por Idelber Avelar
O futebol americano trabalha com um conceito de "desrespeito ao adversário" que é exatamente o oposto do nosso futebol. No nosso ludopédio, nenhum time cabeça-de-bagre pode se queixar caso o seu adversário continue atacando e buscando o gol numa partida em que já está vencendo 9 x 0. Respeitar o adversário é seguir tentando marcar o décimo. O desrespeito, claro, seria a embaixadinha no meio-campo (em 1991, o Primeiro Campeão Brasileiro e Único Clube do Planeta a Derrotar a Seleção Tricampeã do Mundo deu uma dessas belas demonstrações de respeito ao adversário, ao continuar buscando gols num jogo contra o Caiçara-PI, que terminou 11 x 0, naquela que é, se não me falha a memória, a maior goleada da história da Copa do Brasil).
Os esportes americanos -- especialmente o basquete e o football -- têm outra compreensão do que é respeito. A expressão run up the score designa esse ato de continuar buscando pontos numa partida que está, por exemplo, 42 x 7. Esse ato pode ser considerado despeitoso caso você continue lançando passes de 30 e 40 jardas e enfiando touchdown atrás de touchdown num jogo em que você já está vencendo por 28 ou 35 pontos. "Respeitar o adversário" aqui seria justamente "fazer a embaixadinha no meio-campo" (usar jogadas que esticam o tempo e não atacam) para deixar o relógio correr.
"Respeito" ao adversário significa, então, coisas opostas no futebol americano e no futebol futebol. Já pararam para pensar nessa curiosa diferença? Max Weber e Jean Baudrillard, para citar dois bichos de espécies bem distintas, teriam muito a dizer sobre a sociologia desse desacordo.
Foi essa a diferença cultural que me ocorreu quando fiquei sabendo que Barack Obama lançou uma barragem de comerciais no estado do Arizona, o quintal de McCain. Certamente a escolha pode ser interpretada como uma tremenda demonstração de arrogância. Mas Barack não tem culpa se a última pesquisa do Arizona mostra uma vantagem de McCain de apenas dois pontos no seu próprio estado.
A série de swing states publicada pelo Biscoito, que já focalizou Ohio, Flórida, Michigan, Virgínia, Carolina do Norte e Pensilvânia, acabou sendo interrompida pela absoluta fúria com que Obama, durante algumas semanas, transformou swing states em estados azuis, e estados vermelhos em swing states. A coluna amarela do Pollster, por exemplo, só lista estados que votaram em Bush em 2004, incluindo-se, holy fuck, Indiana, Geórgia, Montana e Dakota do Norte.
Em todo caso, o blog ficou devendo análises de Colorado, Nevada e Novo México, que são estados que conheço bem menos. Eles foram a outra novidade avalassadora da campanha de Barack, junto com -- esta sim -- a "jogada de gênio" de entender as mudanças demográficas de Virgínia e Carolina do Norte. Quanto a Indiana e Geórgia, meu Deus, eu até os conheço bem, mas nunca imaginei que fossem virar swing states.
É verdade que algumas pesquisas dos últimos três dias mostram ligeiro movimento na direção de McCain. Pela primeira vez em muito tempo há uma pesquisa o coloca na frente em Ohio, Missouri e Carolina do Norte. A batalha para ele, no entanto, é morro acima.
Há muita confusão entre os especialistas para determinar exatamente qual a porcentagem do eleitorado que se aproveitou da possibilidade de votar antecipadamente. Já vi estimativas que colocam esse número na casa do 27%, o que é extraordinário. Tradicionalmente, o voto antecipado favorece os Republicanos, porque a faixa etária nele sobre-representada costuma ser de idosos. Este ano, no entanto, o voto antecipado favorece Obama por mais de 50%.
Apesar de que a Louisiana é estado quase certo para McCain, aqui em New Orleans houve uma monstruosa acometida do eleitorado negro às mesas de registro de eleitores. Além de ter um compromisso importante na terça às 11:30 am (3:30 de Brasília), eu devo gastar umas duas a três horas para votar. A partir das 18:30 de New Orleans, 10:30 da noite em Brasília, no entanto, estarei por aqui.
Ao longo da cobertura, vou prestar bastante atenção a algumas eleições para o Senado também, que determinarão se os Democratas terão ou não uma maioria de 60 x 40, que é a necessária nos EUA para passar legislação sem poder ser incomodado por filibusters. Se você entende inglês falado, essa explicação do incomparável Josh Marshall coloca a coisa em perspectiva. A corrida por uma das vagas de Minnesota no Senado, na qual o comediante Al Franken, Democrata, pode surrupiar o assento do Republicano Norm Coleman, será acompanhada com especial carinho por aqui.
Para relembrar o começo da jornada, aqui vai um comercial que fez história:
A programação do blog para as próximas 72 horas é:
* na Segunda, devo publicar vários posts pequenos, diferentes dos normais por aqui. Uma linha, um comentário, um link.
* na Terça à noite, chegando da cabine de votação, eu inicio uma cobertura em tempo real, para a qual você está convidado. Passe a madrugada de Terça para Quarta comigo -- e com o Pedro Doria -- porque a experiência será memorável.
PS: Se você ainda não leu, dê uma olhada no meu Barack Obama e o possível fim da política do medo.
Fonte: O Biscoito Fino e a Massa
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