quarta-feira, 24 de junho de 2009

Para romper o monopólio

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O Ministério Público move ação pelo fim das patentes pipeline, que impedem a produção de centenas de genéricos no Brasil.

Por Luana Lila

Depois de mais de dez anos da aprovação da lei que regula as patentes no Brasil, o Ministério Público Federal (MPF), a pedido da Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip) e da Federação Nacional dos Farmacêuticos (Fenafar), entrou com uma ação direta de inconstitucionalidade contra dois artigos da Lei de Propriedade Intelectual, aprovada em 1996. Os artigos preveem as chamadas patentes de revalidação, ou patentes pipelines, aquelas que foram aprovadas no Brasil depois de já terem sido previamente reconhecidas em outros países.

As patentes representam a propriedade sobre determinado invento tecnológico e garantem o monopólio da sua produção e comercialização por um período de vinte anos. Ao ser promulgada, a Lei de Patentes permitiu que patentes antigas fossem reconhecidas no País. Durante o período de maio de 1996 a maio de 1997, 1.182 pedidos de patentes pipelines foram depositados no Brasil, incluindo medicamentos essenciais para portadores do vírus da Aids.

Quando uma patente é depositada em qualquer país do mundo, ela tem o prazo de um ano para ser solicitada também em outros países. Depois desse prazo, se não solicitada, ela cai em domínio público, ou seja, sua tecnologia pode ser apropriada por qualquer um que tenha interesse na produção ou desenvolvimento dessa invenção. É assim que surgem os medicamentos genéricos, por exemplo.

A organização humanitária Médicos Sem Fronteiras monitora os preços dos medicamentos genéricos e identificou que, de 2000 a 2008, houve uma diminuição no preço da combinação de primeira linha utilizada no tratamento do HIV/Aids de mais de 10 mil dólares para 87 dólares por paciente por ano, graças à concorrência de medicamentos que possuem versões genéricas.

Segundo Gabriela Chaves, representante do Brasil na Campanha de Acesso a Medicamentos Essenciais, “mais patentes não trouxeram ao setor farmacêutico melhores medicamentos, ao contrário, geraram um monopólio em que as indústrias farmacêuticas podem sozinhas se beneficiar de um mercado em que não têm competidores”. A organização acredita que, se o mecanismo pipeline não tivesse sido incorporado à legislação brasileira, diversos remédios que atualmente consomem grande parcela do Orçamento do sistema público de saúde, como os antirretrovirais, referentes ao tratamento do HIV, poderiam ter sido comprados em suas versões genéricas a um preço muito menor.

É por isso que o Grupo de Trabalho sobre a Propriedade Intelectual (GTPI) propôs a ação de inconstitucionalidade à Procuradoria-Geral da República. Como explica Denis Barbosa, advogado e professor de propriedade intelectual da PUC-RJ, “o entendimento é de que aquilo que está em domínio público não pode ser extraído por força de lei porque a Constituição protege, em relação às tecnologias, apenas aquilo que é novo”.

Assim também pensa a gerente-executiva da Associação dos Laboratórios Farmacêuticos Nacionais (Alanac), Fernanda Perrone: “A pipeline seria uma forma de expropriar um bem comum do povo sem qualquer respaldo constitucional, uma vez que as patentes já se encontram em domínio público no Brasil, o que é irreversível e contraria a política de oferecer remédios genéricos e similares a preços reduzidos, o que os tornaria mais acessíveis à população”.

Jorge Raimundo, presidente do Conselho Consultivo da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma) não concorda. Para ele, os artigos não são inconstitucionais. “Quando a Lei de Propriedade Intelectual foi promulgada, o Brasil tinha ficado 51 anos sem patentes para medicamentos e, por isso, entendeu por bem colocar na lei esses dois artigos”, diz Raimundo. Segundo ele, àquela época, o País só tinha a ganhar com esses mecanismos, pois a contrapartida em reconhecer as patentes era o interesse de trazer para os pacientes brasileiros o tratamento a curto prazo. “Nenhum laboratório brasileiro na ocasião tinha condições de produzir qualquer um daqueles medicamentos. O Brasil deu um salto de qualidade na saúde naquele período porque passou a ter os mesmos medicamentos que a Europa e os Estados Unidos tinham, lançados quase simultaneamente.”

O preço, porém, talvez tenha sido muito caro, já que o monopólio de vinte anos concedido a uma única empresa não só atrasou o desenvolvimento da indústria farmacêutica brasileira como impediu a compra de genéricos de outros países. Renata Reis, da Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids (Abiaids), afirma que as consequências das patentes pipelines para o programa nacional de combate ao HIV foram enormes: “A grande base da resposta brasileira à epidemia de Aids nos anos 90 foi a capacidade nacional de produzir medicamentos genéricos para combater o vírus, mas, a partir do momento que o Brasil reconheceu patentes para medicamentos, essa política industrial de produção local foi abortada completamente”.

Um estudo da pesquisadora Lia Hasenclever, do Instituto de Economia da UFRJ, comparou os preços pagos pelo governo brasileiro, entre 2001 e 2007, para os cinco medicamentos antirretrovirais, utilizados no tratamento da Aids, com os preços dos mesmos comercializados internacionalmente. O resultado foi que o Brasil gastou 420 milhões de dólares a mais, a partir da comparação com os preços mínimos da Organização Mundial da Saúde, e 519 milhões de dólares a mais, comparando com preços mínimos da organização Médicos sem Fronteiras.

Um exemplo emblemático da dificuldade que o Brasil encontra em relação aos antirretrovirais é o medicamento Efavirenz, cuja patente pipeline, de 1992, era propriedade da empresa multinacional Merck Sharp & Dohme. Utilizado por 87 mil brasileiros, o medicamento foi o único sobre o qual foi decretada a licença compulsória, em 2007, popularmente conhecida como quebra de patente.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o menor preço que a Merck Sharp & Dohme vendeu o medicamento foi a 1,59 dólar o comprimido. Depois que o Brasil decretou a licença compulsória, passou a comprar da Índia uma versão genérica a 45 centavos de dólar o comprimido e, hoje, o medicamento é produzido no Brasil pela Fiocruz a 60 centavos de dólar. A economia, em dois anos, foi de cerca de 60 milhões de dólares.

Fonte: Carta Capital

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A internet sob controle

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por Guilherme Scalzilli

Publicado na revista Caros Amigos em junho de 2009

A tipificação de crimes virtuais constitui uma tendência mundial irreversível. Em meio a debate acalorado na comunidade digital, o Brasil também elabora legislação para monitorar a conduta do internauta e regulamentar a utilização de equipamentos, insumos e arquivos eletrônicos. Mas o necessário combate a práticas lesivas, como pornografia infantil e fraudes diversas, ameaça criar um sistema de vigilância sobre os usuários, atingindo a manifestação da opinião, a troca de informações e a privacidade.
Evidentemente, a medida favorece interesses corporativos diversos. Produtores e distribuidores das mídias tradicionais tentam resguardar seus vultosos lucros. As instituições financeiras não querem mais arcar sozinhas com o ônus da segurança digital. E o jornalismo impresso, que vive uma crise inédita de credibilidade, precisa limitar o trânsito de informações para garantir o monopólio da propaganda dissimulada a serviço dos seus apadrinhados políticos.
Além do pendor despótico, a investida repressora é marcada pela inviabilidade prática original. A fiscalização do universo virtual beira o impossível, e a idéia de que todo usuário (especialmente o malfeitor) poderá ser identificado e punido equivale a um delírio totalitário. Não há sequer consenso doutrinário sobre a propriedade intelectual e o direito de acesso a bens culturais ou educativos. Ademais, apesar da enganadora facilidade do manuseio cotidiano, a enorme complexidade técnica da rede escapa ao entendimento de seus tutores legais.
Ocorre que as legislações aparentemente inúteis possuem desdobramentos que ultrapassam os objetivos professados. A simples pretensão de enquadrar a internet nos mecanismos coercitivos do Estado burocrático revela o autoritarismo dos proponentes. O controle sobre a individualidade pode mudar os métodos, mas não sua essência.

Fonte: Blog do Guilherme Scalzilli

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Gripe Suína

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Gripe suína: adie idas ao Chile e Argentina

do site Vi o Mundo

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, recomendou hoje, em São Paulo, que idosos com 60 anos ou mais, crianças com até dois anos de idade e pessoas com baixa imunidade adiem viagens ao Chile e à Argentina para prevenir infecções pelo vírus Influenza A (H1N1) -- o vírus da gripe suína.

De acordo com o ministro, a recomendação foi definida com base em critérios epidemiológicos, uma vez que há grande número de casos da nova gripe no Brasil de pessoas que voltaram de viagem a esses dois países. Como se trata de uma recomendação, ela pode vir a ser estendida a outros países com quadros semelhantes aos do Chile e da Argentina.

Temporão ressaltou que o Ministério da Saúde não determinou a proibição de viagens para países afetados pela influenza A (H1N1). Segundo ele, deve haver “prudência e bom senso nesse momento”, uma vez que as férias estão chegando, o que aumenta a circulação de turistas brasileiros em países com casos confirmados da doença. “Essa é uma medida adicional e de prevenção”, afirmou o Ministro. “No Brasil, não há transmissão sustentada, mas todos os casos autóctones têm vinculo com infecção contraída fora do país”.

REFORÇO

Na nota distribuída à imprensa, o Ministério da Saúde acrescentou ainda que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) anunciou ontem (22), novas medidas para reforçar a vigilância em portos e aeroportos de todo o país, devido ao aumento do número de casos de Influenza A (H1N1) em países vizinhos do Brasil. Para isso, o país vai aumentar o alerta em todas as entradas do país para detectar, diagnosticar e encaminhar para tratamento casos de pessoas suspeitas de estarem infectadas pelo vírus.

As principais medidas anunciadas pela Anvisa são:

1 – A adoção da Declaração de Saúde do Viajante (DSV), harmonizada entre os Estados Partes do Mercosul, para monitoramento de todos passageiros que chegam ao país. A declaração vai permitir um acompanhamento mais rápido dos passageiros.

2 – A apresentação do documento será obrigatória para a entrada no país. O formulário será distribuído dentro do meio de transporte e deverá ser apresentado por cada passageiro, inclusive as crianças, cujos pais serão responsáveis pelos dados.

3 – Foram impressos 500 mil formulários que estão sendo distribuídos nos portos, aeroportos e áreas de fronteiras. O tempo médio de preenchimento do documento é de cinco minutos.

4 – As companhias aéreas serão obrigadas a fornecer a lista de passageiros junto com a Declaração Geral da Aeronave no momento da chegada do avião.

5 – Remanejamento de funcionários para fortalecer o controle nos postos de fronteiras com países da América do Sul e no aeroporto Internacional de Guarulhos.

Fonte: Vi o Mundo


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Gripe suína: esclareça as suas dúvidas


por Conceição Lemes

Desde sexta-feira, dia 24, a influenza suína, ou gripe suína, está no noticiário do mundo inteiro devido à ocorrência da infecção em humanos no México e nos Estados Unidos. São casos graves de pneumonia possivelmente associados ao surgimento de uma variante do vírus da influenza suína A/H1N1.

O Comitê de Emergência da OMS, reunido nesse sábado, dia 25, em Genebra, analisou os dados clínicos, epidemiológicos e virológicos disponíveis dos casos notificados. Detectou que faltam informações mais precisas para a OMS tomar as medidas adequadas. Apesar disso, concordou que a situação atual constitui uma emergência de saúde pública de preocupação internacional. A OMS recomendou a todos os países que intensifiquem a vigilância de surtos incomuns de doenças parecidas com gripe e pneumonia grave.

No Brasil, até o momento, não há evidências da circulação do vírus da influenza suína -- nem em humano nem em animais, segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (SVS/MS).

No entanto, a SVS/MS decretou alerta de emergência em saúde pública desde sexta-feira. Representantes do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e do Ministério da Agricultura se reunirão diariamente em Brasília para acompanhar a evolução epidemiológica da situação e indicar as medidas adequadas ao país.

