por Rui Martins, no Direto da Redação
foto: senador Romeu Tuma
Berna (Suiça) - Dizem as Escrituras que nada ficará todo tempo encoberto e que mais ou menos dias, tudo virá a público. O segredo, a impunidade, a manipulação geralmente têm um dia em que acabam e são descobertos.
Em 2001, num bate-boca no Senado, o senador Jader Barbalho, teve a seguinte explosão verbal com o também senador Romeu Tuma- "Não sei quem irá nos julgar: Deus ou o Diabo. E vossa Excelência vai ter que prestar conta lá pelo presente ou pelo passado. E pode estar perto. A palidez de vossa excelência está indicando que é em breve isso".
Essa frase agourenta e profética ficou registrada no jornal paulista Folha de São Paulo, pois Romeu Tuma, é senador por São Paulo. E, enfim, se realizou, mas não caberá ainda a Deus ou o Diabo julgar Romeu Tuma, porém um homem mais rigoroso que o inspetor Javert dos Miseráveis, de Vitor Hugo, o juiz Balthazar Garzon.
Garzon, o juiz sombra que acabou com a velhice tranquila de um criminoso, o general Augusto Pinochet. Garzon é pior que Deus, porque não tem misericórdia, e que o Diabo, porque aplica aqui na vida terrena do condenado a pena do Inferno. Não precisam as almas dos mortos, assassinados depois de torturados, virem assombrar os que viveram tranquilos, como bons pais e avós de famílias, depois de tantos crimes cometidos sob sua responsabilidade.
Não, Garzon, não deixa a punição para Deus ou o Diabo, que afinal podem não existir. Ele quer o castigo nesta nossa terrinha, aquele castigo que consiste em destruir a hipocrisia de uma vida respeitável. Nem todos os assassinos terminam atrás da grades, já velhos ou doentes, podem mesmo se beneficiar de uma tolerância, que não tiveram com suas vítimas.
O supremo castigo é o opróbio, palavra complicada que significa a vergonha a que se submete o bandido diante do povo, depois de revelado seu crime. É uma espécie de pelourinho virtual. Uma vergonha seguida de rejeição. É o Inferno ardente, no qual o juiz Garzon costuma jogar seus condenados.
Antes de Garzon, Pinochet era citado como ditador chileno nas enciclopédias; depois de Garzon, Pinochet entra para a História como ditador assassino. O castigo que não vem a cavalo é pior que uma pena de morte.
Filinto Mueler, por exemplo, mão pesada da ditadura de Vargas, era o como o Fleury do DOPS durante a ditadura militar brasileira. Acabou conhecido pela nova geração como o autor indireto do assassinato de Olga, a mulher de Prestes. Escapou de qualquer castigo humano, ficou para Deus ou o Diabo decidirem, mesmo se morreu carbonizado no único acidente da Varig na rota Paris, em chamas ao aterrissar.
Eu daria o premio Petrobrás (nunca fui muito com a Esso Standard Oil) de reportagem aos jornalistas da Folha que descobriram a família do espanhol Miguel Sabat Nuet, assassinado no Dops, em outubro de 1973. E 35 anos depois ressurgem os ossos e o fantasma de uma das tantas vítimas da repressão brasileira.
Esta na hora de se ler o livro do jornalista Percival de Souza, Autópsia do Medo, meu colega na Major Quedinho, no Estadão e JT, antes de minha partida para o exílio. Percival compara Tuma a Fleury. E meu professor de Direito na UPS, Gofredo da Silva Telles, falou assim para a Folha, em outubro de 2000:
Romeu Tuma assinava documentos comprometedores. Os papeis avalizariam versões policiais de que presos mortos sob tortura haviam de suicidado.
O espanhol Miguel Sabat Nuet praticamente ressuscitou da vala no cemitério de Perus, onde tinha sido lançado entre indigentes e outras vítimas da ditadura, para pedir Justiça. E, sem dúvida, Garzon e a Espanha farão a justiça, esperada há tanto tempo por tantos perseguidos, confirmando a praga lançada por Jader Barbalho, no Senado há 7 anos.
Fonte: Vi o Mundo
::
Nenhum comentário:
Postar um comentário