sábado, 18 de outubro de 2008

Um apelo ao bom senso

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EDITORIAL

É lamentável o comportamento desequilibrado do governador José Serra nas manifestações emitidas de dentro do Palácio, durante o conflito de ontem em São Paulo. Num momento em que se espera da autoridade maior do Estado a capacidade de erguer pontes de reconciliação, o governador esqueceu o principal e privilegiou o secundário. Apequena-se a autoridade pública nessa inversão.

1. Carta Maior lamenta que uma negociação salarial, processo que deveria ser conduzido em ambiente democrático de diálogo e tolerância, tenha transbordado para um enfrentamento capaz de colocar em risco a segurança da população de São Paulo.

2. Carta Maior defende a livre organização sindical de todos os trabalhadores e o direito de policiais, bem como dos militares, a um salário justo, que assegure a dignidade de suas famílias e eleve a qualidade dos serviços que prestam à sociedade.

3. Carta Maior considera inaceitável, porém, que funcionários públicos de um setor estratégico, como o da segurança, utilizem equipamentos de serviço – no caso, armas, bombas, coletes, viaturas — em manifestações pela defesa de seus direitos legítimos e democráticos;

4. A luta por melhores condições de vida deve ser travada no campo político e não pela violência.

5. Assim como os que hoje portam armas de propriedade pública defendem reivindicações justas, amanhã outros poderão se valer dos mesmos recursos para ameaçar o Estado de Direito, agredir a população, impor-se à sociedade pela força e com a supressão dos direitos democráticos.

6. Cabe também repudiar vigorosamente o comportamento desequilibrado do governador José Serra nas manifestações emitidas de dentro do Palácio, durante o conflito de ontem em São Paulo.

7. Num momento em que se espera da autoridade maior do Estado a capacidade de erguer pontes de reconciliação, o governador esqueceu o principal e privilegiou o secundário. Apequena-se a autoridade pública nessa inversão.

8. Preocupou-se Serra, em primeiro lugar, em colocar sua voz a serviço de acusações politiqueiras, claramente utilizadas como biombo eleitoral para ocultar a flagrante inabilidade política de seu governo, ao permitir que uma negociação salarial transbordasse em guerra aberta entre forças policiais armadas, nas ruas da maior cidade do país.

9. Um conflito dessa gravidade não pode ser utilizado para acirrar disputas políticas menores. O governador veio a público lutar a guerra do dia anterior - a da eleição municipal. Ou, quem sabe, exercitar a pontaria na guerra do futuro, a da sua candidatura presidencial em 2010.

10. Esqueceu-se o governador Serra de sua responsabilidade, diante de policiais em conflito armado nas ruas de São Paulo, sem medir as conseqüências desse embate para a rotina de uma população que a tudo assiste consternada e apreensiva, à espera de um gesto de apaziguamento.

11. A exemplo do que se fez nas eleições presidenciais de 1989, quando sob a orientação do governador de São Paulo, Antonio Fleury, seqüestradores do empresário Abílio Diniz foram fotografados pela imprensa vestidos estrategicamente com camisetas do PT, Serra agora reedita o passado, de olho no futuro, sem enxergar o presente.

12. O governador veste a jaqueta do autoritarismo anti-sindical e acusa o PT , a CUT e a Força Sindical como responsáveis por uma conflagração armada que não encontrou em seu governo um ponto de apoio para o entendimento e a conciliação.

13. Carta Maior apela às lideranças e personalidades democráticas de São Paulo, de todos os partidos, para que dirijam ao Governo do Estado um chamamento à Razão; para que não falte nesse momento o que nunca pode faltar a um homem público: grandeza diante da adversidades e humildade para fazer o gesto que reaproxima, desarma e pavimenta o caminho do entendimento entre as forças policiais de São Paulo.

Fonte: Agência Carta Maior

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