VIGILÂNCIA 24 HORAS, NOSSA GRANDE ARMA
Desde 2005, o Brasil conta com uma rede de vigilância capaz de monitorar a circulação das cepas de vírus respiratórios e, imediatamente, acionar “alarmes” para enfrentamento de emergências de saúde pública.

As Coordenações Estaduais de Vigilância em Saúde já foram acionadas para intensificar o processo de monitoramento e detecção de casos suspeitos e comunicá-los, no ato, ao Ministério da Saúde. Também foi intensificado o monitoramento dos viajantes procedentes do México e dos Estados Unidos nos aeroportos brasileiros. Afinal, vigilância 24 horas é a nossa grande arma não só contra a gripe suína, mas contra todas as doenças infecciosas, novas ou antigas.

“As vacinas atualmente disponíveis não oferecem proteção contra infecção deste vírus”, alerta o Ministério da Saúde. “Portanto, até o momento, não há indicação de uso da vacina contra influenza como medida de prevenção e controle da gripe suína”.

Por enquanto, as recomendações do Ministério da Saúde são estas:

* Passageiros que, nos últimos dez dias, chegaram do México e Estados Unidos e apresentem febre acima de 39 graus, acompanhada de tosse e/ou dores de cabeça, nos músculos e nas articulações, devem procurar unidades de referência de atendimento na rede pública de saúde.

* Passageiros procedentes desses países que desembarcarem no Brasil já com esses sintomas, devem procurar o posto da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no aeroporto de desembarque.

* Consumo de produtos de origem suína não representa risco à saúde das pessoas.

* É totalmente dispensável o uso de máscaras, como está acontecendo no México.

OMS ESCLARECE AS DÚVIDAS MAIS FREQUENTES
Preocupada com o pânico que a desinformação acarreta, a OMS divulgou hoje um boletim, esclarecendo as dúvidas mais freqüentes. As respostas abaixo são própria OMS.

O que é a gripe suína?
A gripe suína, ou influenza suína, é doença respiratória aguda altamente contagiosa freqüente em porcos, causada por um ou vários vírus A da gripe suína. A morbidade tende a ser alta e a mortalidade, baixa (1-4%). O vírus dissemina-se entre os porcos através de aerossóis e por contato direto e indireto; há registro de porcos portadores assintomáticos. Ocorre entre porcos ao longo de todo o ano, com maior incidência no outono e inverno e em zonas temperadas. Em muitos países, vacina-se rotineiramente os porcos contra a influenza suína.

Os vírus da influenza suína são mais comumente do subtipo H1N1, mas há outros subtipos também freqüentes em porcos (por exempplo, H1N2, H3N1, H3N2). Os porcos também podem ser infectados por vírus da gripe aviária e por vírus da influenza sazonal humana. Pensava-se que o vírus suíno H3N2 tivesse sido introduzido originalmente nos porcos por humanos.

Em alguns casos, os porcos podem ser infectados, ao mesmo tempo, por mais de um tipo de vírus, o que possibilita que os genes desses vírus se misturem. Daí poder resultar um vírus de influenza que contenha genes de várias origens – o chamado vírus recombinante. Embora os vírus da influenza suína sejam normalmente específicos e só infectem porcos, acontece às vezes de ultrapassarem a barreira da espécie e provocar doença em humanos.

Quais as implicações para a saúde humana?
Têm sido relatados ocasionalmente surtos e infecção esporádica de humanos pela gripe suína. Os sintomas clínicos genéricos são semelhantes ao da gripe sazonal, mas os relatos de apresentações clínicas variam muito, desde infecção assintomática até pneumonia severa, resultando em óbito. Uma vez que a apresentação clínica típica da infecção por gripe suína em humanos é muito parecida com a da influenza sazonal, a maioria dos casos foi detectada por acaso, na vigilância contra a influenza sazonal. Casos leves ou assintomáticos podem não ter sido identificados, motivo pelo qual não se conhece a real extensão da doença entre humanos.

Onde ocorreram casos da doença em humanos?
Desde em 2007, quando passou a haver uma regulamentação internacional, a OMS foi notificada da ocorrência de casos de gripe suína nos EUA e na Espanha.

Como ocorre a infecção em humanos?
As pessoas, quase sempre, são infectadas pelo contato com porcos. Mas em alguns casos não há histórico de contato nem com porcos nem com ambientes em que tenha havido porcos. Há alguns registros de transmissão da doença entre humanos, mas sempre limitada a contato muito próximo em grupos de convivência próxima.

É seguro comer porco e produtos de carne suína?
Sim. Não há registro de transmissão da gripe suína por ingestão de alimentos adequadamente manuseados e preparados com carne de porco ou outros produtos derivados de porcos. O vírus da gripe suína não resiste à cocção em temperaturas superiores a 70°C, como se recomenda para a preparação de carne de porco e outras carnes para alimentação humana.

Que países foram afetados por surtos da doença em porcos?
A gripe suína não é de notificação obrigatória para as autoridades internacionais de saúde animal. Por isso, não se conhece muito bem a distribuição internacional da doença. A gripe suína é considerada endêmica nos EUA. Sabe-se de surtos em porcos na América do Sul e do Norte, na Europa (incluindo Inglaterra, Suécia e Itália), na África (Quênia) e em áreas do Leste da Ásia, incluindo China e Japão.

Há vacina para proteger seres humanos contra a gripe suína?
Não. Os vírus da influenza modificam-se muito rapidamente e é muito importante que a vacina e o vírus circulante correspondam um ao outro para que a imunização seja eficaz. Essa é a razão pela qual a OMS tem de selecionar duas vezes por ano os vírus a serem incluídos na vacina contra a gripe sazonal. Uma vez para o inverno no Hemisfério Norte; outra para o inverno No hemisfério sul. A vacina atual contra a influenza produzida a partir das recomendações da OMS não contém o vírus da gripe suína.

Deve-se tomar antivirais para prevenir e tratar a infecção pelo vírus da gripe suína?
A informação disponível não é suficiente para que se recomende o uso de antivirais na prevenção e tratamento da infecção por vírus da influenza suína.

Importante: até o momento a Organização Mundial de Saúde não recomendou restrições de viagens às áreas afetadas nem de entrada de passageiros vindos desses países. Nessas situações, é vital as autoridades de saúde esclarecerem sistematicamente a população sobre a situação real, sem ocultar nada, apenas a verdade. E você informar-se. Por isso, o Viomundo atualizará o assunto sempre que houver alguma novidade importante.

Fonte: Vi o Mundo

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A greve na USP e a fala de Antonio Candido

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Editorial Correio da Cidadania

A presença de Antonio Candido no ato público de apoio à greve dos funcionários administrativos da Universidade de São Paulo deu ao movimento um novo significado: não se trata apenas de uma justa reivindicação salarial; trata-se do resgate de um sonho.

Antonio Candido é uma das mais brilhantes e legítimas expressões da geração de intelectuais que sonharam com a possibilidade de transformar o Brasil em uma verdadeira Nação. Isto não poderia ser feito sem um instrumento de reflexão, de debates, de diálogo democrático entre pensamentos opostos – enfim, sem um "ambiente" verdadeiramente universitário.

Que aquela geração de uspianos foi fiel ao sonho, atesta-o a sanha dos militares contra seus professores e alunos nos anos da ditadura; que o sonho ainda perturba os setores reacionários da sociedade, dão testemunho os comentários assustados que a respeito da fala de Antonio Candido têm saído na imprensa burguesa.

Esta fala teve o mérito de oferecer ao movimento grevista - e a todos, professores e alunos, inconformados com a situação atual da universidade - uma perspectiva mais ampla e gratificante do que a mera reivindicação corporativa. Sem mencionar diretamente o assunto, Antonio Candido colocou a reivindicação dos funcionários na visão maior do lugar da Universidade no país.

Salários adequados; carreiras universitárias; laboratórios; instalações; verbas para pesquisa. Tudo isto é necessário, mas não vale nada se não houver "clima universitário". E não há "clima universitário" sem independência política e financeira da Universidade.

O que está havendo na USP é a deterioração do "clima universitário" e o culpado é o sutil processo de privatização que seus atuais dirigentes impulsionam. Tal processo provocou a fissura, que se estabeleceu entre professores e departamentos financiados pelo capital privado para fazer pesquisas, de um lado, e professores sem recursos para fazê-las de outro.

A docilidade dos "financiados" às fontes de seus recursos responde pela alienação política da maioria do alunado, e o avanço da privatização reduz os recursos públicos para atender às legítimas reivindicações de professores, alunos e funcionários administrativos da instituição.

Não há como escapar dessa contradição nem como contorná-la sem trazê-la à tona e sem travar em torno dela uma disputa política aberta, porque ela só poderá ser resolvida com a vitória dos que consideram a existência de uma intelectualidade livre e independente, política e financeiramente, a primeira condição para a construção de um Estado-Nação.

A presença de um intelectual do porte de Antonio Candido no campus da USP deu o tom da disputa que precisa ser feita: a população de São Paulo quer uma universidade para formar operadores das grandes empresas capitalistas ou para servir ao povo brasileiro?

Fonte: Correio da Cidadania

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Com a cumplicidade do governo e da mídia, ‘Vale é uma máquina de destruição’

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por Gabriel Brito e Valéria Nader*

Depois de escabrosas e evidentes irregularidades da época da privatização, cujas vantagens apregoadas seguem desconhecidas do grande público, a Companhia Vale do Rio Doce voltou a ser alvo de denúncias no Senado. Desta vez por diversas irresponsabilidades ambientais, dentre outras, apontadas por três advogados trabalhistas da cidade de Parauapebas-PA (Carlos Viana Braga, Geraldo Pedro de Oliveira Neto e Rubens Motta de Azevedo Moraes Júnior).

Comprovados como estão, e de total conhecimento público, os prejuízos ao meio ambiente causados pela empresa – contrariamente ao apregoado nas várias incursões midiáticas da Vale -, o Correio da Cidadania conversou com duas importantes figuras das regiões de atuação da Vale - das poucas que ainda combatem as mazelas provocadas pela multinacional que, desde sua privatização, provoca danos ambientais e sócio-econômicos crescentes ao país, repassando a seu critério os ‘royalties’ devidos ao governo e criando nichos de miséria por onde seus tratores escavam.

Na entrevista que se segue, o jornalista Rogério Henrique de Almeida e o cientista social Raimundo Gomes da Cruz Neto, também agrônomo, tentam explicar por que um dos símbolos máximos da exploração no Brasil ainda causa tanta desgraça na vida de milhares de brasileiros, ao mesmo tempo em que seu prestígio segue intacto com todos os governos que cruzam seu caminho.

Correio da Cidadania: Qual é o foco maior da Vale hoje, o mercado interno ou o externo?

Rogério Henrique Almeida: A empresa atua em escala planetária, segundo a conformação das regras de aguda disputa pelas terras e as riquezas lá existentes. No campo nacional a empresa tem orientado ações de logística. Em particular com geração de energia. Ela integra consórcios para a construção de hidrelétricas em todo o país. Em Minas Gerais, construiu a hidrelétrica de Igarapava em consórcio com a Cemig e outras empresas privadas (CSN, Votorantim Metais, Anglo Gold).

A Vale tem hoje pelo menos 12 empreendimentos no setor, onze em Minas Gerais mais a hidrelétrica de Barra Grande, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. O projeto é acusado de burlar a lei ambiental para obter as licenças exigidas. Isso é uma praxe no setor.

Na fronteira do Maranhão com o Tocantins ela integra também o Consórcio Ceste, que aglutina as grandes corporações do quilate da Camargo Corrêa (4,44%), ALCOA (25,49%), Vale (30%) e a belga Suez-Tractebel (40,07%). Trata-se do maior empreendimento do setor em andamento no país. O rio Tocantins já começa a ser concretado. Assim como no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, há inúmeras ações nos ministérios públicos estaduais e federais da região. O custo da obra é estimado em 2,5 bilhões de reais para que Estreito gere 1.087 megawatts de energia.

