quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

"BrOi": 52 PERGUNTAS QUE LULA DEVE FAZER - fonte: http://conversa-afiada.ig.com.br

"BrOi": 52 PERGUNTAS QUE LULA DEVE FAZER

Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 912

. A Teletime News, do respeitado jornalista Rubens Glasberg, acaba de publicar um editorial com o título "Algumas das dúvidas sobre a fusão".

. O Conversa Afiada subscreve as perguntas formuladas por Glasberg e considera que o Presidente Lula deveria, na reunião de hoje com os Ministros Hélio Costa e Dilma Rousseff e com o presidente do BNDES Luciano Coutinho, fazer as mesmas 52 perguntas.

Leia a íntegra do editorial de Glasberg:

Algumas das dúvidas sobre a fusão

Quinta-feira, 31 de Janeiro de 2008, 12h35
A operação para a fusão entre Brasil Telecom e Oi é um evento cercado de informações não-oficiais, de declarações em off e de muitas dúvidas. Quando um ministro finalmente tenta dar uma informação oficial, como fez Hélio Costa, é logo desmentido pelas empresas e repreendido pelo governo. O governo, que por um lado é apontado pela grande imprensa como o grande fomentador do negócio, não se pronunciou. O BNDES, que parece ser o pilar financeiro da operação, não detalha as diretrizes que está seguindo. As empresas confirmam, oficialmente, apenas conversas. Então, para contribuir para o debate, sugerimos uma relação de perguntas a serem feitas às autoridades responsáveis por permitir ou não a fusão, aos fundos de pensão, ao BNDES e aos acionistas das duas empresas. A lista é longa, mas se justifica pela complexidade da operação. Vale lembrar que na tarde desta quinta, 31, o presidente Lula recebe a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, o ministro das Comunicações, Hélio Costa, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, para tirar as dúvidas sobre a operação.

1) Qual o interesse público que pode ser atendido com a fusão entre a Brasil Telecom e a Oi?

Se a resposta for: "Estamos criando uma grande empresa nacional", pergunta-se:

2) Por que uma grande empresa nacional é algo que precisa do apoio do governo para ser criada?

3) O que esta grande empresa nacional fará em benefício do interesse público?

4) Esta grande empresa nacional expandirá sua área de atuação para outros mercados, tornando-se uma multinacional, trazendo divisas para o país?

5) Nesse caso, que oportunidades de negócio existem hoje no mundo para esta empresa?

6) E se esta empresa desistir por qualquer razão de atuar fora do país, o que fará o Estado brasileiro?

7) A empresa nacional ajudará o usuário a ter mais competição? Como? A grande empresa nacional competirá com a Telefônica no Estado de São Paulo e com a Embratel na longa distância?

8) Serão colocadas obrigações específicas a esta grande empresa nacional em relação à universalização dos serviços de banda larga e de telefonia?

9) Se sim, estas obrigações não a tornarão menos competitiva em relação à Telefônica e à Embratel?

10) A Telefônica e a Embratel também serão obrigadas a atuar na área da grande empresa nacional, ampliando a competição?

11) Nesse caso, alguém já perguntou se Telefônica e Embratel aceitam novas obrigações de universalização ou competição?

12) Se, então, a grande empresa nacional será uma forte multinacional e contribuirá para a universalização da banda larga, o que garante que os dois acionistas privados manterão os interesses públicos acima dos interesses privados?

Provavelmente a resposta aqui será: "os fundos de pensão e o BNDES terão acordo de acionistas que garantirão que os interesses públicos estarão acima dos interesses privados".

13) Então quer dizer que cabe aos fundos de pensão a defesa dos interesses públicos do Estado? Mas os fundos de pensão são instrumentos de Estado ou entidades privadas?

14) Os fundos de pensão têm responsabilidades, antes de tudo, com seus cotistas. E se o interesse dos cotistas não for o mesmo dos interesses do Estado?

15) E o que garante que o acordo de acionistas, base de todo o projeto de uma grande empresa nacional, será mantido pelo tempo que perdurar a concessão da grande empresa nacional?

