terça-feira, 12 de agosto de 2008

Geórgia, Rússia e China

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por Luiz Carlos Azenha

Duas regiões separatistas da Geórgia, a Ossétia do Sul e a Abkhazia, são o motivo do conflito com a Rússia. A Rússia exerce o seu poder regional através do controle de fornecimento de gás e petróleo. Já usou isso contra a Ucrânia e a própria Geórgia. Como sei que a mídia brasileira é muito ruim de política internacional, aqui vai uma contribuição de um jornalista americano que viveu na região:


Geórgia, Rússia e Repensando a China

Steve LeVine, jornalista americano, ex-correspondente na Ásia Central

Anos depois de ser nocauteado de forma humilhante por Muhammad Ali, o boxeador George Foreman retornou ao ringue para uma série de triunfos e conquistar o título mundial já quarentão. Foi mais marketing do que esporte. Quando perguntado sobre sua escolha de adversário, Foreman disse que não lutava com ninguém em quem a mãe dele não pudesse bater.

É uma forma de olhar para a anexação que a Rússia fez da Ossétia do Sul e da Abkhazia nas últimas 24 horas. Com desculpas aos meus amigos georgianos, a Geórgia não é um ator militar sério; com exceção dos chechenos e armênios, nenhum dos povos do Cáucaso é (o que explica o que levou os moradores da Ossétia e da Abkhazia a depender dos russos para suas guerras).

Foreman foi inteligente em não voltar ao ringue contra Ali. Quinze anos de quase ser desmembrada por forças apoiadas pela Rússia, no entanto, a Geórgia não foi tão inteligente. Não significa um retorno a 1993, que causou literalmente uma década negra, quando a Geórgia não tinha nem mesmo eletricidade para se iluminar. Mas a demonstração militar da Rússia demonstra que a Geórgia não é um ator independente no momento.

Vladimir Putin (agora está claro quem realmente manda em Moscou) demonstrou que a Rússia não pretende deixar a Geórgia entrar na OTAN. E a OTAN demonstrou que não tem vontade ou inclinação para enfrentar a Rússia.

A questão para os Estados Unidos e o Ocidente com um todo é fundamental e nos leva ao objetivo original do corredor de energia pretendido pelo Ocidente: como os leitores sabem, o pensamento de Washington não era apenas de mandar um milhão de barris de petróleo para o Ocidente, mas transformar o Cáucaso dominado pela Rússia e a Ásia Central em uma região financeiramente independente e pró-ocidental.

A Geórgia é um componente chave desta estratégia, como um ponto de passagem do oleoduto Baku-Ceyhan, o gasoduto que o acompanha e o oleoduto menor de Baku-Supsa.

A absorção da Geórgia pela OTAN não tem futuro. Mas isso significa o fim do desafio do Ocidente ao poder regional energético da Rússia?

A resposta simples é não - todos as linhas de fornecimento vão continuar a operar. A Rússia não vai interferir com elas. Por que? Porque sua estratégia política e econômica para a Europa depende de não assustar os europeus, que poderiam se sentir encorajados a construir outros gasodutos e oleodutos não-russos, diminuindo assim o poder de barganha de Moscou.

(Acabo de receber confirmação de que, ao contrário do que diz a Geórgia, a Rússia não bombardeou o oleoduto Baku-Ceyhan. Bombas foram jogadas perto da linha Baku-Supsa, que leva ao Mar Negro na Geórgia, sem causar danos. A linha Supsa passa perto da Ossétia do Sul, pode ter sido um engano típico de guerra).

E assim a Rússia vai permitir que os oleodutos existentes continuem a existir. Mas parece que a expansão deles - os oleodutos e gasodutos trans-Cáspio e a ligação com a Europa batizada de Nabucco -- morrerá. Nenhum presidente do Cáspio jogará seu futuro abraçando um projeto destes e é assim que eles vão calibrar seu comportamento.

O Ocidente tem poucas ferramentas para pressionar a Rússia.

Mas existe um e é a China. Uma vez que a política ocidental visa dar independência energética aos países do Cáucaso e da Ásia Central, por que todo o petróleo e o gás natural deve abastecer o Ocidente?

A China está construindo oleodutos e gasodutos do Turcomenistão e Casaquistão para Xinjiang e além. Washington silenciosamente apóia esses projetos, agora talvez seja inteligente aumentar o volume e oferecer ajuda na construção.

O próximo presidente dos Estados Unidos pode incluir essa mudança de posição como parte de uma nova estratégia para a China. A Rússia odiaria um acordo energético Estados Unidos-China, mas esse tipo de acordo é o que conta na região.


Fonte: Vi o Mundo

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