No campo internacional, em 2006 a Vale comprou a empresa canadense INCO e se tornou a segunda maior mineradora do mundo. Com relação a esta empresa, tudo é estratosférico.

Raimundo Gomes da Cruz Neto: Na nossa compreensão, principalmente em relação ao ferro e ao níquel, trata-se de uma visão muito mais voltada ao mercado externo do que ao interno. Tanto que, de tudo que se produz, cerca de 95% vai para o Porto de São Luiz. O pouco que resta é transformado em produto de uso interno, mas também exportado. As 98 milhões de toneladas de ferro produzidas no ano passado foram exportadas.

CC: Houve uma expansão muito significativa pós-privatização? Quais foram as principais conseqüências dessa expansão?

Raimundo: Houve uma correria no setor - dizem que também provocada pelo mercado, que assim se favorecia por tabela -, principalmente por parte da China, que se tornou uma potência de produção e uso dessas matérias primas. E hoje há todo um projeto de duplicação da ferrovia que leva ao porto de São Luiz.

A idéia esse ano era de a produção chegar a 120 milhões de toneladas de ferro, e há uma projeção de se chegar a 350 milhões de toneladas em 2015, sendo desse montante 200 milhões da região de Carajás e o restante do sul/sudeste do estado. Há uma tendência muito grande, que pode ser vista aqui, a esta expansão.

E há outros projetos, como o de cobre, denominado Sossego, com quase três anos de extração e exportação de minérios de cobre; temos também a implantação de projeto de níquel; em Canaã dos Carajás, há um projeto de exploração de níquel vermelho; e há ainda outros dois em andamento: o Salobo, em Marabá, e o Cristalino, também de cobre, no município de Curionópolis. Nenhum desses projetos foi paralisado, apenas tiveram suas atividades reduzidas. No mês passado, visitamos o Salobo e presenciamos como de fato ele tem sido levado adiante na região.

E tanto é verdade o fato de as atividades prosseguirem em bom ritmo que o lucro da Vale no 1º trimestre de 2009 foi correspondente ao do mesmo período de 2008. Portanto, não houve queda nos rendimentos da empresa. Claro que essa manutenção do lucro também passou pela redução da mão-de-obra, com cortes bem significativos, redução de salário e corte de horas extras. Mas o nível de trabalho foi mantido.

CC: Quais são as agressões ambientais mais significativas advindas das atividades da Vale? Quais as atividades mais impactantes e os estados mais prejudicados?

Raimundo: Aqui temos exemplos que estão diretamente relacionados com as populações, como o Salobo, onde já se identifica degradação ambiental e desmatamento, com os córregos Salobo e Igarapé sendo transformados em serras de rejeito.

Todo o trabalho de preparação das infra-estruturas que está sendo feito no Salobo já possui desmatamento de floresta, remoção de terras e tudo mais. A construção de estrada já passa pelas áreas de castanhais, onde os índios fazem coletas. Já derrubaram em torno de 300 castanheiras. Nada, nada, são uns 500 hectolitros de castanha que os índios deixam de coletar por conta de tal processo.

Desde que se iniciou o funcionamento do projeto Sossego, em março, as famílias reclamam permanentemente e estão em pé de guerra com a Vale. Isso porque a construção de diques e a montanha de rejeitos erguida na área criaram dificuldades de fazer as águas do córrego se espalharem, o que as faz se represarem nas áreas dos agricultores. Não à toa os agricultores tiveram grandes perdas de pastagens, arroz e outros cultivos na área do Sossego, em Canaã dos Carajás, por conta dessa inundação de março, na qual algumas casas ficaram com até dois metros de altura, o que nunca tinha acontecido na região.

Há também problemas de rachaduras nas casas por causa das explosões de dinamites, além dos odores que essas explosões trazem, inclusive para aqueles cidadãos que moram a três, cinco quilômetros do local. Enfim, a Vale é uma máquina de degradação e destruição. Continuam a reduzir os trabalhos, mas na verdade prosseguem com eles, pois já temos os igarapés dos trabalhadores com água contaminada, e isso por conta das remoções de terras, construções de barragens e trabalhos de infra-estrutura que a empresa desenvolve no município de Ourilândia do Norte.

Portanto, são diversos os impactos, que incluem linhas de transmissão de energia, estradas e todo o aparato de infra-estrutura, o que vem causando problemas às famílias que vivem próximas ou no entorno de tais projetos.

Rogério: Posso falar um pouco do caso do estado do Pará com base em pesquisas e denúncias de organizações de base rural e defensores de direitos humanos. No município de Barcarena, a norte do estado, onde ela mantém duas plantas industriais para a transformação da bauxita em alumina e da alumina em lingotes de alumínio, têm sido constantes os acidentes com transbordamentos do tanque de contenção dos rejeitos para os rios. Em particular o Murucupi.

Quando o Sindicato dos Químicos tinha um caráter mais combativo, era ele o mediador das denúncias dos passivos sociais, ambientais e da situação de assédio moral e insalubridade nas fábricas. A situação em alguns setores era tão delicada que, para cada ano de trabalho, somava-se mais um para a aposentadoria. As condições precárias em alguns setores fizeram com que operários com seqüelas criassem uma associação no sentido de rever direitos. A associação denuncia problemas de saúde mental, cardíaco, entre outros.

É importante sublinhar que a principal atividade da empresa no Pará é a mineração. Trata-se de extrativismo. Isso não dinamiza a economia local. O que os economistas analisam são projetos de enclave, que não se relacionam com o entorno para dinamizar outras cadeias. Grandes projetos sempre expropriam as populações locais em qualquer lugar do mundo em que são implantados. A cena econômica que predomina é o extrativismo mineral. A questão na qual não se toca é o que será do Pará quando os minérios findarem.

CC: Nesse sentido, como avaliam as acusações de diversos movimentos da sociedade a respeito da complacência do poder público e judiciário em relação às atividades da empresa e também ao seu modo de se relacionar com a população?

Raimundo: O Estado é subserviente, essa é a posição do Estado do Pará em relação a tais interesses. É inegável a postura do governo federal diante da Vale. O presidente Lula virou grande amigo do presidente da Vale (Roger Agnelli). Para o governo, é como se a empresa ainda fosse parte do Estado. Eles consideram assim, por isso se permite tudo por aqui.

Já fizemos diversas reclamações junto ao MP, que foram realmente levadas à justiça. No entanto, não há ganho de causa em nenhuma. Portanto, entendemos que há um grande aparato jurídico-estatal a serviço do capital. Não tem outra explicação. Prova disso é que, para o governo do estado, a Alcoa é a âncora do desenvolvimento do oeste paraense, onde ela destrói 20 mil hectares de floresta nativa e uma população histórica, tradicional, com raízes desde 1818, desde o primeiro contato com os brancos. São quase 10 mil famílias atingidas pela Alcoa, mas, para o governo, ela é a âncora do desenvolvimento estadual. E no sul/sudeste, é a Vale. Eis a compreensão e o papel exercido pelo Estado.

Rogério: A Vale é uma empresa de alcance planetário. E para a maioria da população daqui ela é o que a propaganda vende: geradora de emprego, desenvolvimento e cumpridora das "responsabilidades sociais". O poder dela se amplifica sobre as mais diferentes formas de representação do poder local: economia, política, comunicação, justiça e outras esferas.

CC: Ou seja, é essa cumplicidade dos governantes que faz a Vale se sentir à vontade para agir com mais truculência com os trabalhadores e populações locais.

Raimundo: Certamente. Numa reunião da Vale com os trabalhadores - e já assisti a algumas, fazendo intervenções -, eles tratam os trabalhadores como desconhecedores, ignorantes. Para eles, só os técnicos e engenheiros da Vale conhecem as coisas e são capazes de realizá-las, e as reclamações de todos são tidas como infundadas, sem sentido.

É esse o tratamento, debochante, como se tudo e todos fossem insignificantes. É assim que o Estado assume seu papel: permite que a Vale retire nossos recursos a preço de nada, pois a CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) varia de 1 a 13% no cobre e, no níquel, fica em 2%. E quem faz a contabilidade é a empresa, que por sua vez se referencia no lucro líquido. Quer dizer, a empresa tem todo o espaço e liberdade para dizer o que deve ser passado ao Estado ou não. E nisso ficamos só com as migalhas.

A região em que a Vale atua no sudeste é dona dos maiores índices de criminalidade, prostituição, roubo, furto, estupro, falta de serviços de saúde, moradia, educação. E tudo acima dos índices do restante do estado. É sob este clima que vivemos aqui.

CC: Rogério disse acima que, para a maioria da população, a Vale é a propaganda que vende. Como lidar com as inserções publicitárias da empresa quanto à sua responsabilidade social e ambiental, frente à realidade?

Raimundo: A empresa, além do Estado, em sentido literal, possui um outro Estado a seu dispor, no caso a mídia. A mídia nacional, ela tem na mão de cabo a rabo; os veículos municipais, um monte de jornalzinho vagabundo, querem todos ser comprados. Não diria comprados, porque se entregam por migalhas, mas querem prestar serviços e partilhar de alguma migalha que a Vale possa dar. Em suma, a empresa tem a TV, o jornal, o rádio. O jornal em que escrevia alguns artigos já não publica mais meus textos, uma vez que não é permitido falar da Vale, que também é dona de algumas páginas do mesmo jornal.

O que eles praticam é uma autêntica manipulação da consciência do povo com todos esses instrumentos. A mídia endossa. Portanto, são muito grandes as dificuldades de se enfrentar tal realidade, já que não há instrumentos, tornando tudo muito lento. E pra cá vem um montão de gente necessitada, gente em busca de trabalho para se salvar. Qualquer coisa que surja (vaga de ajudante de carpinteiro, pedreiro, serviços gerais, que são a oferta da região) ilude as pessoas por um tempo, manipulando suas consciências e passando a idéia do progresso, do desenvolvimento.

A empresa anuncia 10 km de asfalto em Marabá – que é grande, com 200 mil habitantes, porque nas cidades pequenas são 500, 600 metros – e pronto, o prefeito já está entregue. A política hoje possibilita tudo, qualquer coisa, qualquer desqualificado que tiver uma campanha com dinheiro se elege.

Esse é o quadro caótico pelo qual passamos neste momento histórico, com as empresas gerenciando o Estado, que por sua vez não tem política e apenas se adéqua à das empresas.

Rogério: Nos locais em que a Vale atua não se publica nada contrário aos seus interesses. Há uma hipertrofia de poder. Os meios aqui no Pará operam no sentido de criminalizar qualquer ação dos movimentos sociais, em particular os ligados à luta pela terra. Quando a empresa é multada por crime ambiental, as mídias não cobrem os fatos, elas dão visibilidade para a explicação da empresa.

Mas a questão é mais complexa. Existe a fragilidade nas estruturas dos órgãos de fiscalização, além do poder da Vale e das relações dos bastidores da política. Avalio que o horizonte tido aqui é o de que a Vale é uma grande incógnita para os mais diferentes setores. Os que ganham alguma migalha silenciam. E isso passa pelas universidades e associações comerciais.

CC: O que pensam da idéia, defendida por algumas correntes, de reestatização da Vale? Há pressão social e condições políticas para tal?

Rogério: É um campo meio complicado. Talvez se ela tivesse quebrada como a GM...

Raimundo: A luta é bem maior, isso porque nunca pensamos pelo lado da reestatização da empresa. Somos de uma turma que luta primeiramente pela anulação do leilão, para desmascarar esse roubo que FHC e sua turma praticaram contra o Brasil.

Para a empresa voltar ao Estado, devemos discutir mais coisas, pois antes também questionávamos o papel exercido pela Vale na região. Não é tão simples, trata-se também de um processo de repensar a forma pela qual ela seria gerida. Anular o leilão é inegavelmente importante, mas o modo como se pensará a Vale no futuro configura outro debate, para que um dia ela possa atender aos interesses da população, e não aos dos acionistas, donos do capital.

