sexta-feira, 21 de novembro de 2008

O segundo relatório

::

por Luis Nassif


Fausto Macedo e Roberto Almeida, do Estadão, fazem um bom apanhado do novo relatório da Polícia Federal sobre o caso Satiagraha (clique aqui):

Organização criminosa de Dantas faz uso da intimidação', afirma PF

Novo relatório lista crimes contra ordem tributária, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e outros

Fausto Macedo e Roberto Almeida

O novo relatório da Polícia Federal sobre o banqueiro do Opportunity afirma: “Durante o transcorrer das investigações, pudemos perceber que a organização criminosa liderada por Daniel Dantas faz o uso da corrupção e da intimidação para alcançar seus objetivos”.

São 247 páginas que reúnem indícios, esmiúçam as atividades de Dantas e a ele atribuem longa série de violações e delitos contra a União (...)

(...) O documento mostra ligações de Dantas com Marcos Valério, operador do mensalão. A Brasil Telecom (BrT), sob gestão do Opportunity, realizou contratos em valores superiores a R$ 150 milhões com a DNA e a SMP&B, de Valério.

Durante a cobertura do mensalão, o Franklin Martins, na Globo e eu, na Folha, insistimos muito para se apurar a origem dos recursos. Iria dar em Daniel Dantas. Ambos fomos alvos de tentativas de assassinato de reputação por parte de Diogo Mainardi, um dos lobistas de Dantas na imprensa. Os dois ataques que sofri vieram acompanhados de 12 páginas de publicidade da Amazônia Celular na Veja.

(...) A PF aponta, à página 202, “pagamentos indevidos a advogados”. Na 208, o ex-funcionário da BrT Ubirajara Bandeira Barros detalha desvio de recursos. Na 65, revela “atuação e irregularidades” do Opportunity Fund, constituído nas Ilhas Cayman, com cotistas brasileiros.

Esse fato foi denunciado exaustivamente na época pela Teletime. Quem montou a estrutura do Opportunity Fund foi o próprio presidente da CVM da época, Francisco Cantidiano. A denúncia custou um processo ao Teletime, por parte de Cantidiano, e nenhuma repercussão na mídia.

No capítulo 9 do documento, a PF fala da “utilização da corrupção e da intimidação”. Cita dois episódios. O primeiro é a oferta de US$ 1 milhão que Dantas teria feito para corromper um delegado em troca do engavetamento da Satiagraha.

Lembre-se que US$ 500 mil tinham como missão incluir um dos inimigos de Dantas, Luiz Demarco, no inquérito. Não por coincidência, Demarco foi alvo preferencial de Mainardi, no serviço que prestava a Dantas através da Veja.

O segundo caso é a tentativa de intimidação da juíza Marcia Cunha Silva Araújo de Carvalho, da 2ª Vara Empresarial do Rio. “Segundo depoimento da magistrada, após decidir uma questão contra o Opportunity, a mesma passou a sofrer uma série de ameaças e atos de intimidação. Na mesma época, o marido dela também teria sido convidado para trabalhar para o Opportunity com uma remuneração altíssima. Após se declarar suspeita, todas as ameaças e tentativas de intimidação cessaram.”

Esse assassinato foi cometido pela Folha, através da repórter Janaína Leite, que chegou a ser enviada à Itália atrás de documentos do inquérito italiano que, supostamente, envolveram autoridades brasileiras. Incluir o inquérito na Satiagraha fazia parte da estratégia de defesa de Dantas - conforme deixou explícito, depois, o trapalhão do seu advogado, Nélio Machado que, ao escancar na mídia sua estratégia (e não nos autos), desnudou a ação dos seus lobistas. Depois de constatado que o inquérito não serviria à defesa de Dantas, ninguém mais se interessou por ele. Mesmo depois que vazou a informação de que parlamentares da Comissão de Ciências e Tecnologia teriam recebido propina.

A PF sublinha triangulações financeiras para lavagem de dinheiro, como “esquema de ocultação e integração de dinheiro que teria como origem um fundo do Opportunity no exterior e como destino empresa do grupo no Brasil, a Santos Brasil”, com diagrama explicativo.

O novo relatório reedita acusações a Dantas que Protógenes já havia feito. A PF afirma que o Opportunity se utiliza de lobistas e manipula a mídia. Destaca as “ferramentas utilizadas pela organização criminosa” assim: “Com o intuito de alcançar seus objetivos, de se manter no controle das companhias e de fazer negócios que tenham um grande retorno financeiro, o Opportunity utiliza-se de diversas ferramentas, lobistas, manipulação da mídia, prática da corrupção e intimidação”.

“A fim de conseguir seus objetivos a organização criminosa liderada por Daniel Dantas utiliza-se de pessoas influentes, os chamados lobistas, bem como procura manipular notícias e opiniões da imprensa”, acentua o relatório.

A mídia séria deve a si mesma o levantamento dos nomes de jornalistas e publicações que foram corrompidas por Dantas. Inclusive para saber o que foi iniciativa individual, o que foi ação empresarial.

Segundo a PF, “a manipulação de notícias ocorria através de contatos dos membros da organização criminosa com determinados jornalistas que, por motivos diversos, eram simpáticos aos objetivos do Opportunity”.

É necessário apurar os "motivos diversos". Humberto Braz cuidava ao mesmo tempo das verbas publicitárias da Brasil Telecom e da Telemig Celular e dos contatos com jornalistas. Parte do dinheiro fluía através de assessorias de imprensa e possivelmente através das verbas dos escritórios de advocacia. Todos os factóides criados na época - caso da secretária-tradutora, o relatório, as denúncias falsas em torno de pagamento de honorários advocatícios a Marcelo Elias (que atuava contra o Opportunity) - eram repercutidos pelo mesmo grupo de pessoas, dentre as quais se sobressaíam parajornalistas da Veja, especialmente Diogo Mainardi e Reinaldo Azevedo.

Luiz Eduardo Greenhalgh, ex-deputado, fundador do PT, é citado como “possível lobista utilizado pelos criminosos, cuja principal função seria a obtenção de informações de interesse do grupo, a realização de contatos com pessoas importantes, inclusive políticos e integrantes do governo”.

A série "O Caso de Veja" foi escrita bem antes de saber que havia uma investigação em curso para apurar os crimes atribuídos a Daniel Dantas. Foi feita em cima de análises, levantando as peças com tudo aquilo que fugia ao escopo de princípios jornalísticos básicos, até montar o quebra-cabeças final. Foi escrita debaixo de uma campanha difamatória ampla, com direitos a ataques encomendados a seus blogueiros pela Veja, que não pouparam sequer meus familiares, e de uma ofensiva de ações judiciais abertas pela Abril.

Clique aqui para conferir.


Fonte: Blog do Nassif

::


Share/Save/Bookmark

Nenhum comentário: