscar transformações reais para a vida das mulheres brasileiras.
Serão dez dias de caminhada, em que marcharemos pela manhã e realizaremos atividades de formação durante à tarde. A marcha será o resultado de um grande processo de mobilização dos comitês estaduais da Marcha Mundial das Mulheres, que contribuirá para sua organização e fortalecimento. Pretendemos também estabelecer um processo de diálogo com as mulheres das cidades pelas quais passaremos, promovendo atividades de sensibilização relacionadas à realidade de cada local.
Para participar
A mobilização e organização para a ação internacional da Marcha Mundial das Mulheres no Brasil já começou. Entre os dias 15 e 17 de maio, a Marcha realizou um seminário nacional, do qual participaram militantes de 19 estados (AM, AP, AL, BA, CE, DF, GO, MA, MS, MG, PA, PB, PE, PR, RJ, RN, RO, RS e SP), além de mulheres representantes de movimentos parceiros como ANA, ASA, AACC, CONTAG, MOC, MST, CUT, UNE e Movimento das Donas de Casa). Este seminário debateu e definiu as diretrizes da ação de 2010.
Os comitês estaduais da MMM saíram deste encontro com tarefas como arrecadação financeira, seminários e atividades preparatórias de formação e mobilização, na perspectiva de fortalecimento dos próprios comitês e das alianças entre a Marcha Mundial das Mulheres e outros movimentos sociais. Neste momento, estão sendo realizadas plenárias estaduais para a formação das delegações e organização da atividade.
Para participar, entre em contato com a Marcha Mundial das Mulheres em seu estado (no item contatos) ou procure a Secretaria Nacional, no correio eletrônico marchamulheres@sof.org.br ou telefone (11) 3819-3876.
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