*Valéria Nader, economista, é editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.

Fonte: Correio da Cidadania

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O Plano Diretor de São Paulo

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do site Luis Nassif Online

Por Felipe

Olá,

Que tal falarmos sobre o novo plano diretor da cidade de São Paulo? Na primeira audiencia publica, kassab foi incansavelmente vaiado.

O Publico reclamava que a cidade estava sendo colocada a venda.

Uns dizem que a prefeitura esta jogando no lixo o plano diretor atual, que foi discutido na gestão passada.
Outros falavam das doações das empreiteiras ao prefeito e a 29 vereadores.

Outros falavam dos cortes de grandes árvores na Marginal para a ampliação do número de pistas (obra que ja começou).

E tudo isso esta acontecendo sem a menor participação da sociedade.

Talvez aqui seja um bom lugar para começar a discutir sobre o assunto.

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Por Euclides Oliveira

A revisão do Plano Diretor já era prevista em lei, só que esta determinava ampla consulta e o consequente debate com a população da cidade para legitimizar as alterações que porventura fossem nela (revisão) propostas. Ocorre que o atual alcaide pretendeu fazer as alterações passando por cima da sociedade civil, com o mais do que evidente propósito de beneficiar construtoras e incorporadoras, comprometendo assim um plano que nasceu bom (pelas mãos competentes do Jorge Wilheim) mas que foi desfigurado por modificações feitas na Câmara pelos vereadores à serviço do “lobby” da construção civil.

Outro absurdo desta gestão catastrófica da prefeitura de São Paulo é o projeto “Nova Luz”. Quando os movimentos para a recuperação do centro histórico de São Paulo começaram a aparecer na grande mídia, comecei a temer pela gentrificação (este termo ainda não era usado na época) de um dos pouquíssimos espaços urbanos qualificados ainda usufruídos pela população pobre e a pequena classe média paulistana. Uma transformação elitista do centro, imitando as operações urbanas realizadas nas metrópoles centrais do capitalismo globalizado, só contribuiria para agravar a injustiça e a desigualdade social que são a marca registrada de nossa cidade e do nosso país. E pelo que vejo, é exatamente isto o que está acontecendo sob os governos dos senhores Serra e Kassab.

A vocação do “centrão” como núcleo comercial e como nó de articulação do transporte público (nele existem dois grandes terminais de ônibus urbanos, a interligação de duas linhas do metrô além das estações da CPTM) já está consolidada. Falta reabilitar sua função habitacional com ênfase na habitação popular, pois os ricos já tomaram outros rumos. No local existem centenas de edifícios desocupados do primeiro andar para cima, pois apenas o aluguel das lojas no térreo já compensa a manutenção dos mesmos do jeito que estão. Estes pavimentos abandonados poderiam ser desapropriados a preço de banana e adaptados para moradia de famílias de baixa renda; a localização é ideal, no centro não faltam meios de transporte, empregos, escolas públicas, bibliotecas, parques e praças, etc.. Mas como tal ação não traria nenhum benefício às nossas elites brancas (como dizia o ex-governador Claudio Lembo) … Para terminar, um lembrete quanto à demolição indiscriminada de quarteirões inteiros da Luz: até os animais não voltam ao seu local de origem quando vêem que a sua paisagem foi modificada. Entre os homens, a memória de suas cidades não deveria ser jamais um joguete nas mãos de políticos ambiciosos e inescrupulosos.

Quanto a duplicação da marginal, basta um simples olhar sobre as fotografias mostrando árvores sendo derrubadas para darem lugar a mais asfalto para se ter idéia do crime que está sendo cometido nesta cidade contra o meio-ambiente. O transporte individual já deveria ser coisa do passado; enquanto o mundo responsável luta pela recuperação da nossa atmosfera, pela regeneração da natureza, pela sustentabilidade energética, continuamos a criar mais vias de automóveis para termos mais engarrafamentos, mais poluição do ar, menos áreas verdes, etc..

Fonte: Luis Nassif Online

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Gravataí Merengue era mesmo autor no blog anônimo de difamação contra Luis Nassif

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por Idelber Avelar

Dada a fúria com que eu defendo aqui a liberdade de expressão, alguns leitores podem talvez pensar que isso implique a defesa de um suposto direito de dizer qualquer coisa, de qualquer forma, sobre qualquer pessoa. Evidentemente, não é este o caso. Conheço os artigos 138 a 145 do Código Penal e, apesar de não ser advogado, já refleti um mucadinho sobre a complicada tarefa que é equilibrar esses artigos com a liberdade de pensamento garantida pela Constituição Federal.

Numa crítica a um livro, por exemplo, mesmo que muito satírica, acho descabido mover um processo por injúria. Sou fortemente influenciado, nesses casos, pela jurisprudência americana, que reza que, em caso de potencial conflito entre a liberdade de expressão e qualquer outro princípio, a coisa tem que ser bem cabeluda para que não prevaleça aquela.

É claro que um blog anônimo dedicado a atacar alguém com material difamatório é outra coisa, bem distinta. É este o caso que nos ocupa hoje. Ele é particularmente chato para mim, porque envolve uma pessoa que conheço e que me recebeu com muito carinho em São Paulo. Peço que acompanhem o cuidado que o Biscoito teve com esta matéria.

No dia 8 de junho, Luis Nassif publicou um post intitulado A turma do anonimato, em que ele relatava que havia sido desmascarado o blog anônimo dedicado a atacá-lo com as requentadas acusações acerca de sua negociação com o BNDES. O post de Nassif informava que o Google havia sido acionado para fornecer os dados do responsável pelo blog anônimo. A empresa respondeu, identificando um email pertencente à mãe do Gravataí Merengue (pseudônimo de Fernando Gouvêa) e uma linha registrada em nome de seu pai.

Imediatamente, eu me comuniquei com o Nassif, dizendo que ele havia provado que existia mesmo um blog registrado em nome da família do Gravataí, mas que, na ausência de uma URL ou de um arquivo com o conteúdo do blog, eu ainda precisava de mais evidências. Tratei o assunto passo a passo, sempre com a presunção de inocência. Naquele momento, o Gravataí escreveu um post que, na minha opinião, era uma confusão só, onde não se respondia a simples pergunta: ele foi ou não foi responsável por um blog anônimo de ataques caluniosos ao Nassif?

Abro um parênteses para esclarecer direitinho o que eu entendo por “anonimato”. “Gravataí Merengue” não é “um anônimo”. É o pseudônimo de Fernando Gouvêa, conhecido na internet. O Hermenauta não é “um anônimo”. É o pseudônimo de alguém que trabalha em Brasília. No caso de que cometesse alguma ilicitude, ele seria facilmente identíficável. Eu jamais chamaria o blog de ataques ao Nassif de “anônimo”, por exemplo, se Gravataí o houvesse assinado com seu pseudônimo. O blog era anônimo mesmo, ou seja, estava nítido o propósito de ocultamento da identidade. Acredito que a minha compreensão do termo coincide com a do advogado de Nassif, o Dr. Marcel Leonardi (esse é doutor mesmo, com doutorado na USP).

Pois bem, recebi do Nassif um pdf com o conteúdo do blog. A URL era bndesnassif.blogspot.com. Não adianta ir lá, evidentemente, pois o blog foi removido. O conteúdo é claramente difamatório: um arrazoado de acusações e ilações feitas a partir de uma renegociação de dívida. As ofensas reiteradas tinham o claro propósito de difamar. Eu assumi com Nassif – sem que ele jamais me pedisse isso, que fique claro – o compromisso de que eu não disponibilizaria esse pdf para ninguém, a não ser duas ou três pessoas de minha confiança. Afinal de contas, a vítima não tem obrigação de sair por aí disseminando conteúdo difamatório contra si mesma. Se o conteúdo tiver que vir à tona, que venha em tribunal. Eu li o suficiente para sustentar o que afirmo aqui.

Mas o cuidado d' O Biscoito Fino e a Massa com a presunção de inocência e o direito de resposta não parou nesse ponto. Entrei em contato com o Gravataí de novo, perguntando se ele confirmava ou não ter sido o responsável pela URL bndesnassif.blogspot.com. Não posso publicar a minha correspondência passiva sem autorização do envolvido, mas a ativa eu posso, sim sinhô. Meu email era:


Gravata, meu velho,

Direito de resposta pra mim é sagrado. Pergunta clara, límpida, cristalina, fora de qualquer política: foi você ou não foi você o responsável pelo conteúdo do blog cuja URL era bndesnassif.blogspot.com?

Aguardo sua resposta. Abração,

Idelber



A resposta do Gravataí a essa pergunta era de que a ela não se respondia com um simples “sim” ou “não” e de que ele até responderia se o conteúdo do blog estivesse disponível. Depois havia um monte de outras coisas que não respondiam minha pergunta.

Dada por encerrada a minha investigação sobre este lamentável episódio, registro o post, pois, com esse título, sem nenhum medo de errar. Note-se que meu título não pressupõe que o Gravataí fosse o único autor do blog. As pessoas de minha intimidade sabem que eu torci para que o Nassif estivesse equivocado, mas o fato é que ele estava certo. Mais uma vez. Infelizmente.


PS: Como eu me encontro de viagem ao Mato Grosso do Sul, a moderação de comentários está instalada. Considerando-se a natureza do caso, não posso pedir a ninguém que aprove comentários em meu nome. Por favor, tenham paciência. Vai demorar um pouco. A caixa evidentemente também está aberta para que o Gravataí se defenda.

Fonte: O Biscoito Fino e a Massa

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Senado: salve-se quem puder

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por Luiz Antônio Magalhães

Está cada vez mais quente o clima no Senado Federal. Com as demissões do diretor-geral da Casa e do diretor de Recursos Humanos, é possível que a situação melhore, momentaneamente, mas este blog duvida que os problemas sejam totalmente sanados. O que está em curso é uma histórica disputa pelo Poder no Legislativo, com evidentes implicações na sucessão presidencial. Para quem não entendeu nada até agora, a explicação mais simplificada é a seguinte: o governador José Serra (PSDB) quer detonar a ala governista do PMDB - Sarney é o maior expoente desta ala e adversário pessoal de Serra desde o tempo da candidatura de Roseana Sarney. Com o perdão da má expressão, Serra quer ferrar Sarney. Se fosse só ele, porém, talvez o jogo não estivesse tão pesado, apesar da conhecida truculência do governador paulista. O problema é que há uma ala do PT que também não deseja ver o PMDB tão fortalecido.

E tudo isto ocorre em meio a uma outra disputa, nos andares inferiores da Casa, na qual as viúvas de Agaciel Maia distribuem dossiês a torto e a direito, para intimidar os senadores que poderiam assumir um papel de liderança neste momento. Como todo mundo comeu na mão de Agaciel, inclusive os tais "éticos" - vide os casos dos benefícios concedidos à mulher de Cristovam Buarque ou à namorada de Eduardo Suplicy –, o bicho pega de verdade. O tucano Arthur Virgílio está tentando assumir a liderança - já esclareceu que Agaciel mandou uns euros amigos para a sua conta quando seu cartão de crédito o deixou na mão em Paris -, mas a tarefa não é fácil porque todos os colegas têm algum rabo preso e preferem que as coisas se resolvam sem muito alarde. Porém, sem uma solução negociada, o pau vai continuar a comer no andar de baixo e no de cima. Este blogueiro acha que o Senado vai se arrastar na crise até a próxima as eleições de 2010, com chances de carregar a "herança maldita" para a próxima legislatura.

Fonte: Blog Entrelinhas

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terça-feira, 23 de junho de 2009

Laerte Braga: "a mídia vende a mentira dos donos"

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O que a mídia quer que você pense

por Laerte Braga*


Quem que preste o mínimo de atenção ao noticiário dos grandes veículos de comunicação vai constatar que o nome do criminoso Daniel Dantas desapareceu do cenário. Permanecem o do delegado Protógenes Queiroz e do juiz De Sanctis sendo massacrados pela suposta assepsia da mídia em pequenas notícias aparentemente isentas.