16) Então, uma mudança na presidência do BNDES, ou na gestão dos fundos de pensão, pode levar a uma mudança no acordo de acionistas da grande empresa nacional? Ou ainda, o acordo de acionistas pode ser mudado a qualquer tempo?

17) Então, mudando o acordo de acionistas, os objetivos de uma grande empresa nacional podem ser mudados?

18) E, mudado o acordo de acionistas, a grande empresa nacional pode ser vendida para um grupo estrangeiro?

Se a resposta à pergunta 1 for: "O interesse público por trás da fusão é garantir que Oi e Brasil Telecom tenham condições de competir com Telefônica e Embratel, controladas por multinacionais da Espanha e México, respectivamente", cabe perguntar:

19) Os balanços da Oi e da Brasil Telecom estão ruins?

20) A Telefônica está competindo de maneira agressiva no mercado da Oi e da Brasil Telecom?

21) A Embratel está ameaçando o mercado da Brasil Telecom e da Oi?

22) A Oi e a Brasil Telecom estão tentando competir na área da Telefônica e não estão conseguindo?

Se a resposta à pergunta 1 for: "O interesse público por trás da operação é dar um alternativa de saída para os investimentos dos fundos de pensão e para o Citibank na Brasil Telecom", cabe perguntar:

23) E por que os fundos de pensão e o BNDES optaram por passar de uma posição de controle que têm hoje na Brasil Telecom e na Oi por uma posição minoritária?

24) Os fundos de pensão receberão algum pagamento para deixarem de ser controladores das empresas?

25) Por que o governo deve mudar a legislação para permitir aos fundos de pensão e ao Citibank terem uma opção de saída para seus investimentos?

26) Quem mais será beneficiado pela mudança de legislação para permitir a fusão?

27) Os grupos GP e Opportunity terão benefícios com essa operação de fusão?

28) Alguma parte do que os grupos GP e Opportunity receberão sairá dos recursos dos fundos de pensão ou do BNDES?

29) Se sim, qual o benefício para o BNDES de financiar a operação? Qual o benefício para os fundos de pensão?

30) Para fazer o acordo de fusão, os fundos de pensão precisarão negociar com o Opportunity?

31) Esta negociação significará que alguma ação na Justiça contra Daniel Dantas será retirada?

32) O que os fundos de pensão receberão de Daniel Dantas em troca de um acordo Judicial?

33) De que maneira o interesse público, sobretudo os interesses dos acionistas minoritários da Brasil Telecom, pode prevalecer em um acordo judicial com Daniel Dantas?

34) Quer dizer que as acusações que pesaram contra o Opportunity de fraude, desvio de recursos, enriquecimento ilícito, espionagem, corrupção, podem ser esquecidas em troca de um acordo que viabilize a criação de uma grande empresa nacional?

35) Por que a negociação para a criação de uma grande empresa nacional precisa passar por um acordo com o Opportunity?

36) Por que não processar o Opportunity por tudo o que se pensa que ele fez de errado e, uma vez decidido na Justiça, avaliar o cenário?

Se a resposta à pergunta 1 é: "O interesse público por trás da fusão é a oportunidade de corrigir os eventuais equívocos da privatização e voltar a dar ao Estado e ao capital nacional voz ativa no jogo nacional e internacional das telecomunicações", pergunta-se:

37) Será aproveitada a oportunidade então para corrigir outros pontos que não tiveram sucesso, como impor o compartilhamento de redes para o surgimento de novos competidores?

38) Nesse caso, a grande empresa nacional será obrigada a abrir a sua rede a novas empresas competidoras?

39) A grande empresa nacional terá obrigações de investir em desenvolvimento de tecnologia e pesquisa no Brasil?

40) A nova grande empresa nacional comprará equipamentos brasileiros? Há fabricantes nacionais de equipamentos que possam atender às demandas da grande empresa nacional?

41) Se tiver que investir em pesquisa e comprar equipamentos brasileiros, esta grande empresa nacional será competitiva em relação à Telefônica e Embratel?

