sábado, 9 de agosto de 2008

Para tomar terra dos índios fala-se em "defesa da soberania"

No poder, dupla Mendes-Jobim agora mira na demarcação da Raposa/Serra do Sol; Dantas quer sair das teles para investir em mineração

por Luiz Carlos Azenha

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Paulo Henrique Amorim diz que Lula tomou um golpe de Gilmar Mendes, que "governa" assessorado pelo ministro da Defesa, Nelson Jobim.

Um golpe dado "por dentro".

Eu já escrevi aqui que a extrema-direita brasileira está assanhadíssima e que, em minha modesta opinião, a queda da ministra Marina Silva foi o golpe final em qualquer relação do governo Lula com o progressismo.

Derrubar Marina Silva era objetivo da bancada ruralista e de interesses ligados a empreiteiras e mineradoras.

Explico: o próximo passo da ocupação da Amazônia é a exploração dos recursos do solo. Para o qual duas coisas são essencias: congelar ou fazer regredir as demarcações de terras indígenas e a produção de energia elétrica. Como vocês sabem, mineração exige grandes quantidades de energia.

A energia virá das hidrelétricas do Madeira e do Xingu. Não se descarta a retomada do projeto de fazer uma hidrelétrica no rio Cotingo, que fica em área hoje demarcada da Terra Indígena Raposa/Serra do Sol.

Isso explica a campanha que houve, através da mídia brasileira, para taxar os índios de Roraima de "imperialistas", ligados a ONGs estrangeiras e uma verdadeira ameaça à soberania nacional.

Essa campanha usou notícias plantadas em jornais e na televisão. Também incluiu denúncia de supostos "abusos" cometidos pela Polícia Federal contra os arrozeiros. A mídia brasileira "esqueceu" um pequeno detalhe: os indígenas mortos ao longo dos últimos anos na disputa por terra. A mídia brasileira varreu a matança para debaixo do tapete.

A Polícia Federal investiga militares que ensinaram gente ligada ao prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, a fazer bombas de fabricação caseira que foram usadas em ataques aos indígenas.

O prefeito é o líder dos arrozeiros que ocupam fazendas na área demarcada.

O prefeito exporta parte do arroz que produz em Roraima. Quem é que tem um terminal graneleiro na Amazônia? O governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, campeão dos ruralistas brasileiros.

São interesses difusos que convergem num único objetivo: defender o agronegócio em detrimento das demarcações de terras indígenas.

As demarcações são um entrave à mineração. Por isso é preciso ganhar a opinião pública contra elas, criminalizando os indígenas.

Quem é que está querendo sair das teles para investir em mineração? Daniel Dantas (não deixe de ler aqui e aqui).

Mas índio não combina com criminoso. Assim, é preciso criminalizar quem supostamente manipula os indígenas.

Não se esqueça de que há outras campanhas pela demarcação de terras indígenas, inclusive em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) processa o Estadão e a União pela publicação de um relatório segundo o qual o CIMI teria recebido milhões de dólares de governos estrangeiros. O relatório é de autoria do coronel Gélio Fregapani. O CIMI diz que foi vítima de calúnia, já que é financiado por doações de católicos de todo o mundo.

O CIMI acusou gente ligada aos antigos serviços de informação de fornecer relatórios com informações falsas aos juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) que vão decidir se a demarcação da Raposa/Serra do Sol é constitucional ou não no próximo dia 28.

Como sempre, Gilmar Mendes já antecipou o seu voto:

Apesar de ressaltar não ter emitido ainda juízo de mérito sobre o tema, o presidente do STF voltou a sinalizar que vê restrições na demarcação da reserva em área contínua. "Causa espécie muitas vezes grandes extensões, principalmente no caso específico, em que havia núcleos habitacionais e municípios nessa área. Vamos analisar o tema tendo em vista a prova da posse indígena e todos os problemas surgidos", avaliou.

Curiosamente, gente ligada ao PCdoB se engajou ativamente na campanha contra a Raposa/Serra do Sol em nome de um "nacionalismo" de araque.

Na verdade o objetivo é tomar terras dos indígenas na mão grande usando como argumento a "defesa da soberania".

Mais um exemplo de doublespeak da extrema-direita brasileira.

Fonte: Vi o Mundo

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