Sobre a gravação que não houve – ninguém viu só a revista VEJA, porta-voz oficial do crime legalizado – de uma conversa entre o criminoso Gilmar Mendes (presidente um departamento das empresas de Dantas, A STF DANTAS INCORPORATION LTD) e outro criminoso Heráclito Fortes (o senador que empregava a filha de FHC em seu gabinete) nem se toca no assunto.

São fatos para serem esquecidos. Daniel Dantas entrou na muda, não fala nada e Protógenes e De Sanctis viraram os bandidos da história. Gilmar Mendes continua recebendo pela porta dos fundos do seu gabinete e estacionando seu carro cujo combustível é pago com dinheiro público, em vaga reservada a deficiente físico.

Nas várias operações feitas pela Polícia Federal e que desmantelaram quadrilhas que iam de ministros de tribunais superiores, a desembargadores, senadores, deputados, prefeitos, grande empresários, banqueiros, latifundiários, as quadrilhas de sempre, uma delas ganhou destaque nacional pela imagem que proporcionou.

A do ex-prefeito da cidade mineira de Juiz de Fora, Alberto Bejani, recebendo a propina paga pelos empresários de transportes coletivos de sua cidade e estabelecendo as condições para os meses seguintes. O fato foi divulgado à larga no principal jornal de tevê do País, o jornal da mentira que alguns chamam de JORNAL NACIONAL.

Bejani continua solto, é candidato a deputado e o atual prefeito de Juiz de Fora Custódio Matos é só uma reprodução da corrupção ampla, geral e irrestrita que permanece intocada. Com um pouco mais de sofisticação por ser tucano.

O presidente Lula tem em mãos medida provisória aprovada pelo Congresso que ratifica a grilagem de bandidos na Amazônia e no Pantanal brasileiros, tudo sacramentado pela senadora/bandida Kátia Abreu, do DEM. A medida permite que extensões de terra do tamanho de cidades como Rio ou São Paulo sejam legalizadas depois de tomadas pelos latifundiários – a senadora é latifundiária – e registradas em marmeladas de certidões falsas em cartórios de tabeliões criminosos. Qual não é?

O veto ou não a essa negociata sem tamanho e que compromete a própria soberania nacional, a integridade de nosso território, pasmem-se, depende de acordos políticos, do toma lá dá cá e tudo passando pelas mãos do senador José Sarney, quadrilheiro que opera no Maranhão e no Paraná e segundo Lula “pela sua história não pode ser tratado como homem comum”. Nessa lógica Al Capone também não.

O governador de São Paulo, José Serra, notório corrupto, indivíduo – para usar expressão do antigo jargão do noticiário policial dos jornais das décadas de 50/70 – de má catadura e sem caráter algum, está promovendo a liquidação do seu estado naquele negócio de privatizar, terceirizar e tirar o corpo fora de qualquer problema, mas engordando o caixa dois para sua campanha eleitoral. Uma das providências que Serra tomou, por exemplo, foi a de assinar milhares de revistas da Editora ABRIL, a que edita VEJA, em troca do direito de bater a carteira de cada paulista e ainda tentar chegar à presidência para estender seus limites de punguista político.

E assim o tresloucado que governa Minas, Aécio Neves. A corrupta que governa o Rio Grande do Sul, Yeda Crusius. O governador dos muros Sérgio Cabral e nem estou tocando na barbárie da semana passada quando os pistoleiros de Serra, fardados de policiais militares, espancaram, prenderam, torturaram e seqüestraram professores, funcionários e estudantes da USP – Universidade de São Paulo – que o governador/criminoso quer privatizar.

Isso é irrelevante para a mídia à medida que quem paga os “nossos comerciais”, os “comerciais do plim plim” são eles os bandidos.

O escândalo do Senado, vamos usar essa expressão, cumpre o papel de “imprensa sadia” no contexto do espetáculo que promovem para fugir da realidade e criar esse institucional falido, pois num dado momento é fácil generalizar sobre senadores, tanto quanto criar o sentimento que Congresso é um custo, um peso, sem ganho algum, abrindo espaço a continuidade das práticas corruptas dos que em tese são denunciados. Caso de Kátia Abreu. Ou de José Sarney. Ou de Fernando Gabeira, paladino da moral e dos bons costumes pego com a boca na botija das passagens cedidas a amigos e etc e tal.

Em meio a tudo isso há um espaço de cinco ou seis minutos para que cada cidadão tome conhecimento do novo modelo de automóvel que pode ser comprado em trocentas prestações, sem entrada. Ou da roupa que coloca o ser no topo mesmo que o estômago esteja roncando e pior, que cria o vazio interior em cada cidadão ou cidadã na esteira de uma indignação fingida, hipócrita e cuidadosamente planejada para você não saiba nada além daquilo que interessa a eles. Por via das dúvidas um monte de marcas de sabão em pó daqueles que tiram qualquer mancha.

E assim é o noticiário internacional. O jornal THE WASHINGTON POST, como o próprio nome indica editado em Washington – responsável pela investigação de dois jornalistas que resultou na renúncia de Richard Nixon – trouxe um artigo de um ex-secretário (ministros por lá são chamados de secretários) do governo Ronald Reagan, um dos mais estúpidos da história dos EUA, revelando os verdadeiros motivos que levam países como os Estados Unidos, Grã Bretanha (protetorado norte-americano na Europa), Itália (bordel particular de Sílvio Berlusconi) e outros, a criar a imagem de barbárie e violência no Irã por conta da vitória do candidato Mahamoud Ahmadinejad.

Não interessava aos donos do mundo. A mídia cumpre o papel de mostrar uma realidade que não existe já que a vitória do presidente – reeleito – foi por larga margem de votos e confirmada pelas instâncias superiores daquele país.

Mas é preciso demonizar o Irã, satanizar Ahmadinejad. Contrariam os interesses dos principais acionistas dos EUA. O estado terrorista de Israel através da AIPAC – AMERICAN ISRAEL PUBLIC AFFAIRS COMMITTEE – com milhões de sionistas/judeus organizados e com vastos recursos para comprar parlamentares naquele país, moldar boa parte da mídia segundo seus interesses (bancos e empresas, muitas delas falidas na crise e salvas com dinheiro do contribuinte), vendendo a idéia de sionistas/judeus sofredores e palestinos terroristas, enquanto roubam terras palestinas, seqüestram, torturam, estupram, matam, prendem e sacam de instrumentos religiosos para se auto proclamarem o povo eleito para dirigir o mundo.

Defender um noticiário isento, livre, um debate amplo sobre todas as questões que dizem respeito ao Brasil – nosso caso – sua inserção no resto do mundo e junto a esse mundo globalizado é o mínimo que se pode fazer e não significa que se esteja querendo importar esse ou aquele modelo. Essa ou aquela solução.

Somos o Brasil, somos brasileiros e brasileiras, temos nossas características de País de múltiplas culturas, não somos um País de brancos de olhos azuis como querem e estamos, gradativamente, sendo transformados em seres aculturados e adoradores de McDonalds e outras coisas mais. A própria língua portuguesa hoje já não é falada por exemplo, em várias áreas da Miami brasileira, a Barra da Tijuca. É que lá as senhoras levam suas cachorrinhas ao cabeleireiro de helicóptero para evitar o stress do trânsito de mortais comuns.

A mídia vende um show. Um espetáculo. Vende ilusão. Vende a mentira dos donos. Essa mentira como diz Débort (“A sociedade do espetáculo”, Contraponto, Rio), o espetáculo, “não é um conjunto de imagens, mas uma relação social entre pessoas, mediadas por imagens”.

Ou, “a primeira fase da dominação da economia sobre a vida social acarretou , no modo de definir toda realização humana, uma evidente degradação do ser para o ter. A fase atual, em que a vida social está totalmente tomada pelos resultados acumulados da economia, leva a um deslizamento generalizado do ter para o parecer, do qual todo ter efetivo deve extrair prestígio imediato e sua função última. Ao mesmo tempo, toda realidade individual tornou-se social, diretamente dependente da força social, moldado por ela. Só lhe é permitido aparecer naquilo que ela não é”.

E, aí, “à medida que a necessidade se encontra socialmente sonhada, o sonho se torna necessário. O espetáculo é o sonho mau da sociedade moderna aprisionada, que só expressa final, o seu desejo de dormir. O espetáculo é o guarda desse sono”.

Não é difícil entender a constatação da OMS – Organização Mundial de Saúde – porque a depressão será a segunda maior causa de mortes a partir do ano 2020, logo após as doenças cárdio/vasculares.

O “paraíso ilusório”, a “cisão consumada no interior do homem”.

Se achar que “prozac” não resolve, quem sabe Edir, o Macedo. E tome Faustão.

E nunca se esqueça de olhar embaixo da cama antes de dormir ou trancar bem as portas e janelas, pois lá pode estar escondido um “terrorista” iraniano, ou palestino, pior, um senador padrão José Sarney, ou um governador José Serra. Nesses casos não adianta chamar o 190, é deles.

Por via das dúvidas deixe a GLOBO ligada e se encontrar um desses comece a rezar o pai nosso deles. “Wall Street nossa de cada dia...” Pendure uma cruz de Davi, ao lado da suástica, na entrada da casa. E se algum deles perguntar alguma coisa diga apenas yes y love the Globe. Ajoelhe-se, volte-se para o PROJAC e invoque a proteção de William Bonner. Se quiser, para aumentar a proteção, é bom, coloque um retratinho dele sob a cama, na parede.

* Laerte Braga é jornalista.

Fonte: Vi o Mundo

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Filhos negros:"ninguém imagina as situações que passamos"

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O preconceito contra os filhos

de Ruy, no blog do Luís Nassif

Sou branco. Minha mulher é branca. Adotamos 3 crianças negras. Ninguém é capaz de imaginar as situações pelas quais passamos. Só quem as viveu, conscientemente, pode avaliar.

Quando entramos na fila de adoção, a assistente social (negra) tentou nos dissuadir da idéia de adotarmos crianças negras, alegando que “isso não dá certo”.

Na padaria do bairro (chiquezinha) se as crianças corressem na frente (frequentemente vestindo o uniforme da escola), logo eram barradas pelo segurança (precisei dar alguns “esporros” até que parassem com isso).

Voltando de férias da Bahia, avião com overbooking; o atendente da cia. aérea nos colocou num canto, de pé, ao lado da cabine do piloto. Várias pessoas (todas brancas) entravam e nós esperando. Perdi a paciência e juntei o sujeito pelo colarinho. “Tá me achando com cara de palhaço?”. Os lugares apareceram milagrosamente.

Na livraria do aeroporto a mulher à minha frente, na fila do caixa, protege a bolsa quando minha filha se aproxima (minha filha é linda e estava vestida como uma bonequinha, laço de fita no cabelo e tudo mais). Pensei: vale a pena estragar a viagem prá discutir com essa idiota? Deixei prá lá.

Festa de aniversário no kartódromo. Fila de meninos para entrar nos carros. Deixo meu filho na fila e vou fazer outra coisa. Volto meia hora depois e ele ainda está na fila. Pergunto: o que houve? Ele: vários meninos entraram e o tio manda eu esperar. Olho pro “Tio” e ameaço: se ele não entrar na próxima, chamo a polícia. Rapidinho aparece um kart.

Na escola (classe média alta, mensalidade cara), qualquer encrenca envolvendo vários meninos, logo sobrava para os “pretinhos”. Chamei o diretor às falas, ameacei processar e levar o assunto para a mídia. Resultado: a perseguição aberta cessou, mas nasceu a perseguição institucional (na prova de matemática, ainda que todos os cálculos estivessem corretos, perdiam pontos por erros de português). Troquei de escola e adotei definitivamente o estilo low profile.

