terça-feira, 5 de agosto de 2008

É temporada de caça aos blog

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Por Bolivar Torres e Ricardo Schott

Quem usa programas de download como o Soulseek e o eMule já deve ter notado que os tais softwares ilegais estão mais esvaziados desde que, há uns três anos, incontáveis blogueiros passaram a disponibilizar discos inteiros em seus sites pessoais – usando páginas de arquivamento como o Rapidshare e o Badongo. Detentores de uma discoteca que vai de títulos raros passados para MP3 a CDs novos, tais blogs ganharam vigilância acirrada. O analista de sistemas pernambucano Bruno R., criador do blog Som Barato recebeu em julho um e-mail da gravadora Biscoito Fino, pedindo que retirasse os discos do selo que mantinha em seu blog. É guerra.

No e-mail, o seguinte texto: "Foi observado que em seu blog foram disponibilizados links de internet para download de faixas da gravadora Biscoito Fino, protegidas por leis internacionais de copyright. Venho através deste pedir gentilmente que retirem, em caráter de urgência, todos os links que disponibilizam tais arquivos em formato digital. Como reconhecemos que o blog suporta fãs da música brasileira, não gostaríamos de tomar as medidas cabíveis junto ao seu provedor de plataforma". Embaixo, uma lista com 35 CDs da gravadora, disponibilizados no blog para download gratuito, incluindo obras de Yamandú Costa, Chico Buarque, Chico Cesar e Arnaldo Antunes.

"Tirei os discos do ar, não quero conflito" diz Bruno, que registrou sua opinião sobre o assunto num post. "Não vejo problema em disponibilizá-los na internet. Quem mais ganha com vendas são as gravadoras. Os artistas, menos. Até o fim da década de 90, a gravadora era quem investia para que seus artistas ganhassem dinheiro com shows e fechassem o ciclo com a repercussão em vendas de CDs.. Hoje cabe à internet fazer isso. Vários artistas mudaram o rumo e insistem para que seus discos sejam disponibilizados na web.

Bruno, que criou o blog em janeiro de 2007, disponibiliza principalmente álbuns raros, e afirma que o Som Barato não tem fins comerciais. Antes, já recebera uma ameaça de um distribuidor de discos reclamando de um álbum antigo do cantor folk Zé Geraldo, que estava no blog. Diz ter entrado em contato com o próprio cantor – cuja discografia, espalhada em gravadoras como Sony-BMG e EMI, está quase toda fora de catálogo – e que o próprio o autorizou a continuar disponibilizando o disco na internet.

"Para quem está fora da mídia isso acaba sendo até bom para divulgação", – diz Zé Geraldo, que acaba de lançar um disco novo, Catadô de bromélias, e, de qualquer jeito, não gostaria de ver o álbum novo colocado gratuitamente para download em algum blog. – O álbum pode ser ouvido em meu site. Mas me incomodaria pôr o CD inteiro para download, porque o trabalho que tive com capa, encarte e etc vai todo por água abaixo.

A Biscoito Fino alega que a retirada dos links partiu do pedido de um artista da gravadora (cujo nome a companhia não revela) que viu discos seus em blogs. O blog Um Que Tenha também tirou, recentemente, todos os discos do selo dos quais colocara links, mas a gravadora confirma apenas um blog notificado.

"O artista se sentiu prejudicado e pediu para contactarmos o blog", diz o responsável pelo setor de novos negócios da gravadora, Fernando Tranjan, afirmando que não se trata de uma caça às bruxas. – Não faz parte da nossa política vasculhar blogs, até porque nosso produto é pouco procurado para pirataria. Mas temos o direito de pedir para alguém tirar do ar um produto que é de nossa propriedade.

Bruno defende-se dizendo que o download serve para que o público conheça o trabalho de determinado artista antes de comprar o CD.

"Disponibilizar discos na internet só ajuda. É um sistema ao qual as gravadoras têm que se adaptar", explica.

Criador do blog Musikaki, o paulista Drod põe discos dos mais variados estilos na internet – misturando raridades a novos. Diz ter medo de ter o blog tirado do ar, mas reconhece que a internet tem força.

"As gravadoras estão até certas de tentar parar o compartilhamento pela internet. Em uma semana, qualquer lançamento tem milhares de downloads", afirma, surpreendentemente, o blogueiro, que já sabe o que fazer se seu blog for tirado do ar. "É só fechar as portas e abrir outro blog na semana seguinte. O Musikaki tem muito retorno de público, existe há cinco anos e não me vejo sem ele".

Advogado e representante no Brasil do Creative Commons – que disponibiliza licenças flexíveis para propriedades intelectuais – Pedro Paranaguá concorda que a atitude da gravadora esteja dentro da lei, mas faz ressalvas.

"Pessoas gostam de compartilhar conteúdo. Impedir isso talvez não seja a melhor solução. Afinal, vão compartilhar de qualquer forma", diz. "Eu buscaria uma parceria com o blog, para ajudar a divulgação e ampliar as vendas.

(Originalmente publicado no Jornal do Brasil)

Fonte: Revista Fórum

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