segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Matando a pau no Iraque

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Making a Killing in Iraq

por Nikolas Kozloff

Não é segredo que John McCain é amigo antigo da indústria de telecomunicações. De fato, o senador do Arizona tem importantes ligações históricas com grandes corporações como a AT&T, MCI e Qualcomm. Dando retorno pelas contribuições financeiras, McCain, que monitora parcialmente a indústria da telecomunicação no Senado, agiu para proteger e ficar de olho nos interesses políticos e econômicos das telecoms no Congresso.

Essas conexões são bem conhecidas, mas poucos pararam para olhar como elas se encaixam no quebra-cabeças do Iraque. Antes da guerra McCain era um dos maiores apoiadores da invasão. Embora não esteja claro se as telecoms fizeram lobby junto a ele nesse sentido, com certeza elas se beneficiaram da ocupação subseqüente.

Para se ter uma idéia da grandeza destas relações incestuosas de McCain com as telecom basta dar uma olhada no site do Center for Responsive Politics. No ano eleitoral de 1998 a AT&T deu 34 mil dólares a McCain; no ano de 2000, 69 mil dólares; em 2002, 61 mil; em 2004, 39 mil; em 2006, 29 mil e em 2008, 187 mil. Ao longo da carreira de McCain a AT&T é a segunda corporação que mais contribuiu com ele.

Além disso, a AT&T doou muito para o Instituto Internacional Republicano (IRI), uma organização público-privada que defende a agenda da extrema-direita no Iraque e em outros países. Em 2006 a companhia deu 200 mil dólares ao IRI. O porta-voz da AT&T, Michael Balmoris, se negou a explicar o motivo que levou a empresa a assinar esse cheque. "A AT&T contribui com várias organizações de caridade", ele disse. Se todo esse dinheiro não foi suficiente para garantir o apoio do senador do Arizona, a AT&T também pôde contar com um exército de lobistas agora aliado da campanha de McCain. Tomemos como exemplo o assessor Charlie Black, cuja firma BKSH representou a AT&T na última década.

E há o Mark Buse, chefe de gabinete de McCain, que trabalhou como lobista para a AT&T Wireless de 2002 a 2005. Outras companhias do setor, como a MCI e a Qualcomm, também tiveram um papel na carreira do senador. Consideremos Tom Loeffler, co-presidente da campanha de McCain e ex-deputado do Texas. Loeffler, através de sua firma Loeffler Group, representa a Qualcomm desde 1999. Somando tudo, empregados, esposas e comitês de ação política ligados à Qualcomm deram milhares de dólares para a campanha de McCain. Enquanto isso, Kirck Blalock, que levantou dinheiro para a campanha de McCain, fez lobby da MCI de 2002 a 2005 através de sua empresa, Fierce, Blalock e Isakowitz.

Embora McCain rotineiramente critique a influência de "lobistas de interesses especiais", suas ligações com lobistas das telecom enfraquecem esse discurso. Dos 66 lobistas ou ex-lobistas que trabalham para o senador do Arizona ou arrecadam dinheiro para a campanha dele, 23 fizeram lobby para empresas de telecomunicação na última década.

McCain é integrante do Comitê de Comércio do Senado, que monitora a indústria de telecomunicações e a Federal Communications Comission (FCC). O senador do Arizona já apoiou legislação proposta pela indústria. A tentativa dele de eliminar impostos e regulamentos mereceu elogios de executivos do setor. No final dos anos 90, o senador do Arizona escreveu à FCC pedindo à agência que considerasse a idéia de permitir a entrada da AT&T e MCI no mercado de telefonia interurbana. Quatro meses depois a AT&T deu um cheque de U$25.800 à campanha de McCain.

Como se isso não bastasse, assessores de alto escalão de McCain, como Charlie Black, fizeram lobby secreto do Congresso para aprovar uma medida que eliminou qualquer processo de indenização contra as telecoms por terem dado apoio a programas clandestinos de monitoramento dos serviços de inteligência do governo dos Estados Unidos. McCain foi um dos apoiadores da imunidade, afirmando numa declaração à revista National Reviem que "nem o governo nem as telecoms precisam pedir desculpas por suas ações que a maior parte das pessoas, descontando a ACLU [OAB americana] e advogados, acredita que foram constitucionais e apropriadas". McCain votou a favor da imunidade para a AT&T e outras telecoms exatamente no momento em que seu assessor Black levava dinheiro da AT&T para influenciar o Congresso.

MATANDO A PAU NO IRAQUE

Enquanto McCain fazia lobby para a indústria das telecom nos anos 90, também trabalhava pela guerra no Oriente Médio. McCain serviu como co-presidente do Comitê para a Libertação do Iraque, um grupo que buscava apoio no governo e na opinião pública para a invasão do Iraque depois dos atentados de 11 de setembro.

Depois da invasão, as telecoms correram atrás de um pedaço da ação assim que o Iraque abriu para negócios. A gigante dos celulares Qualcomm exerceu influência política no Pentágono, que por sua vez pressionou a Autoridade Provisória da Coalizão para mudar um contrato envolvendo os rádios da polícia do Iraque em favor de tecnologia de celular patenteada pela Qualcomm. Além disso, o Pentágono contratou a MCI -- a ex-World Com, que havia declarado falência depois do escândalo de contabilidade em julho de 2002 -- para construir uma pequena rede de telefones sem fio no Iraque. Furioso, o senador Ted Kennedy pediu a agências federais que deixassem de fazer negócios com a falida MCI e explicou que a fraude de 9 bilhões de dólares deveria desqüalificar a empresa na disputa de contratos lucrativos do governo.

Kennedy estava certo de suspeitar. Depois que o governo provisório do Iraque deu telefones da MCI ao pessoal do governo americano que morava e trabalhava na Zona Verde de Bagdá, problemas surgiram. Alguns telefones celulares receberam contas mensais de até 10 mil dólares. Os indivíduos nunca receberam as contas e ficaram com a impressão de que as chamadas, que custavam 1 dólar e 25 centavos por minuto, eram de graça. O Departamento de Estado decidiu cortar as linhas.

A AT&T, segunda maior patrocinadora corporativa de McCain, também se envolveu em controvérsia. Depois da invasão, a gigante das teles recebeu um contrato exclusivo para dar cartões de telefonia para militares americanos estacionados no Iraque. Mas os soldados passaram a reclamar dos preços exorbitantes.

De acordo com o jornal Newark Star Ledger, muitos cartões da AT&T comprados nos Estados Unidos e enviados para o Iraque só permitiam uma fração dos minutos prometidos. Mesmo os cartões comprados no Iraque, que um porta-voz da AT&T disse serem mais vantajosos para os soldados, custavam de 19 a 21 centavos por minuto de chamada.

O deputado Frank Pallone, de Nova Jersey, se disse preocupado com a roubalheira. "A AT&T deveria deveria ter um sistema de chamadas transparente e que facilitasse as ligações dos soldados", disse ele. "Fico chateado ao pensar que existem companhias mais interessadas em faturar uma grana com os soldados do Iraque do que em dar a eles um serviço de qualidade, pelo qual pagaram".

Pode ser dito que as telecoms "have been making a killing" no Iraque, com lucros de guerra alimentados pelo antigo aliado, John McCain.

Nikolas Kozloff é autor de Revolution: South America and the Rise of the New Left (Palgrave-Macmillan, 2008)

Fonte: Vi o Mundo

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