42) O modelo atual de telecomunicações foi estabelecido na Lei Geral de Telecomunicações. De que forma o governo estabelecerá uma nova política? Por lei? Decreto? Ato da Anatel?

43) O Congresso, que elaborou o atual modelo, será consultado, já que a Lei Geral de Telecomunicações foi aprovada pelo Congresso?

Se a resposta à pergunta 1 for: "O interesse público está em acomodar vários interesses, já que a Telefônica e a TIM poderão se fundir e a Embratel poderá comprar a Net"

44) Qual o benefício de permitir uma fusão entre Telefônica e TIM?

45) Se é a Lei do Cabo quem impede que a Embratel assuma o controle da Net, o que é que a mudança na legislação para permitir a fusão entre Brasil Telecom e Oi tem a ver com a Lei do Cabo?

46) Por que o governo não exige uma golden share na nova empresa?

47) Por que o governo não estimula a criação de uma grande empresa nacional sem controladores, com capital pulverizado em bolsa?

48) Uma empresa nacional com capital pulverizado, sem controladores, não estaria muito mais blindada contra as variações de interesse de seus acionistas controladores?

49) Para fazer a mudança na legislação e permitir a fusão entre Oi e Brasil Telecom, caberá ao presidente da República a decisão política. A decisão política está tomada ou a sociedade, por meio do Congresso e de consultas públicas, será consultada?

50) A Lei Geral de Telecomunicações estabelece duas diretrizes que norteiam o atual modelo de telecomunicações: universalização e competição. Se a Anatel avaliar que nenhuma destas diretrizes está sendo fomentada com a fusão, a mudança na regulamentação para permitir a operação será feita mesmo assim? Ou o governo estabelecerá novas diretrizes?

51) Se o Cade constatar que existe concentração de mercado com a eventual fusão, o governo voltará atrás em relação à mudança na regulamentação ou o interesse de criar uma grande empresa nacional justifica a concentração?

52) Para avaliar uma eventual mudança no Plano Geral de Outorgas, o Conselho Consultivo da Anatel terá que ser consultado. A Lei Geral de Telecomunicações prevê que o conselho consultivo tenha representantes das prestadoras de serviços de telecomunicações (dois). Quem escolhe estes representantes é o governo. O governo escolherá representantes que não tenham conflito de interesse ao avaliarem uma mudança na regulamentação que permita a fusão? Rubens Glasberg

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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Pena de Morte - por Marcelo Carneiro da Cunha - fonte: http://terramagazine.terra.com.br

Pena de morte, desde que para os outros
Quinta, 24 de janeiro de 2008, 08h03
Marcelo Carneiro da Cunha
Reuters

A pena de morte é inaceitável porque irreversível, diz colunista



Eu vejo o pessoal se inscrevendo na loteria para o Green Card americano, a porta da felicidade e penso que eu nunca, nunca mesmo, iria querer ser cidadão de uma sociedade que, em sua maioria, apóia e deseja a pena de morte aplicada mais e mais, para mostrar a esses mortos-vivos nos corredores da morte que o crime não compensa.

Isso quer dizer que eu nunca iria querer ser cidadão chinês, iraniano, árabe-saudita, iraquiano, ou sudanês. Diferentemente dos demais países nesta lista da barbárie, os Estados Unidos nunca pousaram de bárbaros. Ao contrário - desde sua invenção eles se consideram um farol do Iluminismo, um paradigma de nação construída para ser de todos, por todos, para todos, mesmo quando isso era, evidentemente, tão real quanto uma boa nota de três dólares.

O que traz os americanos para a ilustre companhia entre as nações bárbaras listadas acima, não é o fato de eles terem se barbarizado no caminho para o século 21, mas tragicamente não terem seguido o caminho de todas as outras nações que resolveram, ao longo do século 20, que permitir ao Estado o assassinato civilizado dos seus criminosos - enforcando-os, eletrocutando-os, decapitando-os, envenenando-os - não era assim uma coisa tão civilizada. A vasta maioria das nações, ao menos neste aspecto, se humanizou. Os Estados Unidos, não.