Desisti? Não! Apenas decidi criar meus filhos para saberem driblar tais situações. Estudem mais, sejam os melhores da classe, comportem-se mais que seus colegas, sejam mais educados, enfim, tenham mais paciência que seu pai. Provem para vocês mesmos que são os melhores, não pelo fato de serem negros (e nem apesar de serem negros) Sejam melhores, pelo prazer de serem melhores, por méritos próprios. E só!

E se, no futuro, nosso país não tiver passado por uma mudança radical, que lhes permita viver em paz, que tenham estudado o bastante para encontrar uma vida melhor em qualquer outro lugar do mundo, onde as pessoas sejam valorizadas por seus dotes e qualidades, não importando a cor ou a origem. E onde haja menos idiotas. Em todos os sentidos.

P.S.: eu vivo repetindo: cachorro pode ter raça; gato pode ter raça; gente pode, no máximo, ter cor diferente. Raça? Somos todos da RAÇA HUMANA (ainda que muita gente se esforce para me convencer do contrário)!!!

Para ir ao blog do Nassif, clique aqui.


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Sarney, o homem incomum

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por Leandro Fortes

Há anos, nem me lembro mais quantos, os principais colunistas e repórteres de política do Brasil, sobretudo os de Brasília, reputam ao senador José Sarney uma aura divinal de grande articulador político, uma espécie de gênio da raça dotado do dom da ponderação, da mediação e do diálogo. Na selva de preservação de fontes que é o Congresso Nacional, estabeleceu-se entre os repórteres ali lotados que gente como Sarney – ou como Antonio Carlos Magalhães, em tempos não tão idos – não precisa ser olhada pelas raízes, mas apenas pelas folhagens. Esse expediente é, no fim das contas, a razão desse descolamento absurdo do jornalismo brasiliense da realidade política brasileira e, ato contínuo, da desenvoltura criminosa com que deputados e senadores passeiam por certos setores da mídia.

Olhassem Sarney como ele é, um coronel arcaico, chefe de um clã político que há quatro décadas domina a ferro e fogo o Maranhão, estado mais miserável da nação, os jornalistas brasileiros poderiam inaugurar um novo tipo de cobertura política no Brasil. Começariam por ignorar as mentiras do senador (maranhense, mas eleito pelo Amapá), o que reduziria a exposição de Sarney em mais de 90% no noticiário nacional. No Maranhão, a família Sarney montou um feudo de cores patéticas por onde desfilam parentes e aliados assentados em cargos públicos, cada qual com uma cópia da chave do tesouro estadual, ao qual recorrem com constância e avidez. O aparato de segurança é utilizado para perseguir a população pobre e, não raras vezes, para trucidar opositores. A influência política de Sarney foi forte o bastante para garantir a derrubada do governador Jackson Lago, no início do ano, para que a filha, Roseana, fosse reentronizada no cargo que, por direito, imaginam os Sarney, cabem a eles, os donatários do lugar.

José Sarney é uma vergonha para o Brasil desde sempre. Desde antes da Nova República, quando era um político subordinado à ditadura militar e um representante mais do que típico da elite brasileira eleita pelos generais para arruinar o projeto de nação – rico e popular – que se anunciava nos anos 1960. Conservador, patrimonialista e cheio dessa falsa erudição tão típica aos escritores de quinta, José Sarney foi o último pesadelo coletivo a nós impingido pela ditadura, a mesma que ele, Sarney, vergonhosamente abandonou e renegou quando dela não podia mais se locupletar. Talvez essa peculiaridade, a de adesista profissional, seja o que de mais temerário e repulsivo o senador José Sarney carregue na trouxa política que carrega Brasil afora, desde que um mau destino o colocou na Presidência da República, em março de 1985, após a morte de Tancredo Neves.

Ainda assim, ao longo desses tantos anos, repórteres e colunistas brasileiros insistiram na imagem brasiliense do Sarney cordial, erudito e mestre em articulação política. É preciso percorrer o interior do Maranhão, como já fiz em algumas oportunidades, para estabelecer a dimensão exata dessa visão perversa e inaceitável do jornalismo político nacional, alegremente autorizado por uma cobertura movida pelos interesses de uns e pelo puxa-saquismo de outros. Ao olhar para Sarney, os repórteres do Congresso Nacional deveriam visualizar as casas imundas de taipa e palha do sertão maranhense, as pústulas dos olhos das crianças subnutridas daquele estado, várias gerações marcadas pela verminose crônica e pela subnutrição idem. Aí, saberiam o que perguntar ao senador, ao invés de elogiar-lhe e, desgraçadamente, conceder-lhe salvo conduto para, apesar de ser o desastre que sempre foi, voltar à presidência do Senado Federal.

Tem razão o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao afirmar, embora pela lógica do absurdo, que José Sarney não pode ser julgado como um homem comum. É verdade. O homem comum, esse que acorda cedo para trabalhar, que parte da perspectiva diária da labuta incerta pelo alimento e pelo sucesso, esse homem, que perde horas no transporte coletivo e nas muitas filas da vida para, no fim do mês, decidir-se pelo descanso ou pelas contas, esse homem comum é, basicamente, honesto e solidário. Sarney é o homem incomum. No futuro, Lula não será julgado pela História somente por essa declaração infeliz e injusta, mas por ter se submetido tão confortavelmente às chantagens políticas de José Sarney, a ponto de achá-lo intocável e especial. Em nome da governabilidade, esse conceito em forma de gosma fisiológica e imoral da qual se alimenta a escória da política brasileira, Lula, como seus antecessores, achou a justificativa prática para se aliar a gente como os Sarney, os Magalhães e os Jucá.

Pelo apoio de José Sarney, o presidente entregou à própria sorte as mais de seis milhões de almas do Maranhão, às quais, desde que assumiu a Presidência, em janeiro de 2003, só foi visitar esse ano, quando das enchentes de outono, mesmo assim, depois que Jackson Lago foi apeado do poder. Teria feito melhor e engrandecido a própria biografia se tivesse descido em São Luís para visitar o juiz Jorge Moreno. Ex-titular da comarca de Santa Quitéria, no sertão maranhense, Moreno ficou conhecido mundialmente por ter conseguido erradicar daquele município e de regiões próximas o sub-registro civil crônico, uma das máculas das seguidas administrações da família Sarney no estado. Ao conceder certidão de nascimento e carteira de identidade para 100% daquela população, o juiz contaminou de cidadania uma massa de gente tratada, até então, como gado sarneyzista. Por conta disso, Jorge Moreno foi homenageado pelas Nações Unidas e, no Brasil, viu o nome de Santa Quitéria virar nome de categoria do Prêmio Direitos Humanos, concedido anualmente pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República a, justamente, aqueles que lutam contra o sub-registro civil no País.

Em seguida, Jorge Moreno denunciou o uso eleitoral das verbas federais do Programa Luz Para Todos pelos aliados de Sarney, sob o comando, então, do ministro das Minas e Energia Silas Rondeau – este um empregado da família colocado como ministro-títere dentro do governo Lula, mas de lá defenestrado sob a acusação, da Polícia Federal, de comandar uma quadrilha especializada em fraudar licitações públicas. Foi o bastante para o magistrado nunca mais poder respirar no Maranhão. Em 2006, o Tribunal de Justiça do Maranhão, infestado de aliados e parentes dos Sarney, afastou Moreno das funções de juiz de Santa Quitéria, sob a acusação de que ele, ao denunciar as falcatruas do clã, estava desenvolvendo uma ação político-partidária. Em abril passado, ele foi aposentado, compulsoriamente, aos 42 anos de idade. Uma dos algozes do juiz, a corregedora (?) do TRE maranhense, é a desembargadora Nelma Sarney, casada com Ronaldo Sarney, irmão de José Sarney.

Há poucos dias, vi a cara do senador José Sarney na tribuna do Senado. Trêmulo, pálido e murcho, tentava desmentir o indesmentível. Pego com a boca na botija, o tribuno brilhante, erudito e ponderado, a raposa velha indispensável aos planos de governabilidade do Brasil virou, de um dia para a noite, o mascate dos atos secretos do Senado. Ao terminar de falar, havia se reduzido a uma massa subnutrida de dignidade, famélica, anêmica pela falta da proteína da verdade. Era um personagem bizarro enfiado, a socos de pilão, em um jaquetão coberto de goma.

Na mesma hora, pensei no povo do Maranhão.

Fonte: Blog Brasilia, eu vi

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Pirataria é crime. E enganar consumidores, não?

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por Leonardo Sakamoto

Antes de mais nada, esta não é uma defesa da “pirataria”, mas sim da reciprocidade.

De tanto ouvir e ver propagandas em rádios, TVs e cinemas que fazem o consumidor sentir-se um pedaço de lixo, financiador do tráfico de drogas, responsável pelo desemprego e pela fome no mundo, por não se atentar à origem dos CDs e DVDs que compra, creio que se faz necessária uma pergunta: empresas de software, gravadoras e a indústria do entretenimento em geral aplicam o mesmo terror para as suas relações comerciais?

Claro que não. Inexiste, por parte de muitas delas, uma política para evitar a compra de equipamentos eletrônicos (utilizados na criação de programas, gravação de músicas, filmagens de películas) que contêm crimes contra a humanidade e o meio ambiente em seu processo de fabricação. As únicas restrições que impõem são: que o produto tenha preço baixo e a qualidade técnica desejada.

Por exemplo, você sabia que muitos dos seus equipamentos eletrônicos não funcionariam sem ouro? Os equipamentos de transmissão de voz necessitam de 30 diferentes tipos de metal para funcionar. A indústria de aparelhos eletrônicos consome proporções cada vez maiores de minérios preciosos e raros encravados pelo mundo.

Muitos desses metais são extraídos em minas de países pobres nas quais trabalhadores enfrentam condições de trabalho aterradoras. Na República Democrática do Congo, 50 mil crianças, algumas delas com apenas sete anos de idade, trabalham em minas de cobre e cobalto por jornadas exaustivas sem nenhum tipo de proteção.

Em outras regiões, vilas inteiras foram removidas para dar mais espaço para a mineração. E enquanto alguns pequenos garimpeiros conseguem sustentar suas famílias (basicamente com comida e remédios) com muita dificuldade, companhias mineradoras e negociadores enchem os bolsos com ouro por conta do aumento da demanda por matérias-primas minerais.

O meio ambiente também sofre cada vez mais por conta do nosso apetite irrefreável por todos os últimos lançamentos de gadgets eletrônicos. Em Norislk, na Rússia, onde níquel, cobalto, platina e paládio são extraídos para a produção de componentes eletrônicos, a poluição do ar é tão alta que muitas crianças sofrem com doenças nos pulmões de incapacidade respiratória.

Sugiro que visitem o site da campanha Make IT (de Tecnologia da Informação, em inglês) Fair que atua para conscientizar jovens consumidores sobre esses impactos.

“Como um grande consumidor de metais do mundo, essas grandes empresas de eletrônicos podem realmente fazer a diferença - promovendo condições melhores de vida aos trabalhadores da mineração e ajudando a proteger nosso planeta de prejuízos adicionais”, diz a campanha.

Alguns vão dizer que é ilegal baixar músicas e copiar DVDs, mas comprar de quem escraviza e desmata não, só imoral. A resposta sobre o porquê de o mundo ser assim reside no fato de que, historicamente, as leis criadas para proteger a propriedade e o lucro são mais severas e efetivas das que foram implantadas para defender a vida e a dignidade.

Se a poderosa indústria da informação e do entretenimento não pode comprovar para o consumidor comum de que o seu processo de produção é social e ambientalmente responsável, como é que eles vão exigir responsabilidade de nós?

Fonte: Blog do Sakamoto

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Sarney, grilagem e fanfarronices do presidente

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por Leonardo Sakamoto

O presidente Lula, no afã do pragmatismo político, partiu novamente para a defesa do indefensável José Sarney de uma forma inusitada: “Não li a reportagem do presidente Sarney, mas penso que ele tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum.”

