sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Imprensa sem rumo na guerra do dia-a-dia

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Por Carlos Castilho

A batalha campal entre policiais militares e policiais civis em São Paulo, na quinta-feira (16/10), foi tratada pelos principais telejornais do país apenas pelo lado factual. Nem a Bandeirantes e nem a Globo ousaram ir um centímetro além do que todos estavam vendo num episódio que aumentou a sensação de orfandade da população em matéria de segurança pública.

Nenhuma das emissoras procurou contextualizar minimamente os fatos para dar aos seus respectivos públicos condições básicas para entender o que aconteceu. Foi um exemplo de jornalismo de observação asséptica, em que o máximo que o telespectador conseguiu foi conhecer a opinião óbvia do governador José Serra ("foi uma ação eleitoreira da CUT") e as explicações enigmáticas de um dos líderes dos grevistas na polícia civil ("fomos atacados injustificadamente").

O tiroteio e a pancadaria, em São Paulo, entre os agentes da lei e da ordem aconteceu na mesma semana em que os telejornais mostraram cenas de guerra no centro do Rio, com policiais militares atirando a esmo no meio da população. Particularmente chocante foi a cena de um PM carioca, cercado por transeuntes, disparar mais de 20 vezes o seu fuzil automático contra um alvo indefinido, supostamente localizado no alto de um morro a centenas de metros de distância.

Alternativa criativa

Tanto um episódio como o outro, independente de suas motivações e objetivos, mostrou que as forças de segurança deste país se desorientaram na guerra contra o crime organizado e perderam a noção de que seu objetivo é proteger a população. O transeunte passa a ser um estorvo na guerra particular entre policiais e bandidos – na qual, ao que tudo indica, a segurança pública tornou-se um mero pretexto.

Numa conjuntura como esta, a imprensa tem a obrigação de ir além daquilo que todos estamos vendo na tela da TV ou nas fotografias. É preciso buscar o contexto dessa crise por que, senão, para que serve a imprensa? A população está perdida no meio desta guerra e o único recurso que ela tem para reverter o quadro é a informação contextualizada.

Notícias nós já temos aos montes com todos os flashes informativos, helicópteros, unidades móveis, câmeras ocultas, grampos etc., etc. Falta a informação que nos permita identificar os significados das ações que estamos assistindo para, a partir daí, tirar conclusões e definir ações.

Se a imprensa não conseguir cumprir esta missão, muito provavelmente ela será atropelada pelos blogs, porque a criatividade individual acabará encontrando uma alternativa para a busca de informações.

Fonte: Observatório da Imprensa

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