É difícil compreender o que faz um país moderno acreditar na pena de morte. Mais difícil é compreender que este mesmo país não perceba o que este sistema faz com todos, não apenas os condenados. A escravidão era particularmente horrível para com os escravos, nenhuma dúvida quanto a isso. Mas ela contaminava a alma e os corpos de TODOS que eram forçados, com ou sem prazer na relação, a conviver com ela. A pena de morte faz o mesmo com a sociedade onde ela é aceita. Se a pena de morte existe e é aplicada, então todos são carrascos, no mínimo, por permitirem que aconteça.

Eu escrevo estas mal traçadas porque li hoje que os condenados à morte no bravo estado americano do Missouri querem saber os nomes dos seus carrascos. Querem nomes, querem currículos. Isto porque, ao que parece, um jornal revelou que um médico que fazia a mistura de venenos para as execuções (e se presume que este espécime tenha feito o juramento de Hipócrates) era disléxico. A lógica, em toda a sua perversidade, é: se alguém é condenado à morte, e o executor tem a obrigação de tornar esta morte algo humano, no sentido de ausência de crueldade ou dor desnecessária; os condenados devem ter o direito de avaliar a capacitação deste executor de realizar a sua tarefa de maneira competente.

Eu fico apavorado, nauseado, desanimado, paralisado, todos os "ado" que vocês conseguirem adicionar a esta lista, ao pensar em um sistema que deve produzir mortes humanas de forma industrial e humanitária. Isso é simplesmente uma ofensa a mim, ao senhor aqui ao lado, ao universo inteiro, em sua beleza e existência para o nosso bem. Quando os nazistas fizeram isso, foram chamados de nazistas, e eram. O que devemos chamar esta gente que insiste no mesmo conceito, com métodos levemente diferentes, em nossos tempos, em nosso mundo?

Eu, um ser nada cristão, me sinto profundamente ofendido com a idéia de que cristãos convictos se sintam confortáveis em um sistema tão profundamente anti-cristão. Me sinto ofendido com a existência de sádicos que usem a sua condição de médicos ou carrascos para matar outros seres humanos de maneira humana. Me sinto profundamente ofendido com tudo isso, como me sinto ofendido como ser humano ao ver os instrumentos que eram usados para manter os escravos na condição de escravos - e isto tudo há apenas pouco mais de cem anos, um nada na nossa existência como sociedade.

Meu pai, desembargador aposentado, tinha um argumento muito curto e simples para explicar porque a pena de morte era inaceitável. Ele dizia que os erros judiciais acontecem, vão acontecer, têm que acontecer. E que nenhuma sentença, nenhuma, deveria ser irreversível. Porque bastaria um erro, uma vida, para tudo se tornar injustificável.

Eu vou mais longe. Eu sou contra porque a existência da pena de morte ofende a todos nós. E pode ser pior. Num sistema desses qualquer um de nós pode ser a vítima de um erro, especialmente os mais pobres, mais negros, mais fracos, mais violentos, mais visíveis. E basta um erro, um apenas, para o mundo se encerrar para um ser humano. E mesmo quando o ser humano é condenado sem que haja erro, manter todo um sistema desenhado para matá-lo legalmente, é uma aberração que não pode ser aceita por nenhum ser humano que não use um bigodinho esquisito e não odeie a humanidade como um certo tipinho nascido na Áustria, tão exemplarmente, soube fazer.


Marcelo Carneiro da Cunha é escritor e jornalista. Escreveu o argumento do curta-metragem "O Branco", premiado em Berlim e outros importantes festivais. Entre outros, publicou o livro de contos "Simples" e o romance "O Nosso Juiz", pela editora Record. Acaba de escrever o romance "Depois do Sexo", que será publicado em setembro pela Record. Dois longas-metragens estão sendo produzidos a partir de seus romances "Insônia" e "Antes que o Mundo Acabe".