O Senado, sob o comando de Sarney, vem sendo alvo de seguidas denúncias de nepotismo, uso particular de recursos públicos, irregularidades administrativas, gastos bizarros, atos secretos, mordomos contratados por R$ 12 mil ao mês com verbas de gabinete, enfim, aquela zona. Tudo isso não começou com ele, mas o presidente do Senado faz parte desse estabilishment que fomentou e manteve tudo isso. E, até onde eu saiba, o fato de ter ocupado os mais altos postos políticos do país não faz com que qualquer pessoa possa flanar sobre os demais cidadãos, acima do bem e do mal, diante da opinião pública e das leis. Pelo contrário.

Um dia depois, Lula reclamou de organizações não-governamentais por estarem afirmando o óbvio: que a MP 458 que trata da regularização fundiária (encaminhada pelo Executivo e aprovada pelo Congresso Nacional com o acréscimo de artigos que premiam quem roubou terra pública) vai incentivar a grilagem na Amazônia. As ONGs que o presidente se refere não são apenas as de ambientalistas, mas também entidades de grandes empresas, de trabalhadores rurais, sindicalistas, sem-terra, que estão pedido a ele que vete os artigos nocivos dessa medida provisória. Até parlamentares do PT e do PSDB solicitaram ao presidente que barre os acréscimos feitos pelo Congresso (aliás, não se sei perceberam, que para reunir essa “frente ampla” é necessário um tema que seja realmente uma unanimidade). A crítica de Lula foi a seguinte:

“Mas, independentemente de mudar qualquer coisa, eu posso dizer que as ONGs não estão dizendo a verdade quando dizem que a medida provisória incentiva a grilagem de terras no Brasil. O que nós queremos fazer é exatamente garantir que as pessoas tenham o título da terra, para ver se a gente acaba com a violência neste país. É isso que nós queremos fazer.”

Está correto em dizer que a regularização fundiária é a saída para começar a resolver os problemas da região. Mas a aprovação da MP 458 do jeito em que está irá, além dos óbvios impactos ao meio ambiente e às populações tradicionais, premiar empresas e pessoas que roubaram terra pública para uso próprio ou especulação. Ou sistematicamente usaram a posse ilegal da terra como licença para roubar a liberdade e a dignidade de trabalhadores rurais. O que é o oposto de acabar com a violência.

Desde 1995, 35 mil pessoas foram libertadas da escravidão no Brasil, a maior parte delas em uma faixa que vai do Maranhão até Rondônia, passando por Tocantins, Pará e Mato Grosso. Não é mera coincidência que a maior concentração de escravos no país esteja no Arco do Desmatamento. Afinal, trabalho escravo é utilizado largamente para cortar custos no processo de expansão agropecuária na Amazônia, trazendo lucro fácil.

Não é raro fazendas griladas usarem escravos para abrir trilhas na mata para a entrada de motosserras, derrubar árvores e produzir, com a mesma madeira, cercas para gado ou carvão para abastecer siderúrgicas. Além, é claro, de retirar tocos e raízes para a preparação do terreno desmatado visando à implantação de pastos ou de lavouras. Ou seja, o esquentamento da grilagem é feita por trabalhadores alijados de sua liberdade.

Lula deu até o dia 25 para sancionar a lei, vetando ou mantendo os artigos polêmicos. O presidente da República, que declarou que a erradicação da escravidão era uma das cinco prioridades de seu governo, pode dar um duro golpe nos trabalhadores que ajudaram a elegê-lo e apóiam seu governo dependendo da decisão que tomar. Muitos deles nascidos no Maranhão - estado recordista em fornecer escravos para o resto do Brasil, por conta da pobreza e desigualdade social que lá impera.

Maranhão… Estado historicamente governado por qual família?

Fonte: Blog do Sakamoto

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Então é verdade, no Brasil é duro ser negro?

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por Leonardo Sakamoto

Posto abaixo texto de uma das melhores e mais competentes repórteres do país, Eliane Brum, da revista Época, no qual conta como a mais importante atriz de Moçambique, Lucrécia Paco, sofreu preconceito em um shopping da capital paulistana.

Mulher e negra vítima de preconceito no Brasil, de tão recorrente, nem parece mais notícia. Infelizmente. Como remédio a isso, o texto de Eliane nos faz sentir vergonha.

“Então é verdade, no Brasil é duro ser negro?”

por Eliane Brum

Fazia tempo que eu não sentia tanta vergonha. Terminava a entrevista com a bela Lucrécia Paco, a maior atriz moçambicana, no início da tarde desta sexta-feira, 19/6, quando fiz aquela pergunta clássica, que sempre parece obrigatória quando entrevistamos algum negro no Brasil ou fora dele. “Você já sofreu discriminação por ser negra?”. Eu imaginava que sim. Afinal, Lucrécia nasceu antes da independência de Moçambique e viaja com suas peças teatrais pelo mundo inteiro. Eu só não imaginava a resposta: “Sim. Ontem”.

Lucrécia falou com ênfase. E com dor. “Aqui?”, eu perguntei, num tom mais alto que o habitual. “Sim, no Shopping Paulista, quando estava na fila da casa de câmbio trocando meus últimos dólares”, contou. “Como assim?”, perguntei, sentindo meu rosto ficar vermelho.

Ela estava na fila da casa de câmbio, quando a mulher da frente, branca, loira, se virou para ela: “Ai, minha bolsa”, apertando a bolsa contra o corpo. Lucrécia levou um susto. Ela estava longe, pensando na timbila, um instrumento tradicional moçambicano, semelhante a um xilofone, que a acompanha na peça que estreará nesta sexta-feira e ainda não havia chegado a São Paulo. Imaginou que havia encostado, sem querer, na bolsa da mulher. “Desculpa, eu nem percebi”, disse.

A mulher tornou-se ainda mais agressiva. “Ah, agora diz que tocou sem querer?”, ironizou. “Pois eu vou chamar os seguranças, vou chamar a polícia de imigração.” Lucrécia conta que se sentiu muito humilhada, que parecia que a estavam despindo diante de todos. Mas reagiu. “Pois a senhora saiba que eu não sou imigrante. Nem quero ser. E saiba também que os brasileiros estão chegando aos milhares para trabalhar nas obras de Moçambique e nós os recebemos de braços abertos.”

A mulher continuou resmungando. Um segurança apareceu na porta. Lucrécia trocou seus dólares e foi embora. Mal, muito mal. Seus colegas moçambicanos, que a esperavam do lado de fora, disseram que era para esquecer. Nenhum deles sabia que no Brasil o racismo é crime inafiançável. Como poderiam?

Para ler o restante do texto, clique aqui.

***

Na mesma semana em que a Época nos agraciou em seu site com a narração sensível de Eliane, também destacou um post infeliz do blog de Paulo Nogueira - jornalista tarimbado, com uma história de sucesso pelas maiores redações do país, formador de opinião e correspondente da revista em Londres.

Comentando sobre a história de uma garota belga que afirma ter solicitado a um tatuador três estrelas no rosto e, após tirar um cochilo, acordou com 56 (o tatuador nega e diz que o pedido foi da cliente), ele postou o seguinte:

Tendi a acreditar no veredicto da voz rouca das ruas: mentira. Mas vendo o vídeo em que aparecem a garota belga estrelada e o tatuador, bem, passei a acreditar na versão da menina. Por instinto.

O cara é sinistro como os ciganos búlgaros que roubam desavergonhadamente em seus táxis os turistas de Praga com voltas e voltas inacreditáveis. Veja-o na foto abaixo. Eles, os taxistas de Praga, são, aparentemente, um caso perdido. Li uma matéria da BBC que contava que, diante da pressão da imprensa local, o prefeito de Praga se disfarçou e andou de táxi pela cidade. Cobraram até 500% acima, fora os trajetos inacreditáveis. Ele admitiu que eram uma praga os motoristas de Praga. E disse que ia resolver o problema.
Bem, faz cinco anos. Não cinco semanas ou cinco meses. Cinco anos. Passei uns dias em Praga, como narrei num post anterior, e fui assaltado por motoristas desonestos.

Eles tinham uma cara pesada, esquisita. Sequer grunhiam para dizer bom dia ou obrigado. Uma hora desisti de ser gentil depois que o motorista, num trajeto simples para o hotel, deu sem mais aquela uma volta num quarteirão enorme, a despeito de minhas reclamações, como se eu fosse um idiota.

O tatuador que vi no vídeo, bem, eu não andaria no táxi dele, se ele tivesse um. Ele diz que a menina inventou a história depois de ter levado uma dura do pai e do namorado ao chegar em casa multiestrelada no rosto. Que ela ficou quase tão repulsiva quanto seu tatuador, é um dado da vida.

Todos têm direito a ter opiniões. Mas é impossível deixar de notar que é do tipo de “instinto” sobre o qual escreve Paulo que Eliana tão bem discorre em seu texto…

Fonte: Blog do Leonardo Sakamoto

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Reciprocidade ou Morte

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Por Leonardo Boff

Desde que os seres humanos decidiram viver juntos, estabeleceram um contrato social não escrito pelo qual formularam normas, proibições e propósitos comuns que permitissem uma convivência minimamente pacífica.

Depois surgiram os pensadores que lhe deram um estatuto formal como Locke, Kant e Rousseau. Todos esses contratos históricos têm um defeito: supõem indivíduos nus e acósmicos, sem qualquer ligação com a natureza e a Terra. Os contratos sociais ignoram e silenciam totalmente o contrato natural. Mais ainda, a partir dos pais fundadores da modernidade, Descartes e Bacon, implantou-se a ilusão de que o ser humano está acima e fora da natureza com o propóstio de domínio e posse da Terra. Este projeto continua a se realizar mediante a guerra de conquista seguida pela apropriação de todos os recursos e serviços naturais. Atrás sempre fica um rastro de devastação da natureza e de desumanização brutal. Antes se fazia guerra e apropriação de regiões ou povos. Hoje conquistaram-se todos os espaços e se conduz uma guerra total e sem tréguas contra a Terra, seus bens e serviços, explorado-os até a sua exaustão. Ela não tem mais descanso, refúgio ou espaço de recuo.

A agressão é global e a reação da Terra-Gaia está sendo também global. A resposta é o complexo de crises, reunidas no devastador aquecimento global. É a vingança de Gaia.

Não temos outra saida senão reintroduzir consciente e rapidamente o que havíamos deixado para trás: o contrato natural articulado com o contrato social. Trata-se de superar nosso arrogante antropocentrismo e colocar todas as coisas em seu lugar e nós junto delas como parte de um todo.

Que é o contrato natural? É o reconhecimento do ser humano de que ele está inserido na natureza, de quem tudo recebe, que deve comportar-se como filho e filha da Mãe Terra, restituindo-lhe cuidado e proteção para que ela continue a fazer o que desde sempre faz: dar-nos vida e os meios da vida. O contrato natural, como todos os contratos, supõe a reciprocidade. A natureza nos dá tudo o que precisamos e nós, em contrapartida, a respeitamos e reconhecemos seu direito de existir e lhe preservamos a integridade e a vitalidade.

Ao contrato exclusivamente social, devemos agregar agora o contrato natural de reciprocidade e simbiose. Renunciamos a dominar e a possuir e nos irmanos com todas as coisas. Não as usamos simplesmente, mas, ao usá-las quando precisamos, as contemplamos, admiramos sua beleza e organicidade e cuidamos delas. A natureza é o nosso hospedeiro generoso e nós seus hóspedes agradecidos. Ao invés de uma tregua nesta guerra sem fim, estabelecemos uma paz perene com a natureza e a Terra.

A crise econômica de 1929 sequer punha em questão a natureza e a Terra. O pressuposto ilusório era de que elas estão sempre ai, disponíveis e com recursos infinitos. Hoje a situação mudou. Já não podemos dar por descontada a Terra com seus bens e serviços. Estes mostraram-se finitos e a capacidade de sua reposição já foi ultrapassada em 40%.

