por Luiz Carlos Azenha
Vivemos um momento extraordinário, em que a produção, a disseminação e o controle da informação são utilizados tanto por estados quanto por entes privados para a produção de "consensos". Não é exatamente uma novidade. É que, na presença de múltiplas fontes de informação, os canhões midiáticos se multiplicam e atiram sobre nós incessantemente. Atiram mentiras, informação manipulada, cuidadosamente selecionada ou deturpada.
Na Bolívia, a delegação do Mercosul que acompanhou o referendo revogatório notou: assim que as urnas foram fechadas, a mídia corporativa passou a destacar não a vitória nacional de Evo Morales com 63%, mas o NÃO majoritário nos estados da Meia Lua. Não notou que Evo, eleito com 53%, saltou para 63% de aprovação, mas o SIM majoritário dos governadores que se opõem a Evo. Quando o presidente discursava em La Paz a mídia boliviana mostrava entrevistas com os governadores de oposição.
No Brasil, Eduardo Guimarães analisou como a mídia corporativa brasileira atacou duas pesquisas, uma da FGV e outra do IPEA, que demonstraram o crescimento da classe média e a redução da pobreza no Brasil. É óbvio que é preciso desmoralizar as pesquisas, já que elas contradizem o discurso segundo o qual tudo o que aconteceu de bom no país nos últimos vinte anos foi resultado da presença abençoada de FHC, uma narrativa essencial para eleger José Serra em 2010.
E eu me espanto ao notar que o metralhar da mídia é muito eficaz, especialmente quando combina com um preconceito existente na população. Durante meses a mídia brasileira bombardeou o público com a idéia de que os indígenas representam uma ameaça à soberania do Brasil na Amazônia, um discurso que serve exclusivamente ao agronegócio e às mineradoras. A mídia não diz:
1) Que as terras indígenas são da União e, portanto, nunca deixam de ser do Brasil; apenas o usufruto é dos indígenas;
2) Que a Polícia Federal e o Exército são livres para atuar em terras indígenas;
3) Que o Exército tem bases em todas as reservas situadas em área fronteiriça;
4) Que são os brasileiros que estão invadindo outros países (Bolívia, Paraguai, Venezuela e Guiana, por exemplo) e não vice-versa;
5) Que dezenas de indígenas foram mortos desde o início da campanha pela demarcação da Raposa/Serra do Sol em múltiplos incidentes violentos.
Ao divulgar apenas os fatos que justificam a tese dos "índios imperialistas", a mídia brasileira contribui para distorcer o debate sobre esta e outras demarcações e para o desprezo histórico dos brasileiros brancos pelos indígenas. O roubo de terras com violência é justificável: "eles" são o inimigo interno.
Fonte: Vi o Mundo::
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