Fale com Marcelo Carneiro da Cunha: marceloccunha@terra.com.br
http://terramagazine.terra.com.br


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domingo, 20 de janeiro de 2008

FUD e o Carro-Elétrico - fonte: http://www.tiagoluchini.eu

FUD e o Carro-Elétrico

posted in Business |

FUD é acronismo de Fear, Uncertainty and Doubt (Medo, Incerteza e Dúvida). O FUD representa uma estratégia de vendas ou marketing onde se dissemina informações negativas e/ou vagas sobre produtos e serviços dos seus competidores na tentativa de espalhar medo, incerteza e dúvida na mente dos potenciais clientes.

Embora o termo tenha sido inicialmente utilizado no setor de tecnologia (tanto hardware quanto software) a prática é bastante antiga e atinge não só os setores produtivos como também a própria política e inclusive a religião.

Políticos utilizam do FUD em suas campanhas, por exemplo, demonstrando como os concorrentes são desconhecidos, incertos, dúbios e enfatizando que suas eventuais vitórias poderão trazer situações inesperadas ou realmente ameaçadoras. “Se Fulano ganhar, a inflação vai aumentar” é um tipo de informação altamente aderente ao FUD.

A campanha presidencial Brasileira em 1989 com Lula-lá versus Collor foi um exemplo clássico desta estratégia. Os Collorados disseminaram arduamente e com o aval da mídia que Lula era intoleravelmente duvidoso e que poderia inclusive instaurar uma tenebrosa conspiração comunista no país. Medo, incerteza e dúvida andando juntos.

O recém lançado filme Who Killed the Electric Car? (Quem Matou o Carro Elétrico?) conta a história do FUD realizado pelo cartél das empresas petrolíferas juntamente com montadoras e governo para evitar que os carros-elétricos se popularizassem.

Enquanto os carros-elétricos já poderiam ter substituído a nossa altamente poluente frota de veículos, montadoras e petrolíferas investem na propagação da idéia que carros-elétricos são ineficientes, pequenos, ruins e - pasmem - inclusive poluentes!

A prova mais contundente do FUD vista no filme é quando a GM resolve contactar seus potenciais clientes de carros-elétricos (aparentemente 4.000) e explicar detalhadamente todos os pontos negativos do conceito elétrico. Os clientes potenciais, no fim dessa triagem, caem obviamente para 50.

O filme mostra a GM recolhendo e destruindo sua frota novinha e altamente bem-sucedida do modelo EV1 na Califórnia enquanto seus donos lutam em vão para manter os simpáticos carros em suas garagens. A única unidade restante foi totalmente desativada pela GM e enviada para um museu.

É de cortar o coração.

Importante ressaltar que o FUD é normalmente utilizado para disseminar conceitos negativos em prol de interesses próprios. Desta feita, não é incomum que os conceitos disseminados sejam incorretos mas isso não é obrigatório: em determinados casos os pontos negativos de um concorrente são apenas ressaltados.


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Quem Matou o Carro Elétrico? Documentário Excelente!

Quem Matou o Carro Elétrico?
(Who Killed the Electric Car?)



Em 1996 ele surgiu nas estradas da Califórnia. Era o carro mais rápido e mais eficiente já construído. Funcionava à eletricidade, não emitia poluentes e colocou a tecnologia americana no topo da indústria automotiva. Mas muita gente grande ficou realmente incomodada e esses carros foram destruídos. Especialistas, consumidores, ambientalistas, políticos, diretores envolvidos e até estrelas de cinema deram suas versões. Quem Matou o Carro Elétrico? é a verdadeira autópsia que revela os culpados deste crime contra a humanidade e a tecnologia.
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quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

O paradoxo andante - por Eduardo Galeano

O paradoxo andante

por Eduardo Galeano

Cada dia, ao ler os diários, assisto a uma aula de história. Os diários ensinam-me pelo que dizem e pelo que calam. A história é um paradoxo andante. A contradição move-lhe as pernas. Talvez por isso os seus silêncios dizem mais que suas palavras e muitas vezes as suas palavras revelam, mentindo, a verdade.

