sábado, 9 de agosto de 2008

Factóides e armações

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por Luis Nassif


A matéria de Veja, “De Olho em Nós” é demonstração da encrenca em que a revista se meteu graças aos seus “aloprados”. Confesso não conseguir entender mais tanta incompetência (clique aqui para ler a íntegra).

É evidente que a revista envolveu-se até o pescoço nesse jogo, mas continua caminhando em direção ao meio do pântano, sem uma estratégia de saída, como se ninguém estivesse percebendo nada.

Releve-se o fato de que Veja foi a revista que mais recorreu a grampos ilegais na história da imprensa brasileira, mais manipulou frases fora do contexto.

Vamos esquecer o passado e ficar apenas na matéria de hoje.

Apenas um fato basta para ilustrar esse jogo capenga. Daniel Dantas está sendo processado pela prática de grampo. Antes de se alinhar com Dantas – no segundo semestre de 2005 – a revista publicou matérias mostrando grampos dele, inclusive a famosa cena de espionagem em Armínio Fraga, então presidente do Banco Central, confundido com Andréa Calabi, do BNDES. Em várias matérias, acusou Dantas de ser “o gênio do mal”. Depois da Kroll, a própria Polícia Federal descobriu que Dantas contratou Avner Shemesh para espionar seus adversários.

Na capa, no entanto, Veja tenta de todas as maneiras apresentá-lo como vítima. Nenhuma menção sequer às próprias matérias anteriores da revista.

A peça principal da capa é um documento reservado – “obtido com exclusividade por Veja" – preparado pela assessoria do Ministro Gilmar Mendes. Consegue com a assessoria de Gilmar Mendes e ainda conta prosa sobre a “exclusividade”.

Diz a revista que “espiões, instalados do lado de fora do tribunal, usaram equipamentos para tentar interceptar as conversas do ministro e de seus assessores dentro da mais alta corte de Justiça do país”. Quando? "Um dia depois de o ministro Gilmar Mendes ter concedido o primeiro habeas corpus que liberava da prisão o banqueiro Daniel Dantas".

Pequenos detalhes:
1. O relatório fala em “possível monitoramento” externo.

2. Se de fato ocorreu – nem o relatório admite como fato consumado – há duas hipóteses. A primeira, que tenha sido preparado pela Polícia Federal. A segunda, que tenha sido preparado por alguém que pretendia lançar a suspeita sobre a PF.

Ora, convenhamos, depois de um alerta de que poderia ter sido grampeado, o gabinete de Gilmar Mendes tornou-se o mais vigiado do país. A própria revista informa que os equipamentos anti-grampo são de alta sofisticação. Além do fato de que Mendes certamente está medindo cada palavra, ao telefone ou ao vivo.

Só a Veja para achar que é crível a PF – que pode ser tudo, menos incompetente (como demonstrou a própria Operação Satiagraha) – arriscar quatro anos de investigação por um grampo com possibilidade quase nula de obter resultados. Sequer menciona a hipótese óbvia do grampo (se existiu) ter sido uma armação visando comprometer a PF e o inquérito.

Ora, basta a qualquer um que quiser contaminar o inquérito contratar um araponga – o próprio autor da matéria é ligadíssimo aos arapongas de Brasília, conforme se pode conferir no capítulo de “O Caso de Veja”, “O araponga e o repórter” - colocar o equipamento em um carro estacionado na rua, do lado externo da sala de Mendes. Depois aguardar que a varredura do STF localize o sinal. Finalmente, passar as suspeitas “com exclusividade” para a Veja. Ou não? (Dei o exemplo do diretor de redação da Veja em Brasília apenas para ilustrar a facilidade com que jornalistas convivem com arapongas).

Certamente sem saber do conteúdo da matéria da Veja, já que sai antes, a CartaCapital deu a chave para entender mais uma jogada da revista:

“Na terça-feira 15, Nélio Machado, um dos representantes do banqueiro, anunciou que pretende ingressar com uma “argüição de suspeição” contra o juiz. Segundo Machado, o magistrado prejulgou Dantas, cerceou-lhe o direito de defesa e teria pactuado com irregularidades cometidas pela Polícia Federal. É uma estratégia jurídica previsível, fortalecida pelo anúncio da saída de Queiroz do caso, algo tão óbvio que só a cúpula da PF parece não ter percebido”.

Fonte: Blog do Nassif

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