Quando esse fator é trazido ao debate na busca de soluções para a crise atual? Somos dominados por economistas, em sua grande maioria, verdadeiros idiotas especializados – Fachidioten - que não vêem senão números, mercados e moedas esquecendo que comem, bebem, respiram e pisam solos contaminados. Quer dizer, que só podem fazer o que fazem porque estão assentados na natureza que lhes possibilita fazer tudo o que fazem, especialmente, dar razões ao egoismo e às barbaridades que a atual economia faz prejudicando milhões e milhões de pessoas e que vai minando a base que a sustenta.

Ou restabelecemos a reciprocidade entre natureza e ser humano e rearticulamos o contrato social com o natural ou então aceitamos o risco de sermos expulsos e eliminados por Gaia. Confio no aprendizado a partir do sofrimento e do uso do pouco bom senso que ainda nos resta.

* Leonardo Boff é autor de Responder florindo. Da crise de civilização a uma revolução radicalmente humana. Garamond 2004.

Fonte: Revista Fórum

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A nova elite de Cabul**

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Por Patrick Cockburn*

As agências de ajuda ocidentais estão, generosamente, gastando elevadas quantidades de dinheiro com os seus altos cargos no Afeganistão, ao mesmo tempo que a extrema pobreza está levando jovens afegãos a lutar juntamente com os talibãs. O preço normal pago pelos talibãs por um ataque a um posto de controle da polícia naquele país é 4 dólares, mas os assessores estrangeiros em Cabul, pagos com os orçamentos de ajuda estrangeiros, podem dispor de salários anuais entre 250 mil e 500 mil dólares.

Os elevados custos para pagar, proteger e alojar num estilo de vida faustoso os altos funcionários das agências ocidentais ajudam a compreender por que razão o Afeganistão ocupa um lugar entre 174º e 178º na classificação da riqueza dos países elaborada pelas Nações Unidas. Isto, apesar do esforço de ajuda internacional em que só os Estados Unidos gastaram 31 bilhões de dólares desde 2002 até ao final deste ano.

Durante muito tempo o elevado montante de dinheiro gasto na ajuda ao Afeganistão foi um segredo sussurrado. Em 2006, o então diretor no país do Banco Mundial, Jean Mazurelle, calculou que entre 35% e 40% da ajuda tinha sido "mal gasta". "O esbanjamento da ajuda é elevadíssimo", disse. "É um autêntico saque, fundamentalmente por parte das empresas privadas, um escândalo".

Do ponto de vista político, a reputação que o esforço da ajuda estadunidense no Afeganistão tem de disfuncional é crucial porque, com o apoio de Gordon Brown, Barack Obama prometeu enviar para o Afeganistão uma vaga de peritos não militares para fortalecer o governo e fazer com que os acontecimentos se voltassem contra os talibãs. O número destes técnicos poderá chegar aos 600, incluindo agrônomos, economistas, juristas, ainda que Washington tivesse admitido há semanas que encontrava dificuldades no recrutamento das pessoas suficientes e com o perfil adequado.

Ocuparam-se zonas inteiras de Cabul ou foram reconstruídos para alojar os trabalhadores ocidentais da agência de ajuda ou das embaixadas. "Acabo de alugar este edifício por 30 mil dólares mensais a uma organização de ajuda", afirmou Torialai Bahadery, director de Property Consulting Afganistán, especializado em alugueres a estrangeiros. "Foi tão caro porque tem 24 quartos com casa-de-banho, portas blindadas e janelas à prova de bala", explicou, ao mesmo tempo em que mostrava uma foto de uma enorme e horrorosa mansão.

Ainda que 77% dos afegãos não tenha acesso a água limpa, o senhor Bahadery afirmou que as agências de ajuda e as empresas estrangeiras contratadas que trabalham para elas tinham insistido em que cada quarto devia ter casa-de-banho privada, o que faz duplicar o preço do alojamento.

Além deste dispendioso alojamento, os trabalhadores estrangeiros em Cabul estão invariavelmente protegidos por companhias de segurança, caras, e cada casa converte-se numa fortaleza. Os estrangeiros têm uma liberdade de movimentos muito limitada. "Nem sequer posso ir ao melhor hotel de Cabul", queixou-se uma mulher que trabalha numa organização de ajuda governamental estrangeira. Acrescentou que para viajar até uma zona que os afegãos considerem completamente livre de talibãs teve de ir de helicóptero e depois num veículo blindado até onde ela queria ir.

Em Cabul houve muitos ataques a estrangeiros e os atentados suicidas têm sido, sob o ponto de vista dos talibãs, tão eficazes que obrigaram os trabalhadores estrangeiros a irem para complexos luxuosos, mas onde estão tão confinados como numa prisão. Isto significa que a maioria dos estrangeiros enviados para o Afeganistão para ajudar a reconstruir o país e a máquina estatal têm um contato escasso com a população, à parte os seus choferes e os afegãos com quem trabalham directamente.

"Evitar riscos tem inutilizado o esforço de ajuda internacional" disse um técnico em Cabul. "Se o governo está verdadeiramente preocupado com o risco, então não deveria mandar as pessoas para aqui e fazê-la trabalhar em condições tão limitadas".

No Iraque, a efetividade dos assessores e técnicos estrangeiros é ainda mais limitada, devido ao pouco tempo que permanecem no país. "Muitas pessoas vão-se embora ao fim de nove meses", disse um trabalhador estrangeiro que pediu anonimato. "Além disso, alguns trabalhadores têm duas semanas livres por cada seis de permanência no país, para lá das suas férias habituais".

A alguns quadros que trabalham para organizações não governamentais no Afeganistão preocupa-os a quantidade de dinheiro que os altos cargos dos governos estrangeiros e das suas agências de ajuda gastam com o pessoal, em comparação com a pobreza do governo afegão.

"Estive na província de Badakhshan no norte do Afeganistão, que tem uma população de 830 mil habitantes, a maioria dos quais dependentes da agricultura", afirmou Matt Waldman, director de política e serviços legais de Oxfam em Cabul. "Todo o orçamento do departamento local de agricultura, irrigação e pecuária, que é extremamente importante para os agricultores de Badakhshan, é de apenas 40 mil dólares. Isto é o que cobraria, em poucos meses um consultor estrangeiro em Cabul".

Matt Walkman, autor de vários e muito detalhados artigos sobre o fracasso da ajuda no Afeganistão, diz que nas mais altas esferas se investe um elevado montante de dinheiro, mas que ele é desviado antes de chegar aos afegãos comuns, os que estão no mais baixo nível. Está de acordo que os problemas que há que enfrentar são horríveis, num país que sempre foi pobre, e que foi arruinado por 30 anos de guerra. Aproximadamente 42% dos 25 milhões de afegãos vivem com menos de um dólar por dia, e a esperança de vida é de apenas 45 anos. O índice total de alfabetização é de 34%, e no caso das mulheres é 18%.

Mas a maior parte do dinheiro da ajuda vai para as companhias estrangeiras que subcontratam até cinco vezes e cada contratado, por sua vez, ganha entre 10% e 20%, antes de fazer qualquer trabalho para o projeto. O maior doador do Afeganistão é os EUA, cujo departamento de ajuda ao estrangeiro, Usaid, entrega a cinco grandes contratadores estadunidenses quase metade do seu orçamento de ajuda ao Afeganistão.

Os exemplos referidos num relatório de Oxfam incluem a construção de uma estrada pequena, entre o centro de Cabul e o aeroporto internacional, em 2005, que, depois da subcontratação a uma companhia afegã, custou 2,4 milhões de dólares o quilômetro ou, o que é o mesmo, quatro vezes o custo médio de construção de uma estrada no Afeganistão. Também é frequente a ajuda ser gasta no país doador.

Outra consequência do uso de contratadores estrangeiros é não ter havido qualquer impacto no desemprego entre os jovens afegãos, o que é fundamental para derrotar os talibãs. De acordo com um relatóriodo Instiituto para Informar sobre a Guerra e a Paz, nas províncias do sul, como Farah, Helmans, Uruzgan e Zabul, mais de 70% dos combatentes talibãs são jovens sem trabalho e sem motivação ideológica a quem se entrega uma arma e se lhes paga uma miséria antes de cada ataque. Ao recorrer a estes combatentes a tempo parcial como carne para canhão, os talibãs podem ter poucas baixas entre os seus veteranos combatentes, ao mesmo tempo que infligem perdas entre as forças governamentais.

Descuidaram-se algumas formas simples e óbvias de gastar dinheiro em benefício dos afegãos. Will Beharrell da organização caritativa Turquoise Mountain, que fomenta o artesanato tradicional afegão e a reconstrução da cidade velha, afirma que as melhorias simples e tangíveis são importantes. "Participamos na limpeza do lixo porque é simples e proporciona emprego. Nalguns lugares, com a limpeza fizemos com que o nível das ruas baixasse dois metros", afirmou.

Um fato surpreendente em Cabul é que, enquanto as ruas principais estão pavimentadas, as ruas laterais não passam de terra batida com montes e buracos e enormes poças de água suja. Construíram-se novas estradas entre as cidades, como Cabul e e Kandahar, mas são muito perigosas de percorrer, devido aos pontos de controle móveis dos talibãs onde quem quer que tenha a ver com o governo é imediatamente abatido.

O programa de ajuda internacional é particularmente importante no Afeganistão, pois o governo tem poucas fontes de receitas para além dessa. As doações dos governos estrangeiros representam 90% da despesa pública. A ajuda é muito mais importante que no Iraque, onde o governo tem receitas provenientes do petróleo. Um salário mensal de um policial no Afeganistão é de apenas 70 dólares, que não é suficiente para viver sem subornos.

Desde a queda dos talibãs que o governo afegão tem procurado dirigir um país em que a infra-estrutura física foi destruída. Cabul recebe a eletricidade do Uzbequistão, mas 55% não tem qualquer eletricidade e apenas 20% a tem durante todo o tempo. O exército estadunidense pode distribuir o dinheiro mais rapidamente, mas isto pode não acabar com o apoio político aos talibãs na medida esperada.

Os próprios afegãos estão entusiasmados com os planos do presidente Obama de um maior comprometimento civil e militar dos Estados Unidos no Iraque. E o fracasso da ajuda estrangeira no momento de proporcionar uma vida melhor aos afegãos também contribui para explicar a queda a pique do apoio ao governo de Cabul e aos seus aliados estrangeiros. Matt Waldman, da Oxfam, acredita que uma ajuda melhor organizada poderia proporcionar os benefícios que os afegãos esperavam obter quando se derrotou os talibans, em 2001, mas adverte: "Está ficando demasiado tarde para fazer bem as coisas" .

Vejamos os números: gastos ocidentais no Afeganistão:
• 57 dólares de ajuda estrangeira per capita ao Afeganistão, face aos 580 per capita depois do conflito bósnio.
• 250.000 dólares é o salário médio dos consultores estrangeiros no Afeganistão, incluindo cerca de 35% de subsídio por trabalho em condições difíceis e 35% de subsídio de perigosidade. Os funcionários afegãos têm um salário de cerca de 1.000 dólares anuais.
• 22.000 milhões de dólares é o deficit das doações em relação ao que a comunidade internacional calcula que o Afeganistão necessita, aproximadamente 48%.
• Cerca de 40% é a percentagem do orçamento de ajuda internacional que regressa aos países de procedência, soba a forma de lucros das empresas e salários dos consultores, mais de 6.000 milhões de dólares desde 2001.
• 7 milhões de dólares diários de ajuda são gastos no Afeganistão. A despesa militar diária do governo estadunidense é de aproximadamente 100 milhões de dólares.

* Patrick Cockburn é jornalista irlandês, correspondente do The Independent no Oriente Médio.

**Este texto foi originalmente publicado em www.counterpunch.org/patrick05012009.html. Tradução de José Paulo Gascão, retirado de ODiario.info.

Fonte: Revista Forum

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