Dentro em breve será publicado um livro meu chamado Espejos. É algo assim como uma história universal, e desculpem o atrevimento. "Posso resistir a tudo, menos à tentação", dizia Oscar Wilde, e confesso que sucumbi à tentação de contar alguns episódios da aventura humana no mundo do ponto de vista dos que não saíram na foto. Pode-se dizer que não se trata de fatos muito conhecidos. Aqui resumo alguns, apenas uns poucos.

Quando foram desalojados do Paraíso, Adão e Eva mudaram-se para África, não para Paris.

Algum tempo depois, quando seus filhos já se haviam lançado pelos caminhos do mundo, foi inventada a escrita. No Iraque, não no Texas.

Também a álgebra foi inventada no Iraque. Foi fundada por Mohamed al Jwarizmi , há mil e duzentos anos, e as palavras algoritmo e algarismo derivam do seu nome.

Os nomes costumam não coincidir com o que nomeiam. No British Museum, por exemplo, as esculturas do Partenon chamam-se "mármores de Elgin", mas são mármores de Fídias. Elgin era o nome do inglês que as vendeu ao museu.

As três novidades que tornaram possível o Renascimento europeu, a bússola, a pólvora e a imprensa, haviam sido inventadas pelos chineses, que também inventaram quase tudo o que a Europa reinventou.

Os hindus souberam antes de todos que a Terra era redonda e os maias haviam criado o calendário mais exato de todos os tempos.

Em 1493, o Vaticano presenteou a América à Espanha e obsequiou a África negra a Portugal, "para que as nações bárbaras sejam reduzidas à fé católica". Naquele tempo a América tinha quinze vezes mais habitantes que a Espanha e a África negra cem vezes mais que Portugal. Tal como havia mandado o Papa, as nações bárbaras foram reduzidas. E muito.

Tenochtitlán, o centro do império azteca, era de água. Hernán Cortés demoliu a cidade pedra por pedra e, com os escombros, tapou os canais por onde navegavam duzentas mil canoas. Esta foi a primeira guerra da água na América. Agora Tenochtitlán chama-se México DF. Por onde corria a agua, agora correm os automóveis.

O monumento mais alto da Argentina foi erguido em homenagem ao general Roca, que no século XIX exterminou os índios da Patagônia.

A avenida mais longa do Uruguai tem o nome do general Rivera, que no século XIX exterminou os últimos índios charruas.

John Locke, o filósofo da liberdade, era acionista da Royal Africa Company , que comprava e vendia escravos.

No momento em que nascia o século XVIII, o primeiro dos bourbons, Felipe V, estreou o seu trono assinando um contrato com o seu primo, o rei da França, para que a Compagnie de Guinée vendesse negros na América. Cada monarca ficava com 25 por cento dos lucros.

Nomes de alguns navios negreiros: Voltaire, Rousseau, Jesus, Esperança, Igualdade, Amizade.

Dois dos Pais Fundadores dos Estados Unidos desvaneceram-se na névoa da história oficial. Ninguém se recorda de Robert Carter nem de Gouverner Morris . A amnésia recompensou os seus atos. Carter foi a única personalidade eminente da independência que libertou seus escravos. Morris, redator da Constituição, opôs-se à cláusula estabelecendo que um escravo equivalia às três quintas partes de uma pessoa.

"O nascimento de uma nação" , a primeira super-produção de Hollywood, foi estreado em 1915, na Casa Branca. O presidente, Woodrow Wilson, aplaudiu-a de pé. Ele era o autor dos textos do filme, um hino racista de louvação à Ku Klux Klan.

Algumas datas: Desde o ano 1234, e durante os sete séculos seguintes, a Igreja Católica proibiu que as mulheres cantassem nos templos. As suas vozes eram impuras, devido àquele caso da Eva e do pecado original.

No ano de 1783, o rei da Espanha decretou que não eram desonrosos os trabalhos manuais, os chamados "ofícios vis", que até então implicavam a perda da fidalguia.

Até o ano de 1986 foi legal o castigo das crianças, nas escolas da Inglaterra, com correias, varas e porretes.

Em nome da liberdade, da igualdade e da fraternidade, em 1793 a Revolução Francesa proclamou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.


