quinta-feira, 27 de novembro de 2008

SC - O retrato da tragédia

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Por Luciano Martins Costa

A imagem de um trecho de Mata Atlântica que deslizou de um barranco e se plantou sobre o asfalto de uma estrada, fartamente distribuída pelo noticiário, poderia inspirar os editores a enriquecer o material sobre a catástrofe no Sul do Brasil com algumas lições básicas de ecologia.

Há cerca de 25 anos, as águas subiram 15 metros em Blumenau, quatro a mais do que na enchente deste ano. Foi a maior enchente até então, e a região ficou isolada por vários dias. No entanto, os danos naquela época foram menores.

Os jornais de quinta-feira (27/11) finalmente se dão conta de que as mudanças climáticas, os desmatamentos e a má qualidade do planejamento urbano podem ter se somado para a conta final da tragédia.

O Estado de S.Paulo publica um quadro no qual procura ilustrar a combinação de fenômenos que provocou a permanência das chuvas torrenciais na região. Um detalhe da ilustração informa que a temperatura do oceano está 1 grau mais elevada do que no ano passado, o que potencializou a evaporação da água do mar e alimentou as chuvas. O jornal paulista também destaca as ações de solidariedade, alertando para o fato de que a comida disponível nas filas de emergência era insuficiente para todos os desabrigados.

O Globo preferiu fazer a radiografia da ajuda financeira liberada pelo governo federal, dizendo que a verba de socorro chega a 1 bilhão de reais, enquanto os outros jornais calculam em 1,6 bilhão de reais.

A Folha de S.Paulo deu mais atenção do que os outros jornais ao fenômeno dos saques. Destaque para a história do operário Humberto Domingos de Paula, que saqueou uma loja em Itajaí, Santa Catarina, e foi surpreendido com um carrinho carregado de mercadorias avaliadas em 3 mil reais. Sua casa não havia sido atingida pela enchente. Estava apenas "aproveitando a onda" para obter algumas mercadorias que não pode comprar.

Em outra reportagem, o jornal conta que moradores de bairros pobres fazem plantão em suas casas alagadas para evitar que vizinhos roubem seus pertences.

A crônica das enchentes revela a implacabilidade da natureza, a imprevidência das autoridades e a solidariedade de muitos – mas não ignora a miséria humana.

Fonte: Observatório da Imprensa

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