A militante revolucionária Olympia de Gouges propôe então a Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã . A guilhotina cortou-lhe a cabeça.

Meio século depois, outro governo revolucionário, durante a Primeira Comuna de Paris, proclamou o sufrágio universal. Ao mesmo tempo, negou o direito de voto às mulheres, por unanimidade menos um: 899 votos conta, um a favor.

A imperatriz cristã Teodora nunca disse ser uma revolucionária, nem nada que se parecesse. Mas há mil e quinhentos anos o império bizantino foi, graças a ela, o primeiro lugar do mundo onde o aborto e o divórcio foram direitos das mulheres.

O general
Ulisses Grant , vencedor da guerra do Norte industrial contra o Sul escravocrata, foi a seguir presidente dos Estados Unidos. Em 1875, respondendo às pressões britânicas, respondeu: –Dentro de duzentos anos, quando tivermos obtido do protecionismo tudo o que ele nos pode proporcionar, também nós adotaremos a liberdade de comércio. Assim, pois, nos de 2075, o país mais protecionista do mundo adotará a liberdade de comércio.

"Botinzito" foi o primeiro cão pequinês que chegou à Europa. Viajou para Londres em 1860. Os ingleses batizaram-no assim porque era parte do botim extorquido à China no fim das longas
guerras do ópio . Vitória, a rainha narcotraficante, havia imposto o ópio a tiros de canhão.
A China foi convertida num país de drogados, em nome da liberdade, a liberdade de comércio.

Em nome da liberdade, a liberdade de comércio, o Paraguai foi aniquilado em 1870. Ao cabo de uma guerra de cinco anos, este país, o único das Américas que não devia um centavo a ninguém, inaugurou a sua dívida externa. Às suas ruínas fumegantes chegou, vindo de Londres, o primeiro empréstimo. Foi destinado a pagar uma enorme indenização ao Brasil, Argentina e Uruguai. O país assassinado pagou aos países assassinos, pelo trabalho que haviam tido a assassiná-lo.

O Haiti também pagou uma enorme indenização. Desde que, em 1804, conquistou a sua independência, a nova nação arrasada teve que pagar à França uma fortuna, durante um século e meio, para espiar o pecado da sua liberdade.

As grandes empresas têm direitos humanos nos Estados Unidos. Em 1886, a Suprema Corte de Justiça estendeu o direitos humanos às corporações privadas, e assim continua a ser. Poucos anos depois, em defesa dos direitos humanos das suas empresas, os Estados Unidos invadiram dez países, em diversos mares do mundo.


Mark Twain, dirigente da Liga Antiimperialista, propôs então uma nova bandeira, com caveirinhas em lugar de estrelas. E outro escritor, Ambroce Bierce, confirmou: –A guerra é o caminho escolhido por Deus para nos ensinar geografia.

Os campos de concentração nasceram na África. Os ingleses iniciaram o experimento, e os alemães desenvolveram-no. Depois disso Hermann Göring aplicou na Alemanha o modelo que o seu papa havia ensaiado, em 1904, na Namíbia. Os professores de Joseph Mengele haviam estudado, no campo de concentração da Namíbia, a anatomia das raças inferiores. As cobaias eram todas negras.

Em 1936, o Comitê Olímpico Internacional não tolerava insolências. Nas Olimpíadas de 1936, organizadas por Hitler, a seleção de futebol do Peru derrotou por 4 a 2 a seleção da Áustria, o país natal do Führer. O Comitê Olímpico anulou a partida.

A Hitler não lhe faltaram amigos. A Rockefeller Foundation financiou investigações raciais e racistas da medicina nazi. A Coca-Cola inventou a Fanta, em plena guerra, para o mercado alemão. A IBM tornou possível a identificação e classificação dos judeus, e essa foi a primeira façanha em grande escala do sistema de cartões perfurados. (...)

O original encontra-se em http://www.pagina12.com.ar/diario/sociedad/3-96843-2007-12-30.html Este excerto encontra-se em http://resistir.info/
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